O Piloto Automático Mental
Tenho vivido experiências incríveis: inclusive entre pessoas próximas, que mudaram muito, com o tempo, a maturidade, ou por outros motivos pessoais. Fico observando o quanto os estereótipos nos impedem de enxergar essa nova versão de nós mesmos.
Imagine que você está caminhando pela rua e vê um jovem com roupas largas, boné virado para trás e fones de ouvido. Qual a primeira impressão que vem à sua mente? E se eu te disser que ele é um estudante de medicina, que estava ouvindo uma palestra sobre neurociência?
Nosso cérebro é uma máquina incrível de processamento de informações, mas para funcionar eficientemente, ele criou alguns “atalhos mentais” chamados de heurísticas. Os estereótipos são um desses atalhos – uma forma rápida de categorizar pessoas e situações baseada em experiências passadas ou informações culturais.
O problema surge quando esses julgamentos se tornam rígidos e desatualizados. Continuamos operando com “software” mental de décadas atrás, sem perceber que o mundo mudou drasticamente ao nosso redor, e que as pessoas, que um dia conhecemos de um “jeito”, podem ter mudado também.

Exemplos de Estereótipos que Perderam o Sentido:
O Profissional Bem-Sucedido: Antigamente, sucesso profissional era sinônimo de terno, gravata e escritório. Hoje, alguns dos empreendedores mais influentes trabalham de casa, de bermuda e camiseta.
A Mãe Ideal: Por décadas, a “boa mãe” era aquela que ficava em casa, cozinhava e cuidava das crianças. Hoje sabemos que mães que trabalham fora também podem criar filhos saudáveis e felizes.
O Jovem Irresponsável: Gerações mais velhas muitas vezes veem os jovens como preguiçosos ou viciados em tecnologia. Mas essa mesma geração está criando soluções inovadoras para problemas complexos e tem uma consciência social impressionante.
Por Que É Difícil Abandonar os Estereótipos?
1. Viés de Confirmação
Tendemos a buscar informações que confirmem nossas crenças preexistentes e ignorar evidências contrárias.
2. Economia Cognitiva
Julgar rapidamente economiza energia mental. É mais fácil encaixar alguém em uma categoria conhecida do que analisar cada pessoa individualmente.
3. Pressão Social
Muitas vezes, nossos grupos sociais reforçam esses estereótipos, tornando difícil questioná-los.
Como Quebrar o Ciclo?
Pratique a Curiosidade Genuína
Em vez de assumir, pergunte. “Que interessante, me conte mais sobre isso” pode abrir mundos inteiros de compreensão.
Questione Suas Primeiras Impressões
Quando formar um julgamento rápido sobre alguém, pare e pergunte: “Em que estou baseando essa opinião? Que evidências reais eu tenho?” Busque diferenciar evidências de inferências.
Exponha-se à Diversidade
Saia da sua bolha social. Converse com pessoas de diferentes idades, profissões, culturas e estilos de vida.
Atualize Suas Referências
O mundo de 2025 é muito diferente do de 2005. Conscientemente, revise suas crenças sobre profissões, relacionamentos, tecnologia e comportamentos sociais.
A Liberdade de Ver com Olhos Novos
Quando conseguimos nos livrar dos estereótipos desatualizados, ganhamos algo precioso: a capacidade de ver as pessoas como realmente são, não como achamos que deveriam ser.
Isso não significa ser ingênuo ou abandonar completamente nossa capacidade de avaliação. Significa ser mais precisos em nossos julgamentos e mais abertos às surpresas positivas que a vida pode nos oferecer.
Reflexão Final
Todos estamos sujeitos a mudar, e é importante observar atentamente as transformações que ocorreram na vida das pessoas que conhecemos.
Da próxima vez que você se pegar fazendo um julgamento rápido sobre alguém, pause por um momento. Pergunte-se: “Esse pensamento reflete a realidade atual ou é apenas um pré-julgamento, ou um eco do passado?”
Talvez você descubra que aquela pessoa que inicialmente parecia tão diferente de você tem muito mais em comum do que imaginava. E talvez, só talvez, você encontre uma nova perspectiva, uma nova amizade ou uma nova forma de ver o mundo.
Afinal, em um mundo em constante mudança, nossos olhos também precisam aprender a se renovar, já que os estereótipos nos impedem de enxergar essa nova versão de nós mesmos.
SARITA CESANA
Psicóloga CRP 17-0979
@saritacesana_ @implementeconsultoria