O Plástico

E a Era do polímero

O plástico moderno tem sido alvo de duras críticas devido ao difícil tratamento e à grande poluição que gera. Entretanto, o plástico também possui uma história de pesquisa científica e de desenvolvimento tecnológico que não podemos ignorar. Esse material nasceu com a baquelita, primeiro plástico completamente sintético e termoestável, de Leo Baekeland, em 1907. Essa descoberta, realizada em seu laboratório na cidade de Nova York, inaugurou a chamada Era do Polímero.

O crescimento explosivo e a poluição insustentável

Após a Segunda Guerra Mundial, sua produção cresceu de forma explosiva, abrangendo embalagens, eletrônica, medicina e transporte. Naquele momento, acreditava-se que o plástico representava um salto rumo a um futuro sustentável. Isso porque evitava a derrubada de árvores para produzir embalagens de papel e garantia higiene para conter líquidos. Sob uma ótica social, os plásticos ampliaram segurança, higiene e acessibilidade a bens cotidianos. Infelizmente, seu desenho linear impulsionou o consumo descartável e sobrecarregou sistemas de resíduos, criando poluição insustentável em muitos lugares do planeta.

Hoje produzimos centenas de milhões de toneladas de plásticos a cada ano. Somente em 2020, seu uso chegou a 435 milhões de toneladas globais. De toda essa quantidade de plástico, apenas 9% é reciclado em escala mundial, 19% é incinerado e 50% vai para aterros controlados. Os 22% restantes são queimados a céu aberto ou dispersos. Os dados mais alarmantes indicam que entre 1 e 2 milhões de toneladas anuais de resíduos plásticos chegam ao oceano.

A maior parte desse vazamento para o oceano provém de rios da Ásia e da África. Não obstante, é certo que todos os países contaminam o oceano com plástico de uma forma ou de outra. Modelos de 2017 sugeriram que 10 rios — Yangtzé, Huang He, Hai He, Zhujiang, Amur, Mekong, Indo, Ganges, Nilo e Níger — aportam 88–94% do plástico fluvial. Além disso, há consenso científico de que as bacias urbanas dominam os aportes de resíduos plásticos nos cursos d’água.

A Grande Mancha

A tudo isso, o caso mais emblemático de poluição por plástico é a denominada Grande Mancha de Lixo do Pacífico. Ela se encontra no oceano Pacífico Norte, aproximadamente entre o Japão e os Estados Unidos. Sua superfície estimada gira em torno de 1,6 milhão de quilômetros quadrados, equivalente a duas vezes o Estado do Texas. De acordo com os estudos mais recentes, suas massas flutuantes contêm pelo menos 79.000 a 100.000 toneladas de lixo, principalmente plástico.

Ventos e correntes transformam a Grande Mancha em um sistema dinâmico. Suas fronteiras se deslocam sazonalmente com mudanças de vento, ondulação e gradientes térmicos. Isso ocorre porque essa zona do oceano gera rotação do giro da água, concentrando objetos flutuantes durante anos. Entre os maiores problemas estão os macroplásticos, que respondem pela maior parte da massa total. Todavia, os microplásticos dominam a contagem de partículas.

Os microplásticos representam uma das formas mais difundidas e persistentes de poluição ambiental no planeta atualmente. Eles são encontrados em todos os cantos do planeta; há inclusive evidências de sua presença na corrente sanguínea humana. Esses fragmentos têm menos de cinco milímetros de diâmetro, o que lhes permite infiltrar-se facilmente em ecossistemas terrestres, marinhos e aéreos. Sua origem provém tanto da degradação de macroplásticos quanto da fabricação intencional de partículas plásticas pela indústria. Em consequência, sua ubiquidade coloca desafios jurídicos, científicos e de saúde pública de grande magnitude para a comunidade internacional.

O Plástico, a grande mancha.

Normas e regulamentações internacionais

No âmbito internacional, foram criadas normas que buscam regular vários elos do problema dos plásticos nos oceanos. Por exemplo, a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar obriga os Estados a adotar leis para controlar a poluição por plásticos de fontes terrestres e marinhas. Por sua vez, a Convenção Internacional para Prevenir a Poluição por Navios proíbe o descarte de plásticos a partir de embarcações. Além disso, a ONU tentou negociar um tratado global sobre plásticos entre 2022 e 2025. Entretanto, em agosto de 2025, a rodada de negociações do tratado mundial sobre plásticos, INC-5.2, concluiu sem acordo definitivo.

Quanto às iniciativas privadas para limpar a Grande Mancha, destaca-se a The Ocean Cleanup, que opera sistemas rebocados para capturar macroplásticos flutuantes. Dessa forma, a limpeza oceânica combina tecnologias e cooperação internacional. Além disso, implanta interceptores em rios prioritários, complementando esforços costeiros e fechando fontes terrestres que alimentam acumulações oceânicas persistentes. Apesar de todos os esforços, não se conseguiu reverter o dano ambiental causado pelo plástico nos oceanos. Isso porque o projeto de limpeza requer financiamento sustentado, alianças com governos locais e marcos regulatórios claros. Portanto, ainda há muito trabalho para se alcançar um projeto de limpeza plenamente eficaz para controlar a poluição por plástico.

As soluções e medidas mitigadoras a médio e longo prazo

Enfrentar a poluição plástica exige combinar prevenção em terra, governança internacional efetiva e limpeza oceânica cuidadosamente planejada. Por isso, reduzir resina virgem, adotar ecodesign de embalagens reutilizáveis e ampliar a responsabilidade do produtor tornam-se prioridades imediatas e verificáveis. De maneira complementar, operações de limpeza de macroplásticos devem integrar avaliações ambientais independentes, mitigações operacionais e rastreabilidade completa dos resíduos. Igualmente, a pesquisa sobre microplásticos deve padronizar métodos, precisar efeitos crônicos e orientar políticas sanitárias, pesqueiras e alimentares. Portanto, uma combinação de direito, ciência, financiamento e participação social transformará a crise em soluções duradouras e mensuráveis.

André Tejerina

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