Chanucá e Natal

Luzes de Esperança e Renovação

No calendário de 2024, um fenômeno interessante ocorre: Chanucá e Natal coincidem no mesmo dia, oferecendo uma oportunidade única de reflexão sobre duas festividades que, embora distintas em sua origem, compartilham significados profundos de esperança, luz e renovação.

O calendário Judaico e a flexibilidade temporal

O calendário judaico, conhecido como calendário hebraico, é um calendário lunar-solar, o que significa que suas datas se movem em relação ao calendário gregoriano que usamos cotidianamente. Diferentemente do calendário gregoriano, que segue estritamente o ano solar. Então, o calendário hebraico adiciona um mês extra em alguns anos para manter o alinhamento entre as estações e os eventos religiosos. Chanucá, por exemplo, sempre ocorre no mês de Kislev, mas sua data no calendário gregoriano pode variar entre novembro e dezembro. Contudo, esta característica única do calendário judaico permite que as festividades mantenham sua conexão tradicional com ciclos naturais e agrícolas, preservando ao mesmo tempo uma flexibilidade temporal que reflete a rica tradição de adaptação do povo judeu.

Chanucá – o Festival das Luzes

Chanucá, a festa judaica da dedicação, celebra a rededicação do Templo de Jerusalém no século II a.C., após a vitória dos macabeus contra os invasores sírios. A história conta que, quando os judeus retomaram o templo, encontraram apenas um pequeno frasco de azeite ritual – suficiente para um dia, mas que milagrosamente ardeu por oito dias. Por isso, a festa é conhecida como o Festival das Luzes, onde cada noite uma vela adicional é acesa no castiçal de nove braços, o hanucá.

Chanucá e Natal.

Natal – o nascimento de Jesus Cristo

O Natal, por sua vez, celebra o nascimento de Jesus Cristo e traz em sua essência a ideia de luz vinda ao mundo. Na tradição cristã, Jesus é considerado a “luz do mundo”, simbolizando esperança, renovação e redenção. Portanto, as luzes das árvores de Natal, as velas, e as decorações brilhantes representam essa mesma metáfora de luz penetrando a escuridão.

Ambas as celebrações, Chanucá e Natal, compartilham elementos simbólicos fascinantes. A luz em Chanucá representa a resistência cultural, a preservação da fé em tempos difíceis. No Natal, a luz simboliza a chegada da esperança divina em um mundo muitas vezes marcado pela escuridão. Seja no hanucá ou na árvore de Natal, as luzes acesas representam triunfo sobre a escuridão, seja ela física ou metafórica.

O natal

Valores familiares e comunitários em ambas as festas

As duas festas também destacam valores familiares e comunitários. Em Chanucá, as famílias se reúnem para acender as velas, jogar dreidel e compartilhar comidas tradicionais, como latkes (batatas raladas fritas) e sufganiot (rosquinhas recheadas), alimentos fritos, que tem um significado simbólico profundamente ligado à história do milagre da festa.

Por isso, os alimentos fritos em óleo se tornaram uma tradição, simbolizando esse milagre do azeite, não sendo apenas um deleite gastronômico, mas um elemento rico em significado histórico, religioso e cultural.

As frituras representam:

  1. A lembrança do milagre original: Cada mordida em um latke ou sufganiot relembra o milagre do azeite que durou muito além do esperado.
  2. Uma conexão histórica: Os alimentos fritos são uma forma de comemorar a vitória dos macabeus e a preservação da tradição judaica.
  3. Um símbolo de abundância: O óleo em excesso nas frituras simboliza a generosidade divina e a superabundância do milagre.

No Natal, as reuniões familiares, a troca de presentes e as refeições coletivas também são momentos de conexão e afeto.

O simbolismo cultural e religioso

Os alimentos do Natal têm um rico simbolismo cultural e religioso, também,  variando um pouco entre diferentes regiões e tradições. Vou destacar alguns dos mais tradicionais:

Peru/Chester: simboliza fartura e abundância, representa a generosidade e a reunião familiar. Historicamente, era um animal de valor significativo, hoje associado a celebrações especiais.

Rabanada (Fatias Douradas): originalmente criada para aproveitar pão velho, simboliza a transformação e o aproveitamento. As cores douradas representam riqueza e prosperidade.

Bacalhau: muito tradicional em famílias portuguesas e brasileiras, simboliza sacrifício e jejum (ligação com tradições católicas). Representa também a capacidade de adaptação dos povos. E o tão famoso Panetone, de origem italiana, simboliza a mistura de ingredientes, representando união. As frutas cristalizadas simbolizam a diversidade.

A coincidência das datas

Portanto, a coincidência das datas em 2024 nos convida a uma reflexão mais profunda sobre o que essas celebrações realmente significam: resistência, esperança, renovação e a capacidade humana de encontrar luz mesmo nos momentos mais desafiadores.

Mais do que diferenças religiosas, Chanucá e Natal nos lembram de valores universais: a importância da fé, a força da comunidade e a esperança de dias melhores. São celebrações que, em sua essência, nos convidam a acender nossas próprias luzes interiores e compartilhá-las com o mundo.

Sarita Cesana

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