Filosofia de vida
Alguns chamam de lagom, outros de niksen, sendo a sua maioria de origem nórdica. As filosofias de vida para a felicidade vão ganhando espaço na mídia, à medida que o cansaço e os transtornos vão somando vítimas em todo o mundo. A grosso modo, o segredo da felicidade nesses países desenvolvidos é o equilíbrio das atividades diárias: trabalho, lazer, alimentação, atividades físicas. Bom, nada que, no fundo, já não saibamos, certo? Nada que Immanuel Kant já não nos tivesse prevenido em sua obra ‘Crítica da Razão Pura’, ao dar dicas de como evitar pensamentos mórbidos.
Então, a questão é: por que não praticamos as filosofias de vida de lugares como esses em que grande parte das populações afirma ser feliz? Parece tão palpável…
Diferenças de capital
Bom, pensando que estamos no Brasil, cuja jornada de trabalho é uma das maiores do mundo e a produtividade, em contrapartida, é umas das menores, e, para completar, possui políticas públicas que não contribuem com a qualidade de vida do cidadão, essas já poderiam ser justificativas suficientes. Pelo menos, para a maioria da população.
O grande problema em países como o Brasil é que, de um lado temos as camadas mais baixas da sociedade, lutando para pagar as suas contas e sair das dívidas, do outro temos pessoas em desejo constante por ascensão social. Dinheiro nunca é suficiente. Assim, o trabalho não só é mandatório como é excessivo, pungente.
Não é só sobre saber parar, mas conseguir parar. É possível? Para quem é possível? Em qual circunstância?
Viver o niksen, o lagom ou mesmo o dolce far niente é sobre ter tempo. Às vezes, é sobre o quanto de tempo você consegue comprar, mas, às vezes, é sobre se permitir ter tempo. É sobre prioridades, sobre sentir-se à vontade ou não. É sobre escolhas, é sobre abrir mão. Pois é, ninguém falou que seria fácil. Talvez, em alguns países seja mais acessível que em outros.
Mas se eu estou munido de tempo, como faço para viver uma filosofia como essa?
Vivendo uma filosofia
Bom, se estamos falando de filosofia, estamos falando de conhecimento, certo? E como viver um conhecimento que não temos? Nos países nórdicos, esses são conhecimentos vividos e passados de geração para geração. As pessoas nascem e crescem nesse sistema. Essa não é a nossa cultura. Não de nós brasileiros.
Quando a gente nasce na cultura, normalmente, a gente só repete o que os outros fazem ao nosso redor. A gente não costuma parar para analisar o que estamos fazendo ou por que estamos fazendo determinada coisa. Para quem não é parte de uma cultura e anseia por vivê-la mesmo assim, não se trata tanto de entendê-la, mas de entender quem é você dentro dela. Afinal, a felicidade é algo de subjetivo.
Para concluir, cito uma passagem de Sigmund Freud em ‘O mal-estar na civilização’:
No sentido moderado em que é admitida como possível, a felicidade constitui um problema da economia libidinal do indivíduo. Não há, aqui, um conselho válido para todos; cada um tem que descobrir a sua maneira particular de ser feliz. Fatores os mais variados atuarão para influir em sua escolha. Depende de quanta satisfação real ele pode esperar do mundo exterior e de até que ponto é levado a fazer-se independente dele; e também, afinal, de quanta força ele se atribui para modificá-lo conforme seus desejos.
Já dizia Jacques Lacan: que queres?