Concluiu-se a COP30

Uma lacuna entre discurso e ação

Concluiu-se a COP30 em meio a opiniões generalizadas que a consideram insuficiente para frear de maneira efetiva a mudança climática. A cúpula, realizada de 10 a 22 de novembro de 2025, poderia ter impulsionado uma verdadeira transformação energética e ambiental. No entanto, o uso massivo de geradores a diesel e as políticas internas brasileiras evidenciaram uma lacuna entre discurso e ação.

Então, dentro dos aspectos gerais, a COP30 foi a primeira conferência climática realizada em uma cidade amazônica, com forte carga simbólica e política. Reuniu mais de 150 delegações nacionais, chefes de Estado, lideranças institucionais e milhares de representantes da sociedade civil. Essa cúpula foi apresentada como a “COP da verdade”, voltada à implementação de mudanças de paradigma de consumo e exploração. Ao mesmo tempo, o cenário foi marcado por crises geopolíticas, desinformação climática e ausência de liderança dos Estados Unidos. Apesar dessas tensões, o processo multilateral manteve-se operativo e conseguiu evitar um colapso total da negociação.

Líderes e Mobilização Social na COP30

Entre os líderes presentes destacou-se o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva como anfitrião e principal participante. Compareceram também mandatários latino-americanos como Gabriel Boric, do Chile, e Gustavo Petro, da Colômbia, com mensagens bastante críticas à situação ambiental. Além disso, estiveram presentes chefes de governo europeus, representantes africanos e asiáticos, bem como a presidente da Comissão Europeia. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, interveio reiteradamente, convocando maior ambição e coerência em relação às evidências científicas. Contudo, fora das salas oficiais, milhares de ativistas, povos indígenas e movimentos juvenis ocuparam as ruas, reivindicando justiça climática real. Esse contraste permanente entre diplomacia formal e mobilização social marcou o tom político geral de toda a COP30.

Agenda Substantiva e o Pacote de Belém

A agenda substantiva da conferência organizou-se em torno de vários eixos fortemente interconectados entre si. Adaptação e resiliência lideraram as prioridades, seguidas de financiamento climático, florestas e transição justa com dimensão social explícita. Paralelamente, discutiram-se perdas e danos, oceanos, mercados de carbono e compromissos de atores não estatais na agenda climática. O resultado político geral articulou-se no denominado Pacote de Belém, que reúne decisões sobre múltiplos temas. Dentro desse pacote, a Meta Global de Adaptação e seus indicadores ocuparam um lugar especialmente destacado e sensível. Também foram adotadas decisões sobre transição justa, florestas tropicais, financiamento para adaptação e funcionamento do Fundo de Perdas e Danos. No entanto, temas críticos como combustíveis fósseis e desmatamento permaneceram notoriamente enfraquecidos no texto final aprovado.

Meta Global de Adaptação e seus Indicadores

A Meta Global de Adaptação decorre de decisões anteriores, mas somente em Belém se acordou um conjunto concreto de indicadores. Após anos de trabalho técnico, as partes reduziram propostas iniciais muito amplas a uma lista final de 59 indicadores. Esses indicadores buscam medir o progresso coletivo em resiliência frente a impactos climáticos, para além de experiências nacionais isoladas. Abrangem setores como água, agricultura, sistemas alimentares, saúde, ecossistemas, infraestrutura, assentamentos humanos e meios de vida vulneráveis. Incluem, ainda, indicadores sobre políticas de adaptação, planejamento, integração em estratégias de desenvolvimento e meios de implementação disponíveis. Todavia, seu caráter é voluntário e não prescritivo, concebido para respeitar a diversidade de contextos, capacidades e prioridades nacionais. Ainda assim, o debate sobre sua coerência técnica e utilidade prática ocupou boa parte das negociações.

