Luto, sombras e silêncio
O luto havia esculpido em Leo sombras e silêncios. Em seis meses, perdera três entes queridos, incluindo sua mãe, e a dor o consumia como um incêndio descontrolado. Seu corpo emagrecera drasticamente, e seus olhos, duas chamas ardentes, refletiam o seu estado de vigília permanente.
Apesar da devastação pessoal, Leo fora promovido em seu trabalho, integrando uma equipe encarregada de lidar com crises na empresa. No entanto, era um ambiente opressivo, onde a gravidade das situações fazia com que os colegas se abraçassem antes de iniciar o expediente, um ritual de solidariedade em meio à pressão esmagadora. Entretanto, as câmeras vigiavam cada movimento, roubando-lhes qualquer vestígio de privacidade.
A dor das perdas e o trabalho exaustivo
Além das demandas do trabalho, Leo enfrentava os desafios de um curso de pós-graduação em Gestão Empresarial à distância, com inúmeras leituras e pesquisas. Além disso, as mudanças constantes nos procedimentos da empresa exigiam que ele estivesse sempre atualizado, mergulhando em cursos e manuais, incessantemente. Ao mesmo tempo, a dor no peito e o nó na garganta eram seus companheiros constantes, mas ele se esforçava para manter uma fachada de normalidade, encontrando consolo momentâneo nas idas ao banheiro, onde chorava copiosamente.
As noites insones eram povoadas por pensamentos monstruosos, e ele usava sua imaginação para criar cenários apaziguadores. Parecia que se preparara durante longos anos para aquela situação específica, onde havia também, traços de autopunição. Então, em sua mente, visualizava bolhas de luz, onde condensava informações sobre o seu estado atual, mensagens sensoriais, pedidos de socorro que enviava ao universo. Foi em uma dessas noites que algo extraordinário aconteceu.
Exausto, ele deitou-se de terno e gravata, tentando relaxar a efervescência de sua mente. Eventualmente perdeu a noção das horas mas, de repente, sentiu uma vibração incomum no apartamento. Ao virar-se na cama, notou uma luz intensa vinda do corredor. Levantou-se, temeroso de um incêndio ou de um problema elétrico, e seguiu a luminosidade até a cozinha. Quanto mais se aproximava, mais forte era a luz e o zumbido em seus ouvidos.
Asas de Luz: Um abraço iluminado
Ao entrar na cozinha, ele deparou-se com uma visão surpreendente: um ser feito de pura luz o observava com compaixão. O impacto inicial da visão deu lugar a uma profunda sensação de relaxamento, como se águas mornas e puras lavassem o seu ser. Ao mesmo tempo ele foi irresistivelmente atraído para um abraço que o inundou de alívio e amor. A figura luminosa emanava empatia e ternura, penetrando profundamente em seu coração, suprimindo completamente o processo de raciocínio.
Subitamente, ele sentiu que o ser introduzia as mãos em seu corpo, puxando para fora algo sólido como um osso. Sentiu uma extensão saindo na parte detrás dos seus ombros, percebendo que havia ganhado asas enormes. A sensação de surpresa foi imediatamente substituída pela relevância daqueles membros extras. A figura de luz olhou para ele com profunda ternura e desapareceu.
Visualizações e orações
Ele ficou parado no centro da cozinha, no frio da madrugada, consciente de que tivera uma alucinação. Mas ao mover-se, sentiu peso nas suas espáduas e percebeu que as asas eram reais, e que conseguia move-las como a seus braços e pernas. O pensamento de loucura cruzou sua mente com violência, fazendo-o tremer, mas as emanações de amor e paz que sentira do ser luminoso afastaram todas as sombras. Concluiu que as suas visualizações e orações haviam atingido algo, que viera salvá-lo, dando-lhe de presente aquele órgão extra, que demandava uma atenção extrema, ao mover-se, ao sentar-se, ao deitar-se para descansar. Um estado de vigilância constante, para evitar que as pessoas percebessem as mudanças no seu comportamento.
Debatendo-se entre luzes e sombras
Durante meses, Leo conviveu com aquelas asas, aprendendo a movê-las e encontrando conforto ao se envolver nelas, como num abraço amoroso. Elas o ajudaram a concentrar-se, concedendo-lhe uma lucidez nunca antes experimentada. Ainda assim, a fome era escassa e o sono inexistente. À noite, abraçado por suas asas, sua mente vagava em perfeita consciência, cheia de muitas visões e compreensões. Dentro delas recebeu inspirações sobre o que fazer e que caminho seguir em sua vida profissional.
Eventualmente, Leo procurou ajuda psiquiátrica e começou a tomar medicamentos para depressão. As asas lentamente desapareceram, mas a certeza de que sua imaginação o havia salvado permaneceu. Acima de tudo, o seu encontro com aquele ser com asas de luz ficaram marcados em sua memória para sempre. Por fim, ele continuou sua jornada, com uma compreensão profunda do poder da mente e da capacidade humana de criar luzes em meio as sombras mais densas.
Fonte: Imagens criadas pelo DALL-E + 3 com prompts de Manoel Augusto Queiroz.
Manoel Queiroz