O aquecimento global

E o efeito estufa

O aquecimento global é um fenômeno que implica o aumento sustentado da temperatura média do planeta. Isso se deve ao acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera, atribuídos principalmente ao dióxido de carbono (CO₂). De modo geral, esses gases se concentraram de forma extraordinária devido às atividades humanas desde a Revolução Industrial. No entanto, sempre existiram emissões naturais provenientes de vulcões, incêndios florestais, decomposição de matéria orgânica, entre outras fontes.

A diferença entre as emissões humanas e naturais reside principalmente em seu efeito cumulativo e na velocidade com que são liberadas. Essas características impedem que os mecanismos naturais de filtragem, como a vegetação terrestre ou o fitoplâncton marinho, consigam processar eficientemente esses gases. Isso provoca seu acúmulo na atmosfera e, consequentemente, o aumento da temperatura global. As consequências desse aquecimento são evidentes em fenômenos como ondas de calor extremas, incêndios florestais, secas prolongadas e eventos climáticos intensificados.

O aquecimento global é uma realidade inegável, respaldada por uma quantidade esmagadora de dados científicos. Segundo a Organização Meteorológica Mundial, a temperatura média global aumentou mais de 1,1 °C desde a era pré-industrial, alcançando um recorde de 1,55 °C em 2024. É importante lembrar que tratados internacionais, como o Acordo de Paris, estabelecem como meta evitar que esse aumento ultrapasse os 1,5 °C. No entanto, esse limite já foi temporariamente superado, o que coloca em dúvida a capacidade internacional e a vontade política de conter sua progressão.

O aquecimento global

Os indicadores das mudanças climáticas

Um dos indicadores mais visíveis e relevantes das mudanças climáticas é o recuo das calotas polares. Recentemente, a revista Science China Earth Sciences publicou um estudo que relata um aumento anômalo da massa de gelo na Antártica entre 2021 e 2023. Contudo, é fundamental distinguir entre a camada de gelo marinho, que flutua sobre o oceano, e o gelo terrestre, que repousa sobre massas continentais. Embora esse aumento seja atribuído a precipitações incomuns, trata-se de um fenômeno temporário que não reverte a tendência de perda contínua. Nas últimas décadas, a Antártica perdeu, em média, 150 gigatoneladas de gelo por ano, contribuindo para a elevação do nível do mar em aproximadamente 0,4 milímetros anuais.

O Ártico, por sua vez, apresenta uma situação ainda mais crítica. Desde 1979, a extensão mínima do gelo marinho em setembro tem diminuído a uma taxa de 12,2% por década. Em março de 2025, foi registrada a menor extensão máxima em 47 anos, com 14,33 milhões de quilômetros quadrados. Essa redução afeta não apenas o equilíbrio climático global, mas também os ecossistemas e comunidades que dependem do gelo marinho para sua subsistência. Ainda que variações de curto prazo possam estar associadas a fenômenos como El Niño ou La Niña, a tendência de longo prazo confirma um aquecimento sustentado e uma perda líquida de gelo.

A retroalimentação positiva

Além disso, é importante compreender que o aumento da temperatura global gera efeitos em cascata que impactam todo o planeta. O derretimento do permafrost libera metano, um gás de efeito estufa ainda mais potente que o dióxido de carbono, o que acelera ainda mais o aquecimento. Ademais, a redução do gelo marinho diminui a capacidade da Terra de refletir a radiação solar, intensificando o efeito estufa. Esses processos se retroalimentam, agravando ainda mais as mudanças climáticas, em um ciclo conhecido como retroalimentação positiva.

Em decorrência do artigo da Science China Earth Sciences, algumas vozes sugeriram que o aquecimento global é um exagero ou até mesmo uma farsa. No entanto, o principal obstáculo para enfrentar essa crise é a desinformação, que distorce a percepção pública e enfraquece os esforços de mitigação. Por isso, é fundamental apoiar-se no consenso científico e em fontes verificáveis para dimensionar corretamente a gravidade do problema. Negar a evidência do aquecimento global apenas retarda as ações urgentes necessárias para proteger nosso planeta e nossos modos de vida.

A janela de tempo para agir está se fechando

As projeções mais recentes indicam que, se não forem adotadas medidas drásticas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o aquecimento global poderá ultrapassar os 2 °C nas próximas décadas. Isso acarretaria consequências catastróficas, como o aumento da frequência de eventos climáticos extremos, a perda acelerada da biodiversidade e deslocamentos massivos de populações humanas. A janela de tempo para agir está se fechando rapidamente, e os efeitos já são palpáveis.

Nesse contexto, é imperativo que os governos, as empresas e a sociedade civil atuem com urgência, compromisso e responsabilidade. A transição para um modelo econômico e energético sustentável não é apenas possível, mas necessária para garantir condições habitáveis no futuro.

Em conclusão, somente por meio do conhecimento, da cooperação internacional e da ação coletiva será possível enfrentar esse desafio planetário sem precedentes. A oportunidade para mudar o rumo ainda existe, mas exige decisões firmes e coerentes com a magnitude do problema.

André L. Tejerina Queiroz (Ph.D.)

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