O Maracanã em 1950

Virou um cemitério

Ainda bem que eu nem pensava em nascer. Contudo, o mundo ficou boquiaberto, a imprensa incrédula, o Maracanã em 1950 virou um cemitério, os torcedores dilacerados e agonizando,  deixando a nação em prantos, inconsolada.  Em pleno templo sagrado do futebol mundial, justamente no país do futebol, a super seleção canarinha  do mestre Ziza. Sua arte no gramado mais parecia uma obra de Leonardo da Vinci, ou um discurso do extraordinário e inigualável orador Carlos Lacerda.  Entretanto, o rei Zizinho e seus súditos desabaram diante de um bom time uruguaio, porém muito inferior.

Soluços e choros sem hora pra terminar

Quais as causas desse histórico acidente esportivo? Ninguém diagnosticou.  Todavia, acredito que se lá tivesse uma caixa preta, nada nela ficaria gravado a não ser o soprar de um vento letal, o bater de asas de uma mosca e sobretudo os soluços e os choros que não tinham hora para terminar.

Eu tive a honra de conhecer e beber chope com o genial Zizinho, o camisa 10, lá em Niterói, mas nunca falei no assunto e nem ele. Todavia em uma ocasião quando alguém falou, ele derramando lágrimas disse: “Todos lutaram… diante da fatalidade só me restou pedir desculpas ao meu povo, rezar e pedir a Deus o direito de chorar para eternidade”. Então, todos nós beijamos sua testa e choramos juntos.

O Maracanã em 1950.

O treinador Flávio Costa e as lamentações

Lá no Flamengo todos os sábados tem um bate papo com chope e salgados com ex- jogadores, treinadores, presidentes e sócios do clube. Lá eu conheci Flávio Costa, o treinador da seleção de 1950. Por meu intermédio ele deu a Hélio Câmara uma entrevista histórica para rádio Cabugi. Seu Flávio sempre falava: “Foi uma fatalidade, entretanto  o já ganhou que tanto combati  foi  crucial.

O prefeito Mendes de Morais já queria me levar no Palácio do Catete para fazer a foto oficial com o presidente da república. Bandeiras, faixas, flâmulas, até modinhas tinham gravadas. Nós perdemos no primeiro gol, o silêncio sepulcral causou pânico e eu não podia fazer substituições. O Newton Santos e o Maneca mudariam a história do jogo”. Seu Flávio sempre defendia o nosso goleiro: “Repito as palavras do Castilho que culpar o Barbosa é uma insana crueldade”.  Seu Flávio me falou que passou muitas noites em claro. “Montenegro, não conseguia dormir e quando dormia fica infeliz por ter acordado”.

Aos nossos eternos heróis que jogavam por amor

Caro leitor, eu agradeço ao Flamengo ter convivido com a história que a imprensa em vários idiomas conta para todo o planeta. Muito me emocionei com todos esses personagens. Quando vejo documentários vejo seu Flávio e Zizinho que se chamava Thomaz Soares da Silva, ou Totó, por seus familiares. Vi em minha frente dois patriotas,  afinal o patriotismo é o elo amoroso/sentimental entre o cidadão e a pátria.  Na vitória ou na derrota eles serão nossos eternos heróis. Eles jogavam por amor e não por dólares. Um viva a Barbosa, Augusto, Juvenal, Bauer, Friaça, Danilo, Zizinho, Bigode, Jair Rosa Pinto, Ademir e Chico. Viva Flávio Costa e o Maracanã em 1950!

Cid Montenegro – Desportista e Empresário

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