É nesse lugar que nasce uma nova liberdade
Essa semana alguém me enviou uma postagem do Instagram de um tal “Movimento das Mulheres Celibatárias”. Eu achei tão interessante e, ao mesmo tempo esdruxulo e/ou contraditório que resolvi escrever sobre o assunto, principalmente porque conheço muito bem, pelo menos três figuras que fazem parte desse movimento. Na descrição havia um texto explicativo e justificativo sobre o perfil dessas mulheres, dos seus ex-companheiros e o que as motivaram tomar essa atitude. O qual eu transcrevo a seguir e depois faço um comentário.
Entenda o movimento das mulheres celibatárias
“Fizemos terapia, sustentamos casas, criamos filhos, estudamos, mergulhamos em nós mesmas,. E agora, depois de tanto trabalho interno, o que encontramos ao redor? Homens frágeis, confusos, inseguros, e emocionalmente tóxicos e que ainda esperam que a mulher seja tudo, enquanto eles entregam quase nada.
O celibato aqui, não é negação do amor. É proteção da própria paz. É um descanso da luta afetiva. E a recusa de se entregar a quem não sabe acolher a profundidade de uma mulher inteira.
Não se trata de querer viver sozinha para sempre, mas de não querer viver acompanhada da forma errada. O amor ainda é bem-vindo, mas não às custas da nossa saúde emocional. E se não for leve, verdadeiro e nutritivo, a solidão vira um lar muito mais digno.
Esse movimento não tem bandeira, não tem regra, não tem manifesto. Ele acontece no coração de cada mulher que escolhe se preservar. Que prefere sua própria companhia a viver tentando consertar o outro. Que entende que estar só pode ser um ato de amor-próprio, não de falta.
E é nesse lugar que nasce uma nova liberdade!”

Ledo engano
Pode até ser coincidência, mas quando digo que é contraditório é porque, como conheço profundamente as três figuras e as histórias delas posso afirmar que ao se filiarem ao Movimento das Mulheres Celibatárias, elas cometem um ledo engano. Ao contrário do jargão “é nesse lugar que nasce uma nova liberdade”, elas estão completamente iludidas se acham que dar as costas para um novo relacionamento é ser livre.
O egocentrismo explícito
É muito fácil jogar a culpa do fracasso de um relacionamento em cima do outro e depois dizer que está descansando da luta afetiva, como se amar alguém fosse algum sacrifício, algo muito caro para se suportar. Essa foi a expressão mais infeliz que já vi alguém mencionar. Só explicita o quão egocêntrica é essa pessoa. O que ela passa com essa expressão e quando diz: “fizemos terapia, sustentamos casas, criamos filhos, estudamos, mergulhamos em nós mesmas…enquanto eles entregam quase nada”, é que só existiu um provedor nessa relação. O outro indicativo mais explicito desse texto é quando diz que: “fizemos terapia”. Esse fizemos terapia soa como se fazer terapia credenciasse alguém à sua melhor versão e sendo assim esta pessoa está isenta de culpa e é a dona da verdade.
Quando ela diz: “É a recusa de se entregar a quem não sabe acolher a profundidade de uma mulher inteira”, deixa ainda mais explicito o egocentrismo. Qualquer um sabe o quão complexa é a natureza de uma mulher, que fervilha hormônios por todas as células, que tem um ciclo menstrual mensal sujeita a TPM, bipolaridade e outros transtornos. Então, esse acolher a profundidade de uma mulher inteira soa como servidão. Sim esta mulher não precisa de um homem para lhe amar, proteger, honrar e ser fiel. Ela precisa de um servo. O servo vai fazer tudo que ela quiser sem direito a reclamar mesmo quando ela abusar dele.
Zona de Conforto, Covardia e fuga
Dizer que, “o amor ainda é bem vindo, mas não às custas da nossa saúde emocional”, só ratifica o egocentrismo e a zona de conforto da qual ela não quer sair, ou melhor ela não quer a “luta afetiva”. Ela quer simplesmente o servo que nunca vai questionar nem cobrar nada.
Ele acontece no coração de cada mulher que escolhe se preservar. Essa é a parte onde aparece a covardia, a zona de conforto e, ao mesmo tempo a fuga, pois ela entra, literalmente, numa redoma e vira uma santa casta, celibatária, para todo o sempre.
Wagner Braga