Reflexões sobre coragem, autoengano e crescimento humano em tempos BANI
Vivemos em um mundo descrito por tantos acrônimos — VUCA, BANI, hiper conectado, líquido — que às vezes esquecemos de uma verdade simples: nunca foi tão difícil sustentar a coerência entre o que se diz, o que se sente e o que se faz. Por vezes fugimos de enfrentar verdades duras e mentiras convenientes sendo preferidas.
No universo do trabalho, especialmente, somos desafiados diariamente por paradoxos: a pressão por resultados e a busca por sentido, a necessidade de adaptação e o medo de errar, o discurso da transparência e as práticas ainda baseadas no controle. Nesse cenário de volatilidade e ansiedade, surgem as mentiras convenientes — pequenas narrativas que inventamos para preservar o equilíbrio aparente, evitar desconfortos e seguir em frente.
As mentiras convenientes
São aquelas frases silenciosas que ecoam no cotidiano:
“Está tudo bem.”
“É só uma fase.”
“Não vale a pena mexer nisso agora.”
Mentiras suaves, ditas com boas intenções, mas que nos afastam da escuta autêntica e da transformação real.
A verdade dura
A verdade dura, por outro lado, é aquela que desafia o conformismo. É o espelho que reflete o que tentamos ignorar: um trabalho que já não inspira, uma liderança que perdeu propósito, uma cultura que prega inovação, mas teme o erro.
Encará-la exige coragem — e essa coragem nem sempre nasce pronta.
Como psicóloga e consultora, percebo que as organizações que realmente amadurecem são aquelas que aprendem a lidar com as verdades, mesmo as mais incômodas. Porque nelas há espaço para o diálogo honesto, para o feedback que constrói, para a vulnerabilidade que humaniza.

O contexto BANI
No contexto BANI — frágil, ansioso, não linear e incompreensível — o papel da verdade torna-se ainda mais essencial. Em meio ao ruído, ela é um ponto de ancoragem.
A verdade pode desorganizar por um momento, mas organiza por dentro depois.
A mentira, ao contrário, mantém tudo aparentemente estável, enquanto corrói a confiança e a coerência.
A maturidade emocional começa quando escolhemos encarar o que é, em vez de sustentar o que aparenta ser.
A verdade traz a lucidez
Nem sempre a verdade traz conforto, mas sempre traz lucidez.
E é na lucidez que nascem as decisões mais honestas — conosco, com as equipes e com o mundo.
A liderança consciente — aquela que equilibra empatia e autenticidade — não foge das verdades duras. Ela entende que conversar sobre o que incomoda é mais saudável do que silenciar o que destrói. Portanto Verdades Dura e Mentiras Convenientes não se conectam quando a liderança é consciente.
E que um ambiente psicologicamente seguro não é aquele em que todos concordam, mas aquele em que todos podem dizer o que pensam, com respeito e escuta genuína.
Porque crescer, no fundo, é isso: suportar o desconforto do real e transformar o incômodo em consciência.
“A mentira confortável é um cobertor curto: esquenta por um instante, mas não te deixa dormir em paz.”
✨ Reflexões sobre o humano, o trabalho e a consciência.
Por Sarita Cesana | Psicóloga & Consultora em Gente e Cultura
CRP 17-0979
@saritacesana_ @implementeconsultoria