Portas

Todas as portas são diferentes umas das outras

O poema de hoje, aqui na Coluna POESIAS do Blog do Saber temos a alegria de publicar essa pérola, que foi escrita pelo nosso autor Leôncio Queiroz há 45 anos. Ele se chama Portas e o autor o encontrou remexendo suas coisas guardadas há anos e foi uma grande e grata surpresa. Então, sorte nossa ao sermos presenteados com esse maravilhoso texto.

Portas, todas as portas são diferentes umas das outras.

Num dia 23 de Setembro,
Cheguei ao mundo,
Passei pela porta mais importante,
A porta da vida.

No corpo da minha mãe
Eu estava trancado,
Clamando liberdade, calado.

Quando Saí,
Gritei, chorei,
Não me lembro se era alegria,
O certo é que berrei.

Todos riam de felicidade ao me ver.
Estou hoje, ainda, aqui dentro do meu mundo.

Não está ruim, estou gostando.

Quando aquela porta abriu pra mim, eu não sabia quem eu era.
Mais dias e muitos dias,
Fui vendo que,
A primeira porta foi a mais importante.

Nos corredores dessa vida,
Esbarramos em muitas portas.

Todas as portas são diferentes umas das outras,
Pois todas, guardam contextos diferentes.

Todas as portas se abrem;
Hoje, amanhã ou em qualquer dia.
Todas essas portas se abrirão.

Existem portam fortes;
Algumas largas;
Outras altas;
Uma são bonitas,
Sofisticadas;
Outras simples,
Remendada.

Existem conteúdos, que não são guardados por portas;
Existem portas,
Que não guardam nenhum conteúdo.
Existem conteúdos, que não merecem portas;
E, portas, que não merecem conteúdos.

Portas roubadas,
Tomadas,
Lacradas,
Fechadas,
Travadas,
Mas,
Todas se abrirão.

Esbarrar numa porta fechada é muito comum.

Mais comum ainda é imagirnar-mos,
Que aquela porta é tudo,
Quando, na verdade,
Aquela porta esconde ou guarda,
Apenas uma parte do tudo.

A boca-porta é interessante,
Quando fechada,
É importante,
Pois, “em boca fechada não entra mosca “.

A boca da mulher, quando é uma porta aberta,
Faz mostrar à todos sua alma,
Todos veem que não tem calma.

A nossa porta-boca nos eleva;
Como nos faz cair;
Sensibiliza,
Como agride;
Mente,
Como afirma verdades;
Vende,
Como rouba;
Aproxima,
Como afasta;
Beija,
Como cospe;
Ensina certo,
Como desvia para o mal;
A nossa boca-porta,
É uma senhora porta.

A nossa porta-ouvido,

É calma,
Não tem trinco,
Não fecha,
Sempre aberta;
Recebe tudo que existe,
Em forma de som;
Por ela entram bons sons,
Que gostamos que entrem;
Por ela entram sons,
Que nunca esperávamos que entrasse;
Verdades, mentiras, segredos, mistérios,
Palavras doces, amargas palavras, palavras bonitas,
assassinas palavras.
A porta-ouvido, é uma porta sem trinco.

Os nossos olhos são portas.
Sempre abertas à tudo
Mas, possuem trinco.

Tudo em nós,
Na nossa vida,
É, são e serão, dependentes das portas.

O nosso sexo é uma porta.

Feliz, aquele que sempre encontra as portas abertas.

Abra a porta !
Feche a porta !
Tranque a porta !
Bata a porta !
Esconda-se atrás da porta !
Olhe o aviso na porta !
Tem uma pessoa na porta !
Não abra a porta !
Deixe ele entrar !
Perdeu-se a chave da porta !

A última porta que fecha-se para alguém,
É a porta do túmulo,
Depois de fecharem a porta do caixão.

Arrombe a porta !
Não precisa, não tem porta.
Porta dos fundos.
E Porta da frente.
Porta do sucesso.
E Porta do quarto.
Porta principal.
Porta do amor, porta da vida, o nascer.

Poesia de Leoncio Queiroz

03 de Janeiro de 1980

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