Ócio e preguiça

Não vamos confundir

De certa forma, dando continuidade ao tema da semana passada, sobre o tempo: agora sob a perspectiva do SUCESSO X ÓCIO. E sob essa perspectiva, vamos aprender sobre ócio e preguiça.

Podemos iniciar com as perspectivas filosóficas sobre o ócio: Filósofos como Aristóteles e Bertrand Russell defendiam o ócio não como ausência de trabalho, mas como um espaço para contemplação, criatividade e desenvolvimento pessoal. Para eles, o ócio não é um vazio, mas um tempo precioso para reflexão, aprendizado e crescimento interior. Contudo, na filosofia grega, o conceito de “skholé” representava este tempo livre dedicado ao cultivo do espírito e do conhecimento. Aristóteles, por exemplo, considerava o ócio essencial para a vida contemplativa e para a verdadeira felicidade.

Nesse contexto, acredito ser importante fazer a diferença entre ócio e preguiça:

  • Ócio: Tempo consciente e intencional de descanso e reflexão, com valor pessoal e existencial
  • Preguiça: Estado de inércia, sem propósito ou consciência, marcado pela inatividade passiva. O ócio é ativo, enquanto a preguiça é passiva. No ócio, você está presente e atento, mesmo que não esteja “produzindo” algo mensurável.

Porém, dando um salto “no tempo”, autores contemporâneos, como Domenico De Masi e Byung-Chul Han também fazem essa provocação.

O Ócio criativo

Domenico De Masi é um sociólogo italiano contemporâneo conhecido por seus estudos sobre trabalho, tempo livre e sociedade pós-industrial, que escreveu sobre “Ócio Criativo”, publicado originalmente em 1995, aonde ele desenvolve, em profundidade, esses conceitos, tornando-se uma referência importante para repensar a relação entre trabalho, tempo livre e realização pessoal.

Ócio e preguiça, qual a diferença?

Alguns pontos importantes do seu pensamento incluem:

Ócio Criativo: De Masi desenvolveu o conceito de “ócio criativo”, que vai além do simples descanso. Para ele, é um estado onde trabalho, aprendizado e lazer se misturam de forma harmoniosa. Ele defende que a criatividade surge justamente nesses momentos de aparente não-produtividade.

Crítica à Sociedade do Trabalho: Ele critica o modelo tradicional de trabalho, argumentando que a sociedade moderna supervaloriza a produtividade em detrimento do bem-estar individual. Portanto, propõe um novo modelo onde o tempo livre não seja visto como improdutivo, mas como essencial para o desenvolvimento humano.

A realização Criativa

Transformação do Trabalho na Era Digital: De Masi antecipou mudanças significativas no mundo do trabalho com a revolução tecnológica. Ele previu e defende modelos de trabalho mais flexíveis, com menos horas presenciais e mais possibilidades de realização criativa.

Qualidade de Vida: Um de seus principais argumentos é que o tempo livre bem aproveitado é fundamental para a qualidade de vida. Então, ele defende que as pessoas deveriam ter mais tempo para atividades que tragam realização pessoal, aprendizado e prazer.

Pontos-chave do seu pensamento:

Valorização do tempo livre como espaço de criatividade

Crítica ao modelo tradicional de produtividade

Defesa de um equilíbrio entre trabalho, aprendizado e lazer

Importância da dimensão criativa na vida humana

Byung-Chul Han, filósofo sul-coreano radicado na Alemanha, tem uma visão crítica e profunda sobre ócio, produtividade e felicidade na sociedade contemporânea.

Alguns pontos chave do seu pensamento:

Han argumenta que vivemos em uma sociedade hiper obcecada por produtividade, onde o indivíduo se torna um “empresário de si mesmo”. Neste modelo, até o descanso é transformado em uma atividade produtiva, eliminando a verdadeira essência do ócio.

Sociedade do Cansaço

Em obras como “Sociedade do Cansaço”, ele analisa como a busca incessante por produtividade leva ao esgotamento. A felicidade, para Han, não está na hiperatividade, mas na capacidade de contemplação e não-ação.

Ele também defende a importância da “negatividade” – momentos de não-fazer, de pausa, de reflexão. Para ele, a felicidade moderna erroneamente associa realização com constante movimento e produção.

O filósofo critica a fragmentação da atenção na era digital. A verdadeira felicidade, para ele, requer tempo profundo, concentração e, sobretudo a capacidade de estar completamente presente.

Diferente da visão capitalista de ócio como “tempo livre para consumo”, Han propõe um ócio contemplativo, onde a pessoa pode simplesmente ser, sem necessidade de produzir ou consumir.

Sua filosofia essencialmente defende que a felicidade não está na acumulação, na velocidade ou na produtividade, mas na capacidade de parar, refletir e experimentar momentos de pura existência.

E, agora chegamos em um tema que me encanta, e pelo qual tenho me debruçado nos últimos tempos.

Como o ócio pode contribuir para a felicidade

O ócio permite que a mente descanse, se reconecte e encontre novos significados.

Momentos de não-produtividade são essenciais para:

  • Reduzir o estresse
  • Estimular a criatividade
  • Permitir a reflexão pessoal
  • Recuperar energia mental e emocional
  • Desenvolver autoconhecimento
  • Cultivar relações interpessoais mais profundas

Então, espero que esta escrita te leve a repensar alguns conceitos, incluindo na sua vida momentos de puro deleite, aonde o ócio possa ser uma parte significativa da sua existência, sem culpa, sem cobrança, sem pressão.

Tenha uma boa semana!!!

Sarita Cesana

Psicóloga CRP 17-0979

@saritacesana_                  @implementeconsultoria

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