E o Ruído do Mundo
“Escutar é mais do que ouvir. É abrir espaço dentro de si para que o outro exista.” A Arte de Escutar de Verdade em meio ao ruído do mundo é o desafio maior a ser vencido, bem como uma competência quase inexistente nos dias atuais.
Contudo, vivemos em uma época saturada de sons, alertas, opiniões, interrupções e expectativas. Nunca estivemos tão conectados — e, ao mesmo tempo, tão distraídos. Entretanto, no trabalho, nas relações, nas lideranças e até dentro de nós mesmos, o ruído parece ocupar tudo: ele invade, atropela, exige respostas rápidas, impede pausas e sufoca nuances.
E, nesse excesso de barulho, a escuta se tornou uma competência rara.
Rara — e urgente.
A escuta que desaparece no mundo acelerado
Então, Hartmut Rosa descreve a nossa era como marcada pela aceleração e pela falta de ressonância. Estamos sempre atravessando as superfícies, mas quase nunca permitindo que algo nos toque de verdade. Escutar implica disponibilidade, presença, entrega — três gestos que o mundo BANI não favorece.
Entre uma notificação e outra, aprendemos a “ouvir para responder”, nunca a ouvir para compreender.
E quando a escuta desaparece, desaparece junto algo fundamental: a possibilidade de encontro.
Escutar é uma forma de acolher — e de reconhecer o outro
Em ambientes de trabalho, a ausência de escuta produz medo, tensiona relações, mina a criatividade e cria abismos. Quando não somos escutados:
- nossa segurança psicológica se fragiliza;
- nossa motivação diminui;
- nossa confiança na liderança se perde;
- e nossa energia interna se retrai.
Timothy Clark mostra que a primeira etapa da segurança psicológica é justamente o inclusiveness: ser reconhecido e aceito. E não há reconhecimento sem escuta.
Não falo da escuta técnica, funcional, que serve apenas para “resolver”.
Falo da escuta humana, afetiva, profunda.
Aquela que capta o que não foi dito.
Também é aquela que percebe o suspiro entre as frases.
Ou aquela que acolhe o silêncio sem desconforto.

Escutar exige coragem — mais do que técnica
Muitas pessoas evitam escutar porque escutar transforma.
Escutar nos convoca ao encontro verdadeiro, ao vínculo, ao cuidado.
É mais fácil ouvir superficialmente do que sustentar a presença de alguém que sofre.
Também é mais fácil mudar de assunto do que permanecer quando o outro chora.
É mais fácil preencher silêncios do que permitir que eles revelem o que precisa emergir.
A escuta é um gesto radical porque ela nos obriga a desacelerar.
E desacelerar, no nosso tempo, quase sempre exige coragem.
A escuta como prática de liderança
Líderes que escutam não apenas gerenciam — eles criam espaços de segurança, pertencimento e confiança. A escuta é um dos pilares da liderança contemporânea, porque é através dela que surge:
- o feedback honesto,
- a inovação real,
- a colaboração que flui,
- e a cultura onde as pessoas se sentem vistas.
Sem escuta, líderes apenas administram tarefas.
Com escuta, líderes cultivam pessoas.
Entre o ruído e o silêncio — nasce o encontro
Talvez nossa grande tarefa contemporânea seja justamente essa: recuperar a escuta como ato de presença e humanidade. Escutar é uma forma de cuidado. É uma forma de respeito. É uma forma de vínculo.
E, acima de tudo, é uma escolha:
a escolha de estar ali, inteiro(a), enquanto o outro existe.
Em um mundo tão barulhento, escutar é quase um ato de resistência.
Um gesto de coragem.
E, para muitos, um verdadeiro ato de amor.
Como eu vejo isso…
Tenho pensado muito sobre a arte de escutar de verdade e sua potência. Talvez porque, na correria da vida, eu mesma precise me lembrar — todos os dias — de desacelerar para estar com alguém de fato. Escutar não é sobre concordar, resolver ou aconselhar. É sobre criar um espaço onde o outro possa se mostrar sem medo.
A minha dica é simples e prática: experimente escutar um pouco mais devagar.
Pare alguns segundos antes de responder. Respire. Observe não só as palavras, mas o que está por trás delas. Muitas vezes, o que alguém realmente precisa não é de uma solução — é de um lugar seguro para existir.
E, quando oferecemos isso, algo muito bonito acontece:
o outro se acalma… e nós também.
Sarita Cesana