Horizontalmente ou verticalmente?
Desde a antiguidade o homem, místico que é por natureza, desenvolve a sua espiritualidade. As mais diversas civilizações, todas elas sem exceção, na ansia de se comunicar o creador do universo, criarm as mais diversas crenças e religiões. A maioria delas sempre buscando esse Creador ou Deus em lugares longíquos. Entretanto, algumas filosofias ancestrais, logo mataram a charada e perceberam que esse Creador não estava no Cosmos, mas no Eu Cósmico. A partir dai começou a luta para descobrir: como entrar no Eu Cósmico?
Fui buscar explicação em dois autores da minha admiração, cujas filosofias fazem sentido para mim, sendo uma ocidental e a outra oriental. O primeiro é o Guru indiano Bhagwan Shree Rajneesh, mais conhecido como Osho, criador do movimento Rajneesh. Ele ficou conhecido por se opor às religiões tradicionais, pregando a liberdade através de técnicas de meditação, a valorização do humor, criatividade, celebração e liberdade sexual.
Segundo Osho
“O terceiro nível é o domínio do ser. Outras coisas começam a acontecer quando se entra no ser horizontalmente. Quem entra na alma horizontalmente encontra mistérios de outro tipo. E os que entram no ser verticalmente se unem à existência. Por isso, algumas pessoas, como os santos jainistas, que entraram no domínio do ser horizontalmente, não apreendem a realidade suprema. Isso acontece porque eles não entram no “eu” essencial verticalmente. Eles não vão além da alma; entraram no ser e não encontraram o supremo. Então disseram que Deus não existe.
A mesma coisa está acontecendo com a psicologia ocidental. Ela entra na mente horizontalmente. E diz que não existe alma. A filosofia e a ciência médica ocidentais entraram no corpo horizontalmente e dizem: “Que alma, que mente? Só o corpo existe e o resto faz parte desse mecanismo”.
Os desvios no caminho
Então, tudo isso é misterioso, tantas dificuldades surgem. Minhas palestras vão direto ao ponto para ajudar vocês a seguir verticalmente, para levá-los de onde vocês estão até onde possam se unir com a existência. Não estou falando dos desvios que existem pelo caminho. Os desvios são muitos e há toda uma ciência para se mover através deles.
Por isso Patanjali é importante. A ciência ocidental não é inútil, a psicologia ocidental também não. Elas são importantes, mas são obstáculos para obuscador que se move verticalmente. Os desvios serão tãolongos que o buscador nunca mais conseguirá retornar ; muitas vidas se passarão, e ele não retornará à fonte original”. (OSHO, Encontra a sua verdade, Ed. Alaúde, SP, 2021).
O segundo filósofo o qual fui buscar referências para explicar como entrar no Eu Cósmico é o respeitado precursor do espiritualismo universalista, escreveu mais de 100 obras (ao final da vida, condensadas em 65 livros), onde franqueou leitura ecumênica de temáticas espirituais e abordagem espiritualista de questões pertinentes a pedagogia, ciência e filosofia, enfatizando o autoconhecimento, a autoeducação e a autorrealização.
Segundo Huberto Rhoden
“O meu verdadeiro e autêntico Eu cósmico é como um lago plácido que espelha o azul do céu e reflete o semblante do Sol. Recebe de todos os lados torrentes inquietas, mas ele mesmo, esse lago, é eterna e imperturbável quietude. Quietude não negativa e estática, mas quietude positiva e dinâmica. O meu lago interno é tranquilo e imóvel, não por vacuidade, mas por plenitude; não por deficiência, sim por abundância. Esse lago dinamicamente tranquilo é minha alma.
O meu Eu pessoal e histórico é como a extensa periferia duma roda gigante em movimento contínuo de rotação. Milhares e milhares de pontos giram em torno do eixo, mas este eixo, no seu centro matemático, é imóvel. É um movimento imóvel, um motor não movido. É um centro do qual irradiam todas as potências motrizes rumo à periferia, mas que não recebe da periferia o menor movimento. Dá sem receber, esse motor imóvel, porque é de plenitude inesgotável.
Quanto mais distantes do centro tanto mais móveis são os pontos circunjacentes; quanto mais perto do centro tanto menor é seu movimento—até expirarem em não-movimento, em quietação absoluta, no centro dinâmico do eixo.
A essência cósmica
Assim é, assim deve ser o meu verdadeiro Eu, a essência cósmica do meu ser: centro imóvel que tudo move, foco sonoro do qual irradiam todas as energias da minha vida, lago plácido que absorve todas as torrentes e reflete na sua quietude perene o azul do céu e o sol da Divindade.
Por via de regra, anda o homem nas camadas periféricas do seu ego, mais ou menos distante da Eu central. Poucos são os que conseguem penetrar até esse centro misterioso, porque árdua luta e intensa introspecção espiritual exige a ruptura dessas camadas espessas do nosso ser. Sensações físicas, afeições psíquicas e pensamentos intelectuais, habituados à superfície tépida diurna do nosso ego periférico, recusamos a submergir na silenciosa profundidade noturna do Eu central; parece-lhes uma noite polar, uma zona gelada e mortífera, e por isto fogem sempre em sentido contrário, rumo à superfície.
Conclusão
Como ficou claro nos dois textos o Eu Cósmico se encontra no lago plácido que espelha o azul do céu e reflete o semblante do Sol. Esse lago dinamicamente tranquilo é minha alma e se encontra no centro do meu ser. A porta de entrada está no alto do meu ser ou na minha mente. Portanto o acesso ao meu “eu” essencial se faz verticalmente. Do contrário não vou além da alma e sendo assim não encontro o supremo.
Wagner Braga