Entre uma Refeição e um Silêncio

A Liberdade de Estar Só

Cheguei sábado, em Manaus, para um treinamento que se inicia na segunda-feira: tendo, portanto, um tempo de espera, descanso, entre uma refeição e um silêncio, liberdade e preparação para o treinamento de Eneagrama, para uma grande Empresa daqui.

Viajar a trabalho sempre me coloca diante de uma espécie de pausa silenciosa — uma pausa dentro de mim mesma. Hoje, por exemplo, entre compromissos, reuniões e deslocamentos, percebi novamente como me sinto bem quando estou só. Há uma liberdade quase sutil nesses momentos: escolher onde almoçar, caminhar sem pressa, observar o movimento da cidade como quem escuta uma música baixa ao fundo. É um estado de presença diferente, mais íntimo, mais proprietário do próprio tempo.

O curioso é que, enquanto para alguns essa experiência é natural, para muitos ela se torna desconfortável, quase impensável. Conheço pessoas que jamais almoçariam sozinhas. Sentam-se à mesa e, se não houver alguém ao lado, é como se algo estivesse faltando — ou sobrando. Talvez seja um medo de si. Talvez seja o hábito de se medir a partir da companhia dos outros. Ou talvez seja o ruído do mundo que, quando cessa, revela um silêncio interno que poucos foram ensinados a escutar.

Estar só não significa estar isolada

Mas, para mim, estar só não significa estar isolada. Ao contrário, é como se, nessas horas, eu me encontrasse comigo mesma de um jeito mais verdadeiro. Ser minha própria boa companhia é um exercício que fui aprendendo — um exercício de autonomia afetiva, de acolhimento interno, de reconhecer que a presença dos outros é valiosa, mas a minha própria também precisa ser. E essa é uma competência emocional importante: sentir-se inteira, mesmo quando ninguém está por perto.

No fundo, o mundo contemporâneo não facilita esse encontro. Somos empurrados para fora de nós o tempo todo — telas, notificações, urgências, expectativas. Estar só, em silêncio, torna-se quase um ato contracultural. Talvez por isso as viagens a trabalho, com seus hotéis silenciosos e janelas anônimas, me ofereçam essa brecha rara: a chance de respirar fora do turbilhão, de reorganizar ideias, de ouvir meus próprios pensamentos sem disputas internas.

Entre uma Refeição e um Silêncio

Maturidade emocional não é ausência é presença

A liberdade de estar só não é sobre independência dura ou desapego forçado. É sobre maturidade emocional. É sobre saber se cuidar quando o mundo afrouxa um pouco. Sobre descobrir que há um prazer silencioso em escolher sua própria mesa, saborear a própria companhia e sentir, no fundo do peito, que esse momento não é ausência — é presença.

Entre uma refeição e um silêncio, encontro um lugar onde o tempo se alarga e a alma se ajeita. E ali, sem pressa e sem plateia, percebo que estar só também é uma forma bonita de estar acompanhada.

E quando a segunda-feira já traz de volta o movimento dos encontros, das novas pessoas, dos desafios e dos ritmos, levo comigo esse silêncio bom — um chão interno que me fortalece para o que vier.

Sarita Cesana

Psicóloga CRP 17-0979

@saritacesana_                 @implementeconsultoria

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