Nas Areias da Imaginação

Tudo é possível

Leo tinha 16 anos e uma alma de sonhador. Caminhava solitário pela beira da praia, onde as ondas sussurravam segredos e o vento lhe acariciava o rosto como uma mãe amorosa que ele nunca teve. Sua mente, uma vastidão de fantasias, abrigava uma família imaginária que o abraçava com ternura, oferecendo-lhe amor e presentes que no mundo real jamais viriam. Então pode-se dizer que ele caminhava “Nas Areias da Imaginação”.

Um encontro inusitado

Em um desses passeios solitários, em meio ao som hipnótico das ondas, Leo avistou algo incomum: uma massa gelatinosa, translúcida, flutuando graciosamente na água. Atraído por um impulso inexplicável, ele se aproximou e, com hesitação, tocou-a com o dedo indicador. Quase como mágica, a massa começou a se expandir e a tomar forma até se transformar em uma imagem perfeita dele mesmo, mas feita de gelatina. Eles se olharam, espantados, e logo começaram a se comunicar de uma maneira que dispensava palavras: telepaticamente.

Nas Areias da Imaginação, um encontro inusitado.
Fonte: Imagens criadas pelo DALL-E + 3 com prompts de Manoel Augusto Queiroz.

Assim começou a simbiose entre Leo e a criatura, a quem ele nomeou Meru. Eles compartilhavam pensamentos, sentimentos e sonhos de uma profundidade que Leo jamais imaginara possível. Tudo que passava pela mente do rapaz era refletido em Meru, e juntos, eles viviam como um só ser. Leo descobriu uma nova dimensão de entendimento e empatia, mergulhando na essência das pessoas ao seu redor, captando seus sentimentos mais íntimos e sonhos secretos.

Uma conexão perfeita

Através de Meru, Leo conheceu verdadeiramente seus pais e irmãos, compreendendo as complexidades que os moldavam. Em suas noites solitárias, ele se refugiava numa estação espacial imaginária, orbitando a Terra, invisível aos olhos humanos. Esse lugar era um santuário de tecnologia avançada, inspirada em seus amados livros de ficção científica. Ali, Leo armazenava em um supercomputador todas as informações que Meru lhe transmitia, criando um arquivo vivo das emoções humanas.

Apesar de sua extraordinária conexão com Meru, a solidão continuava a ser uma sombra em sua vida. Leo era um rapaz isolado, suas profundas compreensões sobre a humanidade apenas o afastavam ainda mais daqueles ao seu redor. Ele sentia uma mistura de compaixão e pena pelas pessoas, ciente de suas dores e esperanças.

A separação

Meru e Leo permaneceram inseparáveis até que Leo completou 18 anos. Naquele fatídico dia, voltaram à mesma praia onde se encontraram pela primeira vez. A separação havia sido decidida antecipadamente, uma necessidade dolorosa mas inevitável. Meru estava grato por todas as experiências compartilhadas, pelos momentos de amor e compreensão que haviam desenvolvido um pelo outro. Com um sentimento de melancolia, Meru se desfez em uma massa gelatinosa, fundindo-se com a água do mar. Leo observou, com lágrimas nos olhos, enquanto Meru se afastava da costa e se perdia nas profundezas do oceano. Da mesma forma como um dia havia vindo nas areias da imaginação.

Mesmo separados, uma conexão invisível permanecia. Toda vez que Leo retornava à praia e mergulhava sua cabeça na água, ele sentia a presença de Meru e recebia uma torrente de informações sobre os lugares por onde Meru havia passado e as vidas que havia tocado. Essa comunhão, ainda que etérea, lhe trazia conforto.

Reconectando

E assim, Leo seguiu seu caminho, mais maduro e ainda mais empático, carregando em seu coração a marca indelével de Meru. Suas caminhadas pela praia nunca mais foram solitárias, pois ele sabia que, nas profundezas do mar e nas areias da imaginação, seu amigo gelatinoso ainda estava lá, guardando e compartilhando segredos do vasto mundo dos sentimentos humanos.

Curitiba, 15 de junho de 2024

Fonte: Imagens criadas pelo DALL-E + 3 com prompts de Manoel Augusto Queiroz.

Manoel Augusto Queiroz

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2 comentários em “Nas Areias da Imaginação”

  1. Bom dia aos colegas privilegiados leitores do texto de Manoel Augusto Queiroz.

    Parabéns ao blog e ao autor.
    Aguardaremos a próxima publicação
    De Manoel.

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