E o impacto na vida das pessoas
O impacto das criptomoedas na vida das pessoas e no sistema financeiro é inegável. Com sua crescente adoção, essas moedas digitais passaram a fazer parte da infraestrutura financeira global, o que exige um maior escrutínio sobre seus impactos econômicos, sociais e ambientais. Embora sejam úteis, a sustentabilidade ambiental das criptomoedas deve ser abordada com seriedade. Atualmente, as criptomoedas possuem curso legal em países como El Salvador, desde 2021, e a República Centro-Africana, desde 2022. No entanto, em 2025, El Salvador reverteu o status do Bitcoin (BTC) como moeda de curso legal para garantir um crédito do FMI, condicionado à concessão de 1,4 bilhão de dólares.
O modelo descentralizado e a maior liberdade aos usuários
Contudo, os defensores das criptomoedas argumentam que o modelo descentralizado de processamento de transações confere maior liberdade aos usuários. No sistema financeiro tradicional, os dados pessoais dos usuários são controlados por instituições privadas e até mesmo pelo próprio Estado. Essa característica evita situações como a ocorrida no Canadá durante os protestos do “Comboio da Liberdade”, nos quais o primeiro-ministro Justin Trudeau invocou a Lei de Emergências. Durante sua vigência, essa legislação autorizou instituições financeiras a congelar contas bancárias dos manifestantes.

Bitcoin e o processo de mineração
Em termos operacionais, a criptomoeda pioneira na implementação bem-sucedida da tecnologia blockchain foi o Bitcoin (BTC). Foi a primeira criptomoeda no mercado e continua sendo a mais reconhecida, funcionando como meio de pagamento e reserva de valor. O ponto interessante é que o Bitcoin opera sob um mecanismo de prova de trabalho (PoW) para validar suas transações, um processo conhecido como mineração. Esse sistema envolve milhares de mineradores ao redor do mundo competindo para resolver problemas matemáticos complexos que asseguram a rede e confirmam as transações.
Entretanto, apesar dos avanços das criptomoedas, poucos consideram a quantidade de energia necessária para sustentar o sistema PoW. Nos últimos anos, a sustentabilidade energética e o impacto ambiental tornaram-se preocupações crescentes. O PoW do Bitcoin tem um grande ponto fraco: seu consumo energético. Em 2024, o Bitcoin consumiu aproximadamente 146,82 terawatts-hora (TWh) de eletricidade, valor equivalente ao consumo anual de países como Paquistão e Quênia. Esse elevado consumo energético tem impactos negativos tanto para as redes elétricas quanto para a percepção pública do ativo.
O alto custo energético
Até 2021, a China dominava a indústria de mineração de BTC devido aos seus baixos custos de eletricidade. No entanto, o governo chinês proibiu a mineração de criptomoedas para evitar a sobrecarga do seu sistema elétrico. Essa decisão levou a uma migração massiva de mineradores para os Estados Unidos, que agora lidera a indústria, sendo responsável por mais de 37% do hashrate global.
Outros países também se consolidaram como centros estratégicos de mineração. O Cazaquistão aproveita sua eletricidade barata, proveniente do carvão, para investir em grandes fazendas de mineração. O Texas, nos Estados Unidos, possui uma infraestrutura energética robusta, mas seus custos elevados tornam a mineração menos rentável. A Rússia, por sua vez, enfrenta desafios regulatórios para legalizar e regular suas operações de mineração de BTC. O problema comum a essas regiões é a dependência de combustíveis fósseis, como carvão e gás natural, o que agrava os impactos ambientais do Bitcoin.
O esforço para mitigar o consumo energético
Para mitigar esse problema, El Salvador propôs a construção de uma usina geotérmica dedicada à mineração de BTC, utilizando energia vulcânica. No entanto, não há indícios de que o projeto tenha sido iniciado até o momento, o que levanta dúvidas sobre a viabilidade de alternativas energéticas renováveis para substituir os combustíveis fósseis na mineração de BTC no curto prazo.
Apesar dessas preocupações, algumas criptomoedas apresentam menor impacto ambiental. Por exemplo, XRP, da empresa Ripple, é considerada a criptomoeda mais eficiente do mundo. Cada transação de XRP consome apenas 0,0079 kWh, em comparação com os 707 kWh necessários para uma transação de BTC.
Além disso, Cardano (ADA) adota o mecanismo de prova de participação (PoS), reduzindo seu consumo energético em mais de 99% em relação ao BTC. Hedera (HBAR) utiliza a tecnologia hashgraph, permitindo transações de alta velocidade com consumo energético quase nulo. Algorand (ALGO), por sua vez, é carbono negativo desde 2021, compensando suas emissões de CO₂ por meio de iniciativas sustentáveis.
O caso de Ethereum (ETH) merece destaque. Em 2022, a rede fez a transição de PoW para PoS, reduzindo seu consumo energético em mais de 99,9%. Esse movimento demonstra que as criptomoedas estão se afastando do modelo de Bitcoin em busca de soluções mais eficientes e sustentáveis.
O padrão ISO 20022 e a eficiência dos pagamentos digitais
Diante desse cenário, reguladores internacionais começaram a considerar o impacto ambiental das criptomoedas como parte de um esforço para a sustentabilidade global. O padrão ISO 20022, um protocolo internacional para comunicação financeira, busca aumentar a eficiência dos pagamentos digitais. Algumas criptomoedas, como XRP, XLM e ALGO, já são compatíveis com essa norma, permitindo sua integração com instituições bancárias sem gerar altos custos energéticos. O Bitcoin, por outro lado, não atende aos requisitos da ISO 20022, o que pode limitar sua adoção pelo sistema financeiro tradicional no futuro.
O debate sobre a sustentabilidade do Bitcoin continuará. Relatórios indicam que a participação de energias renováveis na mineração de BTC está crescendo, representando cerca de 58% do consumo total da rede. No entanto, o restante da mineração ainda depende fortemente de fontes não renováveis, ampliando sua pegada de carbono.
Moedas mais eficientes e o futuro do BTC
Por outro lado, criptomoedas mais eficientes, como XRP, ADA e ALGO, podem substituir o BTC em setores estratégicos, especialmente em pagamentos digitais e integração bancária.
O futuro da sustentabilidade nas criptomoedas dependerá de inovações tecnológicas, implementação de regulamentações eficazes e o acesso a fontes de energia limpa. O Bitcoin pode ser forçado a evoluir ou perder espaço para alternativas mais ecológicas.
Em última instância, os usuários e empresas desempenham um papel essencial na definição de quais modelos prevalecerão no futuro do dinheiro digital para garantir a sustentabilidade ambiental das criptomoedas.
André Tejerina Queiroz (Ph.D.)
Excelente atualização! Essencial no atual momento.