Uma data para reflexão
Ontem foi comemorado o dia das Mães, e nossas mídias se enchem de informações, homenagens, fotos, poemas e mensagens.
Venho de uma família “feminina”, aonde uma geração só teve filhas: tias-avós, tias, sobrinhas e netas.
Ser filha, mãe e avó me dá alguma sabedoria sobre esse tema: posso afirmar que há mulheres, na vida real, que são grandes genitoras de criaturas, ideias, processos, projetos e artes.
Contudo, existem mães boas e más, saudáveis e tóxicas, e todas ocupam seus lugares, nessa grande teia das relações humanas.
O arquétipo sagrado da grande mãe
Na mitologia, nos deparamos com o arquétipo da grande mãe: a mulher sábia, a grande avó, aquela que tem uma tarefa crucial, que é viver a vida plenamente. Não pela metade, não mais ou menos, não um dia, mas sim em abundância. Mas, iver plenamente cada dia, de acordo com sua própria capacidade, impulsionada pelo seu livre-arbítrio e pela potência que o feminino gera.
Então, falar desta imagem profunda da grande mãe, como um dos principais aspectos do arquétipo da mulher sábia, não é falar de idade cronológica, ou de algum estágio da vida destas mulheres. É sobretudo falar da capacidade de perceber detalhes, de oferecer um colo que acolhe, de sentar em paz, de expandir a sensualidade, a criatividade, a coragem e o mistério.
A velha sábia e a jovem ingênua
Todavia, esse arquétipo pertence a todas as mulheres, de todas as idades, e se manifesta sob várias formas. Cada vez mais encontramos meninas “velhas”, cheias de espontaneidade, obstinadas e ousadas, em sabedoria e maturidade. Por outro lado, também nos deparamos com aquelas que “vivem pela metade”, que ainda precisam fazer uma viagem sombria, para compreender seus medos e encontrar sua benção.
Em cada segundo domingo de maio (o dia das mães), quando oficialmente a energia se concentra nessa figura materna, vemos alegria em muitos corações, mas também dor, frustração, tristeza, mágoa, em outros. Que possamos recuperar a questão ancestral, que nos dediquemos a unir o que há de melhor na velha sábia, e na jovem ingênua. Que esses opostos se encontrem, descobrindo segredos e contando histórias para perpetuar esse feminino tão sagrado.
Honrando as gerações passadas
Que eu possa honrar, hoje e sempre, minhas avós que imigraram, expulsas de suas terras, de suas raízes. Pois tiveram que aprender um idioma desconhecido, se acostumar com cores e sabores diversos. Desta forma, tomando para si a sabedoria que lhes foi passada na raça, e na força das tradições.
Uma prece de gratidão
“Por todas as idosas do mundo, cada uma e cada tipo que já tenha sido criado, aquelas que foram levadas com delicadeza pelas ondas. Também aquelas que quase naufragaram em quantidades de tempestades e borrascas. E aquelas que se agarraram a destroços por tempo suficiente para cobrir metade da distância e, a partir dali, conseguiram avistar a terra firme…
Pelas velhas que, em todas as suas diversidades, tristezas e talentos, agora estão tímidas ou determinadas, meio em desalinho ou bem arrumadas, mas mesmo assim altivas e de quadris largos…
Pelas tribos das grandes idosas, com todas as suas penas e peles, todas as suas folhas, couros e saias e ainda todas las ropas guerreras, em pleno traje de combate. Suas asas, faixas e xales, com seus broches cerimoniais, seus colares e cetros de autoridade, em todo o seu orgulho atlético e terno. E em todos os seus bicos e caudas, filós e tules que reluzem e farfalham. Também em toda sua sensualidade e seu caminhar vagaroso, em todos os seus comportamentos inesperados e revoltantes, bem como em todas as suas excentricidades.
Todo o supremo cuidado
Toda a renda e pintura tribal, em todas as cores do seu clã e insígnias de poder, com todo o seu temperamento feroz e bondoso, de olhos brilhantes. Por todos os seus costumes generosos e de preservação…por todo o seu supremo cuidado para que a decência, a vida criativa e o carinho pela alma não desapareçam da face da terra e por toda essa abençoada beleza que se encontra nelas…
Por elas…Vale a pena celebrar o dia das mães!
Peçamos em prece que a força e a cura caiam direto nos ossos de sua coragem para sempre.”
PRECE DE GRATIDÃO PELAS VELHAS PREIGOSAS E SUAS FILHAS SÁBIAS E INDOMÁVEIS QUE ALEGRAM NOSSA VIDA.
Do livro: a ciranda das mulheres sábias
Clarissa Pinkola Estés
Sarita Cesana
Psicóloga CRP17-0979
@saritacesana_ @implementeconsultoria