Um Debate Sobre Impacto Ambiental e Sustentabilidade
No âmbito da política internacional ambiental, surge uma questão que divide opiniões: qual modelo político gera maior impacto ambiental? As políticas associadas ao capitalismo ou aquelas vinculadas ao socialismo? Ambos os sistemas têm sido alvo de críticas. Contudo, o capitalismo é frequentemente acusado de promover a exploração desmedida de recursos naturais para sustentar um crescimento econômico contínuo. Já o socialismo enfrenta críticas por, em alguns contextos, apresentar estruturas centralizadas. Essas estruturas podem carecer de incentivos eficazes para promover uma gestão ambiental eficiente e sustentável. Então, neste artigo vamos analisar Capitalismo vs. socialismo no âmbito ambiental.
As críticas as duas ideologias
Com relação ao socialismo, seus críticos afirmam que a propriedade estatal ou coletiva dos recursos naturais e dos meios de produção pode diluir a responsabilidade individual ou empresarial no uso sustentável desses recursos.
Por outro lado, os críticos do capitalismo argumentam que, ao priorizar a maximização dos lucros, este sistema fomenta a exploração intensiva dos recursos naturais. O intuito é manter um crescimento econômico constante e ilimitado. Na ausência de um controle estatal efetivo, os responsáveis pelos danos ambientais muitas vezes transferem os custos econômicos, sociais e ecológicos às comunidades mais vulneráveis, sem assumir plenamente sua responsabilidade.
Os impactos ambientais negativos
Inspirando-nos nas reflexões de Yuval Harari, o estudo da história revela que praticamente qualquer situação social atual encontra precedentes em eventos semelhantes do passado, independentemente da ideologia ou da cultura das sociedades envolvidas. Assim, tanto o capitalismo quanto o socialismo demonstraram, em diferentes contextos, sua capacidade de causar sérios danos ao meio ambiente.
Nas políticas socialistas/comunistas
Entre os exemplos mais marcantes de degradação ambiental sob políticas socialistas/comunistas, podemos citar:
• O secamento do Mar de Aral (União Soviética): Em seu auge, o Mar de Aral era o quarto maior lago do mundo, mas perdeu mais de 90% de sua superfície devido ao desvio massivo dos rios que o alimentavam para projetos de irrigação. Essas iniciativas, impulsionadas por políticas socialistas da União Soviética, buscavam promover a autossuficiência econômica e gerar empregos por meio da produção intensiva de algodão. No entanto, essas prioridades econômicas ignoraram os impactos ecológicos e sociais, resultando em uma das maiores catástrofes ambientais do século XX.
• Campanha das ‘Quatro Pragas’ (China): Sob a liderança de Mao Zedong, entre 1958 e 1962, foi implementada uma campanha para erradicar ratos, moscas, mosquitos e pardais (conhecidas como “as quatro pragas”), com o objetivo de melhorar a saúde pública e aumentar a produção agrícola. Os pardais, considerados pragas por se alimentarem de grãos, foram quase exterminados, desestabilizando os ecossistemas. Como consequência, a drástica redução da população dessas aves provocou uma proliferação descontrolada de insetos, como os gafanhotos, que devastaram as plantações. Esse grave desequilíbrio ecológico foi um dos fatores que contribuiu indiretamente para a Grande Fome Chinesa (1959-1961), resultando na morte de dezenas de milhões de pessoas.
Cuba e Coreia do Norte: casos especiais
• Desertificação em Cuba: A desertificação é um problema ambiental significativo que afeta cerca de 14% do território cubano, concentrando-se principalmente em áreas costeiras. Esse fenômeno está intimamente relacionado a práticas agrícolas inadequadas, desmatamento e gestão insustentável da terra. Essas políticas, implementadas com o objetivo de alcançar metas de autossuficiência, gerar empregos de baixo custo e maximizar a exploração dos recursos naturais, aceleraram processos como salinização, erosão e perda de fertilidade do solo, comprometendo a sustentabilidade ecológica e produtiva do país.
• Contaminação nuclear (Coreia do Norte): Desde meados do século XX, a Coreia do Norte priorizou o desenvolvimento de sua capacidade nuclear como parte de sua estratégia de autossuficiência e defesa nacional. Testes nucleares subterrâneos, como os realizados no local de Punggye-ri, provocaram altos níveis de contaminação radioativa no solo e na água, afetando tanto os ecossistemas quanto as comunidades locais. Testemunhos de desertores norte-coreanos relatam casos de doenças graves, defeitos de nascimento e altos níveis de radiação em pessoas expostas. Essas políticas, centradas em objetivos militares, ignoraram os impactos ambientais e humanos, gerando um dos maiores riscos ecológicos e de saúde pública da região.
