Mergulhando na Alma dos Lugares
Todo ano, no verão Europeu, venho para a Espanha, ficar com minha filha e netos, já que as férias escolares são longas, e aproveito para estar com as crianças, cuidar enquanto os pais trabalham, criar memórias afetivas e, principalmente, mergulhar no universo, tão diferente, que é (literalmente) a alma deste Pueblo, cercado de verde, cachoeiras, trilhas, castelos, e histórias, por todos os lados. Existe uma diferença gigantesca entre visitar um lugar e verdadeiramente conhecê-lo. Enquanto o turismo convencional nos ensina a correr contra o tempo, marcando pontos turísticos numa lista interminável, estar aqui, me faz compreender que a magia acontece quando paro, respiro e me permito ser absorvida pela alma e rotina local. Esta sim, a arte de viajar devagar.
Vivendo o dia a dia do lugar
Este é o terceiro ano que venho, especificamente, para este lugar, aonde eles vieram morar, após a pandemia.
Estar por 30/45 dias convivendo com todos os moradores me permite conhecer detalhes, que de passagem não poderia: até as “fofocas” do lugar ficam mais acessíveis. As máscaras do turismo, chamado convencional, caem, e quem tem uma oportunidade como esta, começa a perceber os detalhes que nenhum guia de viagem consegue capturar: o cheiro do café pela manhã numa padaria de bairro, as conversas casuais no mercado local, o som familiar dos passos dos vizinhos no corredor.
Essa imersão temporal permite transcender a superfície. Deixamos de ser espectadores para nos tornarmos participantes temporários de uma comunidade. É quando descobrimos que cada lugar tem sua própria música interior, seu ritmo único que só se revela para quem tem paciência de escutar. Então, volto a afirmar: a arte de viajar devagar.

O Poder Transformador das Conexões Humanas
As relações humanas autênticas são o verdadeiro tesouro de qualquer viagem prolongada. Quando ficamos tempo suficiente em um lugar, as barreiras iniciais se dissolvem naturalmente. O vendedor da esquina começa a nos cumprimentar pelo nome, as senhorinhas que andam na rua com bengalas nos contam histórias de suas juventude, as crianças, que brincam até tarde nas ruas, já sabem quem eu sou, e o garçom do café favorito já sabe exatamente como gostamos do nosso expresso.
Essas conexões nos ensinam que, independentemente da língua, cultura ou tradições, existe uma humanidade universal que nos une. Cada conversa, cada sorriso compartilhado, cada momento de compreensão mútua amplia nossa perspectiva sobre o mundo e sobre nós mesmos.
Absorvendo a Sabedoria Cultural
A cultura real não vive nos museus ou monumentos – embora estes tenham seu valor. Ela pulsa nas ruas, nas casas, nos gestos cotidianos das pessoas. Quando nos permitimos viver temporariamente como um local, começamos a compreender as nuances que definem uma sociedade.
Aprendemos por que certas tradições persistem, como os valores se manifestam no dia a dia, e de que forma a história moldou o presente. Essa compreensão profunda nos torna não apenas viajantes mais conscientes, mas cidadãos globais mais empáticos e informados.
Redescobrindo a Paciência numa Era de Pressa
Confesso que já resisti a me entregar a essa experiência, porém agora faço um mergulho interno, e externo, que tem me feito muito bem.
Viajar devagar é um ato de resistência contra a velocidade desenfreada do mundo moderno. É escolher a qualidade sobre a quantidade, a profundidade sobre a amplitude. Quando nos damos o luxo do tempo, descobrimos que não precisamos ver tudo para experimentar muito. Cada manhã se torna uma oportunidade de descoberta, cada tarde uma chance de aprofundar conexões, cada noite uma reflexão sobre os pequenos aprendizados do dia. Essa abordagem contemplativa nos ensina a valorizar o processo tanto quanto o destino.
O Retorno Transformado
Quando finalmente deixamos um lugar onde vivemos temporariamente, não somos mais os mesmos. Carregamos conosco não apenas memórias, mas perspectivas transformadas, amizades genuínas e uma compreensão mais rica da diversidade humana.
Essa bagagem invisível é o que distingue o viajante do turista. É a diferença entre colecionar experiências e ser moldado por elas. É a arte de permitir que o mundo nos mude, ao mesmo tempo que deixamos nossa própria marca nos corações daqueles que conhecemos pelo caminho.
A Arte de Viajar devagar não é apenas uma escolha de estilo – é uma filosofia de vida que nos lembra que os melhores tesouros são descobertos não pela velocidade dos nossos passos, mas pela profundidade do nosso olhar.
Portanto, fica a minha dica, faça menos, aproveite mais, ao invés de correr para ver o máximo de estruturas, que você pode até visitar virtualmente, olhe as pessoas, saboreie a cozinha típica, respire o ar e os hábitos do local, ande sem pressa, se desvie dos pontos turísticos e explore a imensidão de pequenas vilas e recantos encantadores, que não estão disponíveis no Google.
Semana que vem conto um pouquinho mais das minhas experiências por aqui: cada semana pode ser longa, em um lugar aonde o tempo passa devagar, e pode “voar” quando as experiências são intensas e profundas.
Sarita Cesana
Psicóloga CRP 17-0979
@saritacesana_ @implementeconsultoria