A poética do que a gente fez

Fim de ano!

O fim do ano está chegando e, novamente, o que a gente fez? Tantas são as expectativas quanto são as frustrações. Pelo que desejávamos ou achávamos que queríamos e que não se pôde realizar. Ambições nossas? Ou dos nossos pais, parceiros e filhos? Ou, de um velho eu, quem sabe?

A gente corre-corre, rala-rala, não dorme. Quase sempre, primeiramente, para agradar a um outro. Ou para cumprir com a palavra. Ou para não ter que se incomodar explicando para o outro o que não deu certo. E se não for pra ser? E se não for o melhor para você?

A crença no hábito

Podemos passar uma vida inteira acreditando que algo está dando certo apenas porque já o executamos por tanto tempo, que nos acostumamos. Nosso corpo se adapta aos movimentos e pensamentos que repetimos ao longo dos anos. Aquela se torna a verdade e possibilidade única. Qualquer coisa fora daquilo é impensável, inassimilável, inexequível, extraterrestre. 

Podemos passar uma vida inteira presos a uma ideia, um ideal, uma crença, uma fantasia. E darmos passos unicamente de encontro a esse cativeiro. Mas a vida parece não desenrolar, simplesmente, não flui. Você se sente nadando contra a maré. Talvez você esteja. De repente, não é pra ser. De repente, não é o melhor para você.

O dar-se conta

Porque, às vezes, o dar certo é não dando. Às vezes, dá certo pelo caminho que sequer cogitamos e onde fomos colocados “por acaso”. Até nos darmos conta de que os passos que demos só poderiam nos levar pelo sentido oposto. Porque tudo ocorre de forma a darmos conta daquilo que entendemos como oferenda. As ofertas da vida são as mesmas para todos, mas como cada um recebe é único. Com atravessamentos reais ou fantasmagóricos, de pessoas e pensamentos.

Enquanto não nos dermos conta, todos os anos parecerão iguais. Todo final de ano, perguntar-nos-emos: e o que a gente fez? Com a eterna sensação de vazio, de nulidade, escassez. 

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