Indicadores Críticos por Setor

Os indicadores considerados mais críticos concentram-se em setores onde os impactos climáticos já são severos e crescentes. Em água, incluem-se métricas sobre redução da escassez hídrica, acesso seguro e gestão integrada de secas e inundações. Para agricultura e sistemas alimentares, aparecem referências a terras manejadas com práticas resilientes e cadeias de suprimento sustentáveis. Portanto, o componente de saúde contempla indicadores sobre mortalidade e morbidade associadas a ondas de calor e inundações. Em ecossistemas e biodiversidade, consideram-se métricas sobre manutenção de serviços ecossistêmicos e redução da degradação em áreas-chave. Em conjunto, esses temas oferecem uma base inicial para avaliar se a adaptação realmente reduz vulnerabilidades concretas.

Meios de Implementação e Justiça Climática

Outros indicadores referem-se aos meios de implementação necessários para sustentar a adaptação ao longo do tempo. Neles se situam métricas sobre financiamento específico para adaptação, tanto público quanto privado, e sua acessibilidade para países vulneráveis. Incluem-se também referências à transferência de tecnologia, cooperação técnica internacional e apoio a planos nacionais de adaptação. O conjunto incorpora, ainda, linguagem sobre abordagens sensíveis a gênero, direitos humanos e participação significativa de comunidades locais e povos indígenas. Estimula-se explicitamente a desagregação de dados por gênero, idade, território e ecossistema para identificar desigualdades de impacto. Em termos teóricos, esses elementos conectam a medição de resiliência com transformações institucionais reais orientadas à justiça climática.

Conclui-se a COP30.

Limitações Técnicas dos Indicadores

Numerosos institutos de pesquisa consideram, entretanto, que o pacote de 59 indicadores permanece incompleto e fragmentado. Diversas formulações foram reescritas às pressas nas últimas horas, perdendo precisão técnica e clareza metodológica em relação a propostas anteriores. Alguns indicadores são tão amplos que será difícil construir séries comparáveis entre países com capacidades estatísticas diferentes. Outros apresentam ambiguidades importantes sobre como contabilizar financiamento de adaptação ou relacionar resultados a riscos climáticos específicos. Além disso, ficaram de fora temas apontados por especialistas, como certos riscos transfronteiriços e determinados impactos de evolução lenta. Por essa razão, várias análises descrevem o resultado como um ponto de partida imperfeito, mais do que um marco consolidado.

Florestas Tropicais e Direitos Indígenas

Em paralelo, a COP30 produziu resultados relevantes em matéria de florestas tropicais, natureza e direitos territoriais de povos indígenas. Destacou-se a criação do mecanismo financeiro Tropical Forests Forever Facility, que recebeu compromissos iniciais próximos a sete bilhões de dólares. Esse instrumento pretende mobilizar mais recursos públicos e privados, destinando uma fração significativa diretamente a comunidades indígenas e locais. Governos e doadores também comprometeram recursos específicos para a conservação de florestas na Bacia do Congo.

Transição Justa e Ausências Críticas

Outro avanço institucional foi o Mecanismo de Ação de Belém para Transição Justa, com participação formal de trabalhadores. Esse mecanismo busca apoiar políticas que combinem descarbonização, trabalho decente e proteção social em diferentes contextos nacionais. Apesar disso, os recursos financeiros claramente etiquetados para transição justa continuam escassos, fragmentados e de caráter pouco previsível. Em contraste, o texto final omitiu qualquer referência robusta à eliminação progressiva dos combustíveis fósseis. Tampouco se acordou uma rota vinculante para deter e reverter o desmatamento global antes de 2030. Países altamente vulneráveis classificaram essas ausências como um fracasso moral do processo, apesar de certos avanços em adaptação.

Balanço Final: Oportunidades e Desafios

Em conjunto, a COP30 deixa um balanço misto, com inovações pontuais, mas sem enfrentar plenamente as causas estruturais do problema. Os indicadores de adaptação oferecem uma oportunidade para medir a resiliência, desde que sejam tecnicamente aprimorados e recebam financiamento adequado. As próximas COP deverão transformar esse pacote disperso em políticas nacionais exigíveis, coerentes com a ciência e socialmente justas.

André Tejerina

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