Limpador de para-brisas

Um prestador de serviço informal

Nesta segunda sexta-feira de junho o nosso poeta arretado do Blog doSaber vem com mais uma de suas inúmeras obras primas, desta vez intitulada “limpador de para-brisas”. Ele fala com muita desenvoltura sobre o dia a dia dos rapazes e moças de famílias de baixa renda que transitam pelas esquinas das avenidas, onde quer que exista um semáforo. No instante em que o sinal está fechado eles entram em ação abordando os motoristas que aguardam o sinal verde para poderem seguir suas jornadas. Essas pobres criaturas fazem parte do mercado de trabalho informal e muitos conseguem sustentar famílias com esse arduo ofício.

Então convido você a ler essa linda e inspiradora poesia “O limpador de para-brisas” tão bem escrita e estruturada pelo nosso autor Leôncio Queiroz.

O limpador de para-brisas.Um prestador de serviço informal.

O dia a dia de o limpador de para-brisas

Neste encontro casual
Estou me apresentando
Sou do bem, não do mal
Estou um serviço prestando

Que dia maravilhoso
Deus, nos aproximou
Sou o extremo da pobreza
Que na rua despontou

Nos encontramos aqui
Por ser um local convergente
Este é meu ponto final
Estou mostrando ser gente
Na vitrine do sinal
Sou um jovem indigente

Como tudo nesta vida
É feito pelos encontros
Estou lhe pedindo socorro
Eu ainda não estou pronto
Preciso do seu apoio
Hoje sou o contraponto

Um pedido de socorro

Minha presença no asfalto
É um pedido de socorro
Não quero ser marginal
Bandido ou criminoso
Vivo no sobressalto
Preciso de proteção
E é a ti que recorro

O serviço do pára-brisas
É somente uma desculpa
Um motivo que inventei
Pra ser útil ao Brasil
Porque, para onde ir, não sei

Alguns, curtos de visão
Não compreendem o meu caso
Mesmo eu, limpando o vidro
Não enxergam meu atraso
Estou gritando, socorro
Antes do meu último passo

Mesmo assim como você,
Tenho pai e tenho mãe,
Só não sei onde estão
Nosso modelo do país
Gerou a separação
Mas, sinto dentro de mim,
Dentro do meu coração,
Que se pegar o bonde certo,
Chegarei na estação.

Humilhado como o cão

Fale com quem tem o poder
Para me levar daqui,
Posso a vida perder
Ser atropelado ali
Por alguns sou maltratado
Humilhado como o cão

Já não basta o que sofro
Vivendo na contra-mão
Reze por mim, peça a Deus
Me incluam na nação

Eu sei que existe a riqueza
Do estudo e do trabalho
Eu sei que existe família
Com amor e com afagos
Daqui de fora eu vejo vocês
Juntinhos e apegados

Quando o farol fica verde
Você sai com rapidez
Sabe onde vai chegar
Com determinação e altivez
Eu fico aqui na poeira
O meu destino eu não sei

Sou o resto da cidade

O que estou precisando apenas,
É de oportunidade
O governo me abandonou
Sou o resto da cidade
Vejo luz no final do túnel
Sei que existe felicidade.

Nasci como todo mundo
Saí de um lugar sagrado
No útero da minha mãe
Era bem alimentado
Quando cheguei aqui fora
Fiquei diferenciado
Não sei quando vou comer
Estou desorientado

Dormir, estudar e brincar
Era pra ser minha ocupação
Aqui é um tempo perdido
Estendendo a minha mão

Peço, faça alguma coisa
Fale com os da ¨caneta¨
Só com uma canetada
Eu saio dessa sarjeta
Vou ser cidadão honrado
Sem medo da baioneta

Quem sabe um dia na vida
Serei gente de verdade
Ganhando e vivendo a vida
Com maior dignidade
Só dependo de você
E dos que são autoridade
A ação fala mais alto
Quando existe boa vontade.

Deus te abençoe

Leôncio Queiroz

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