Nas políticas econômicas capitalistas
Assim também existem exemplos de danos ambientais ocorridos em países que aplicam políticas econômicas capitalistas, como:
• O secamento do Lago Owens (Estados Unidos): Localizado na Califórnia, o Lago Owens secou completamente em 1926 após a construção do Aqueduto de Los Angeles, que desviou 100% do fluxo dos riachos que o alimentavam. Essa obra, concebida para atender à crescente demanda de água na cidade, transformou o lago em um deserto de poeira. Estima-se que o leito seco gere mais de 5% da poluição por partículas no estado, afetando a saúde respiratória de milhares de pessoas.
• Vazamento de petróleo no Golfo do México (Estados Unidos): Em 2010, a explosão da plataforma Deepwater Horizon derramou mais de 4,9 milhões de barris de petróleo no Golfo do México, contaminando aproximadamente 68.000 milhas quadradas de oceano. Este desastre, associado a falhas de design e negligências regulatórias, devastou ecossistemas marinhos e costeiros. O derramamento impactou gravemente as áreas de desova e habitats de várias espécies marinhas. Isso causou a morte de milhares de peixes, mamíferos marinhos e aves, além de comprometer zonas de pesca e turismo na região. Este evento é amplamente reconhecido como um dos maiores desastres ambientais da história dos Estados Unidos.
Casos críticos
• Minas de amianto em Wittenoom (Austrália): Entre 1930 e 1966, Wittenoom foi o principal centro de extração de amianto azul na Austrália. Estima-se que mais de 3 milhões de toneladas de resíduos contaminados tenham sido espalhados pelo ambiente, afetando gravemente os ecossistemas e a saúde dos habitantes. Mais de 25% dos trabalhadores e residentes da região desenvolveram doenças relacionadas ao amianto, como mesotelioma e asbestose, devido à falta de regulamentações adequadas.
• Desastre do Exxon Valdez (Estados Unidos): Em 1989, o petroleiro Exxon Valdez derramou cerca de 260.000 barris de petróleo bruto no estreito de Prince William, no Alasca. Este derramamento contaminou mais de 2.100 quilômetros de costa e matou cerca de 250.000 aves marinhas, 2.800 lontras-marinhas e centenas de outras espécies. Investigações posteriores identificaram falhas humanas e sistemas de segurança insuficientes como as principais causas do desastre.
O diferencial está num marco jurídico sólido
Esses exemplos mostram que nenhum dos sistemas políticos, seja de esquerda ou direita, é intrinsecamente mais compatível ou prejudicial ao meio ambiente. A verdadeira diferença reside na capacidade de um Estado em estabelecer e aplicar um marco jurídico sólido que regule as atividades extrativistas e outras práticas industriais.
Por sua vez, ao utilizarmos a China como exemplo do principal expoente do comunismo na atualidade, é imprescindível mencionar que o país também detém a maior pegada de carbono do planeta. E é responsável por aproximadamente 27% das emissões globais de gases de efeito estufa. Em contrapartida, os Estados Unidos, símbolo do capitalismo, não ratificaram importantes tratados internacionais, como o Acordo de Paris. Isto reflete a resistência de certos países em aceitar compromissos vinculantes que possam comprometer seus interesses econômicos.
Tecnologias sustentáveis x compromissos econômicos
Ambos sistemas políticos reconhecem a urgência de desenvolver tecnologias sustentáveis, mas os compromissos econômicos continuam sendo prioritários. Nenhum dos dois modelos está disposto a transformar integralmente sua estrutura produtiva. Existe o risco de paralisar setores estratégicos da indústria, gerar perdas econômicas significativas, aumentar o desemprego e comprometer a estabilidade social e a saúde das populações. Apesar disso, esforços têm sido realizados para implementar políticas e regulamentações que visem evitar ou minimizar danos ambientais.
A solução: acesso a tecnologias limpas e sustentáveis
Em última análise, qualquer sistema político pode adotar um modelo sustentável, desde que combine a implementação de tecnologias avançadas que minimizem significativamente os impactos ambientais. Isso requer a elaboração de políticas públicas efetivas e o estabelecimento de sistemas de controle e fiscalização reais e robustos. Apenas com essa integração de inovação tecnológica, regulamentação eficaz e monitoramento constante será possível garantir a mitigação dos danos ambientais e a sustentabilidade a longo prazo. Em um mundo interconectado, o acesso a tecnologias limpas e sustentáveis, independentemente de sua origem é imprescidível. A implementação de sistemas eficazes de governança ambiental serão essenciais para que todas as nações avancem em direção a uma verdadeira transição ecológica que transcenda as ideologias políticas.
Então, o que você achou desse debate sobre Capitalismo vs. Solcialismo sob o prisma do impacto ambiental e da sustentabilidade.
André Tejerina