Em Busca de um Equilíbrio Ético e Sustentável
Existem diversas correntes filosóficas e éticas que buscam explicar a relação entre os seres humanos, a natureza e o meio ambiente. Essas correntes, tais como: antropocentrismo e biocentrismo, surgiram em diferentes momentos da história como resposta a desafios históricos, científicos e morais relacionados à exploração dos recursos naturais, e foram fundamentais para inspirar movimentos ambientais, desenvolver políticas públicas e estabelecer marcos de pensamento voltados para a sustentabilidade.
O antropocentrismo: modelo filosófico ocidental
Uma das correntes mais destacadas é o “antropocentrismo”. Este modelo filosófico tem suas raízes na filosofia ocidental clássica e consolidou-se após a Revolução Industrial. Segundo o antropocentrismo, o ser humano é considerado o centro e a medida de todas as coisas. A natureza e os outros seres vivos têm valor apenas em função de sua utilidade para os seres humanos. Embora essa perspectiva tenha permitido avanços significativos em tecnologia e economia, também é responsável por muitos dos problemas ambientais atuais, como a degradação de ecossistemas, as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade. Por isso, tem sido objeto de críticas que defendem uma visão mais inclusiva e sustentável.
O biocentrismo: modelo filosófico oriental
Em contraste, o “biocentrismo” propõe uma visão em que todos os seres vivos possuem um valor intrínseco, independentemente de sua utilidade para os seres humanos. Esta corrente, que ganhou força no século XX, sustenta que cada organismo tem o direito de existir e se desenvolver de acordo com sua própria natureza. Historicamente, seus princípios estão refletidos em filosofias e religiões orientais, como o budismo e o jainismo, que promovem a coexistência harmoniosa entre todos os seres vivos.
O biocentrismo influenciou significativamente o desenvolvimento dos direitos dos animais, a conservação da biodiversidade e as políticas ambientais modernas. Também inspirou mudanças éticas que buscam mitigar a crise ambiental e repensar a relação entre humanos e a natureza. Em alguns casos, foram implementados direitos da natureza em ordenamentos jurídicos, reconhecendo que os ecossistemas têm direitos próprios que devem ser protegidos.
Um dilema: priorizar a espécie humana
No entanto, o biocentrismo também enfrenta críticas e desafios práticos. Por exemplo, em situações em que os interesses humanos e os de outros seres vivos entram em conflito, como na erradicação de espécies transmissoras de doenças ou no aproveitamento de recursos naturais escassos, surge a necessidade de equilibrar ambas as abordagens. Um caso emblemático é a fumigação para erradicar mosquitos transmissores de doenças como dengue ou zika, que também afeta insetos benéficos, como as abelhas. Nesses casos, a prioridade muitas vezes recai sobre a saúde e o bem-estar humanos.
Da mesma forma, a interação entre humanos e animais em perigo de extinção também levanta dilemas. Embora o biocentrismo defenda a proteção de todas as espécies, há circunstâncias em que a sobrevivência humana prevalece, como em situações de ataques de animais selvagens. Esse equilíbrio também é evidente em comunidades que dependem de recursos naturais, onde a exploração sustentável pode ser uma questão de sobrevivência.
O equilíbrio pode estar na complementaridade de ambos
Apesar das críticas e limitações, o biocentrismo não busca eliminar o antropocentrismo, mas sim complementá-lo. A integração de ambas as correntes pode gerar uma abordagem mais equilibrada, permitindo atender às necessidades humanas sem comprometer a sustentabilidade do planeta. Isso implica adotar medidas preventivas, fomentar tecnologias limpas e promover uma gestão racional dos recursos naturais que minimize os impactos negativos.
Em conclusão, tanto o antropocentrismo quanto o biocentrismo desempenham um papel crucial no desenvolvimento de uma ética ambiental mais inclusiva e sustentável. Enquanto o antropocentrismo reconhece a importância do ser humano como ator principal, o biocentrismo amplia o horizonte para incluir todos os seres vivos na equação. Nossa missão como sociedade é encontrar um equilíbrio entre ambas as perspectivas, garantindo a proteção da natureza sem deixar de lado as necessidades humanas essenciais.
André Tejerina