Entre o Controle e o Fluxo

Viver no Mundo BANI

Vivemos entre o controle e o fluxo, em um tempo em que a sensação de controle parece escorregar pelas mãos. Mesmo quando planejamos, organizamos e tentamos prever todos os passos, o inesperado se apresenta — às vezes de maneira sutil, outras, de forma abrupta. Não porque executamos algo errado, mas porque o mundo em que vivemos mudou em sua própria lógica.

Se por muito tempo descrevemos o mundo como VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo), hoje falamos do mundo BANI:

  • Frágil: estruturas que parecem sólidas se desfazem rápido;
  • Ansioso: excesso de estímulos pressiona emoções e decisões;
  • Não Linear: causas não geram efeitos proporcionais;
  • Incompreensível: nem tudo pode ser explicado com racionalidade.

O caminho do controle

Então, nesse cenário, é natural que o desejo de controle aumente. Buscamos previsibilidade, estabilidade e respostas. No entanto, quando tentamos controlar tudo, entramos em um estado de tensão permanente, de defesa e hiperalerta.

O controle absoluto, porém, não existe — e insistir em mantê-lo pode nos afastar da vida real que pulsa no presente.

O caminho do fluxo

Entretanto, há um outro caminho: o caminho do fluxo.

O flow, conceito de Mihaly Csikszentmihalyi, é o estado de presença profunda, onde estamos inteiros no que fazemos.
Sem passado nos puxando para trás, nem futuro nos consumindo pela ansiedade.
Apenas experiência viva.

Contudo, para entrar em fluxo, é preciso algo que o controle não concede:
Confiança.
Confiança na própria capacidade de responder à vida, ao invés de tentar dominá-la.

E aqui entramos em uma competência essencial para o nosso tempo: a resiliência.
Mas talvez resiliência — no sentido de apenas “voltar ao que era antes” — já não seja suficiente.

Entre o controle e o fluxo.

O mundo BANI

No mundo BANI, não precisamos apenas resistir. Precisamos nos transformar.

Nassim Taleb chama isso de Antifragilidade: o movimento de crescer com o impacto, aprender com o inesperado e se tornar mais forte justamente por causa da experiência, e não apesar dela.

A resiliência sustenta.
A antifragilidade expande.

  • Onde há desafio, nasce potencial.
  • Onde há ruptura, surge possibilidade.
  • Onde há mudança, há crescimento.

Portanto, não se trata de romantizar a dor, mas de reconhecer que a vida se desenvolve na dinâmica entre controle e entrega.

Equilibrar ação com abertura.
Estruturar, mas permitir o novo.
Planejar, mas não se aprisionar ao plano.

Então, esse é o movimento maduro da consciência contemporânea:
fazer o que cabe a nós — com presença, intenção e clareza — e permitir que a vida também faça a parte dela.

Soltar não é perder o controle.
É deixar espaço para que o novo aconteça.


Convite para a semana

Observe com carinho:

O que você está tentando controlar além do necessário?
e
O que poderia fluir um pouco mais, se você confiasse mais em si e na vida?

Respire.
Entre o controle e o fluxo, existe um espaço.
É nesse espaço que a vida acontece.

Sarita Cesana – Psicóloga

Compartilhar

Deixe um comentário