Tentando captar uma cultura
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o país com mais casos de ansiedade no mundo. Em média, uma em cada cinco pessoas, aqui, é acometida pela doença. É interessante pensar: por que o Brasil está em primeiro lugar nesse ranking?
O país tropical é uma das maiores economias do mundo. Mas, apesar de estar na 13ª posição dos países com maior PIB, o Brasil ainda é um Estado subdesenvolvido, apresentando-se na 87ª posição do ranking de desenvolvimento humano. Essa é uma contradição interessante e significa que a concentração de riquezas se encontra com uma fina fatia da população.
Claro que a pobreza aliada à insegurança do que há por vir – violência, instabilidade financeira, saúde precária etc – já podem por si sós serem grandes contribuintes para esse mal-estar. Mas, venhamos e convenhamos, esse é um problema que já enfrentamos há séculos, certo? Sem falar que diversos outros países passam pelas mesmas situações. E, então, mais uma vez eu pergunto, o que faz do Brasil o maior caso de ansiedade do mundo?
Sobre o tempo de processamento
O que vem mudando recorrentemente em nossas vidas? O tempo, talvez? Mais especificamente, a noção de tempo. “Meu Deus, o tempo está voando”, “gente, mas já chegou o natal novamente?”: esse é o novo papo de elevador. Chega de falar do clima! O negócio, agora, é falar do cansaço acumulado, do “graças a Deus, é sexta” ou “estou só pelas 17h”. Mas e o que faz criarmos essa relação com o tempo?
Bom, à medida em que a tecnologia toma mais conta das nossas vidas, mais informações chegam até nós em espaços de tempo cada vez menores. Pensemos em um computador ou um smartphone. Quanto mais informações guardamos neles, mais lentos eles vão ficando, certo? Porque é muito conteúdo para processar. E os processadores vão ficando obsoletos e sendo substituídos por novos e mais rápidos.
Nós somos como processadores. Mas, em vez de sermos substituídos, afinal nossa vida útil é bem extensa, vemo-nos obrigados a nos adequar às novas quantidades de informações que vão chegando. Então, dá o ‘tilti’, que nem quando a ampulheta fica girando na tela do computador. Só que, dadas as devidas proporções, os nossos ‘tiltis’ devem durar mais do que os virtuais.
Se dando conta…
A grande sacada é que as informações que entram em nós passam pelo filtro da psique, ou seja, nada que importa para nós passa desapercebido. Nada. Tudo é processado, analisado e convertido em sentimentos. E, tendo em vista que vivemos em um mundo onde o dinheiro, não somente garante a sua sobrevivência, mas define o que você é na sociedade, a vida das pessoas passa a girar em torno disso.
Quantas mais informações recebemos, mais temos noção das diferenças sociais. Mais sabemos o quanto o outro ganha e o quanto eu estou deixando de ganhar. Afinal, o que o outro está fazendo que eu poderia estar fazendo também? A percepção de tempo gira em torno das possibilidades. Hoje, há muitas mais opções do que já se teve uma vez. Opções de trabalho, de lazer, de estudos. E nós queremos experimentar todas. Ou, pelo menos, uma boa parte, para, enfim, aumentar as nossas chances de sermos ‘bem sucedidos’.
Sucesso: um projeto ambicioso
Sucesso é o que todos procuram. O que seria, em outras palavras, a própria felicidade. Mas, afinal, o que é ter sucesso? Naturalmente, o sucesso é atribuído a um montante de dinheiro. Mas que montante é esse? Muito, pouco, caro, barato são termos subjetivos e que necessitam de um referencial. Ninguém, na verdade, sabe muito bem sobre as cifras. Algumas delas estão tão fora da nossa realidade que fica até difícil saber o que fazer com tanto dinheiro. O que sabemos é que queremos mais, cada vez mais. Porque sempre que atingimos um objetivo, imediatamente criamos outro para perseguir.
E se alguém ganha dinheiro “fácil”, por que vou me esforçar pra ganhar o meu? Também quero fácil! Com o escancaramento da vida social das pessoas nas redes, a inveja vai sendo atiçada – para entender mais sobre a inveja, leia o artigo A arte do divertimento – Por que se divertir parece tão fácil, mas sentimos como se não fosse? – e o que sinto como vazio vou tentando preencher com o que a internet me oferece. Se você não tiver filtro, vai querer tudo o que aparecer na frente.
Outro ponto é que no Brasil os salários em empresas privadas, especialmente nas familiares, não costumam acompanhar a formação e, muitas vezes, o potencial do empregado. A ausência de planos de carreira e as avaliações de desempenho mal executadas podem acabar contribuindo para as insatisfações no trabalho.
Em outros casos, escolhe-se um cargo público em busca de um salário mais rentável e de uma carreira estável, mas o sujeito corre o risco de acabar caindo no tédio. O resultado é que temos uma população que em sua maioria não está feliz com as suas ocupações. E estamos falando de empregos de 40 a 44 horas semanais. O ambiente de trabalho é onde passamos a maior parte do nosso tempo. Quando colocamos tudo isso na ponta do lápis, é frustrante. Parece não valer a pena. Para entender mais sobre frustrações no trabalho, leia o texto Por que fazem corpo mole? Entendendo a dialética do reconhecimento.
Fazendo escolhas
Bom, então, seja por um motivo seja por outro, temos basicamente três possíveis saídas: desistir e deixar como está, persistir no mesmo lugar ou persistir em outro lugar. Quando a gente desiste, a gente se entrega, é como se a gente morresse por dentro. Então, aqui, surge um foco de melancolia e possível depressão.
Por outro lado, quando a gente persiste, existe uma tendência de que o pensamento não acompanhe as ações. Daí, o foco, a princípio, é de ansiedade. Porém, persistir no mesmo lugar lhe gera um cansaço maior, pois não há formas de alívio: é uma frustração atrás da outra. Já, quando persistimos em lugares alternados, enchemo-nos de gás a cada novo ambiente, a cada novo desafio. E aí está a diferença entre ter esperança e não ter. Afinal, já dizia Eclesiastes 9:4 “enquanto há vida, há esperança”.
Mas persistir nos interesses do vizinho pode nos levar por um caminho muito mais extenso e frustrante. Por isso a importância do indivíduo entender o que ele quer, o que o atrai, o que, de fato, o satisfaz, independente do outro. Não que ele esteja livre de todo o mal. Mas o mal pode durar mais ou menos, pode ser mais ou menos doloroso.
Parabéns pelo texto. Acredito que, o caminho é o autoconhecimento.
Descobri realmente o que seu coração pede, deixar os desejos do ego p trás e perseverar no que realmente nos faz feliz. Uma vida criativa à partir da sua essência, é uma vida mais feliz. Bjos da Mama.
Concordo que seja um processo individual onde cada um deve achar seu proprio caminho e que o mundo todo esta passando pelo mesmo, pois vivemos sob o mesmo sistema. Valeu! 🙂