Quais as razões por trás do aumento de peso entre as crianças brasileiras?
Um estudo encomendado pelo Ministério da Saúde mostrou que uma em cada 10 crianças brasileiras de até 5 anos está com o peso acima do ideal. São 7% com sobrepeso e 3% já com obesidade, a dita obesidade infantil. Estudos indicam ainda que um quinto das crianças (18,6%) na mesma faixa etária estão em uma zona de risco de sobrepeso.
Dados estatísticos
No estudo, foram considerados indicadores de 2019, período anterior à pandemia de covid-19. Especialistas acreditam que, durante esse período, os indicadores possam ter piorado ainda mais devido a mudanças na rotina de alimentação, atividade física e consultas médicas.
Os dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde em 2021, estima que 6,4 milhões de crianças têm excesso de peso no Brasil e 3,1 milhões já evoluíram para obesidade infantil.
O estudo identificou uma prevalência maior de excesso de peso entre as crianças menores, de até 23 meses de idade, com 23% delas acima do peso. Os menores de 24 a 35 meses estão em segundo lugar (20,4%), seguidos pelos de 36 a 47 meses (15,8%) e 48 a 59 meses (14,7%).
Crianças com obesidade correm riscos de desenvolverem doenças nas articulações e nos ossos, diabetes, doenças cardíacas e até câncer. Crianças obesas têm ainda mais chances de se tornarem adultos obesos.
As principais razões que explicam o crescimento no sobrepeso e obesidade entre as crianças brasileiras:
Alimentos ultra processados
Segundo os especialistas ouvidos, porém, os maiores responsáveis pelo aumento de peso entre as crianças brasileiras são os alimentos ultra processados. Sucos de caixinha, refrigerantes, biscoitos recheados, salgadinhos e macarrão instantâneo são alguns dos produtos mais consumidos pelos pequenos atualmente.
Segundo estudos o Brasil passa há alguns anos por um processo de mudança no ambiente alimentar. E se antes muitas famílias tinham dificuldade de acesso a alimentos prontos ou industrializados, hoje eles se tornaram mais baratos e disponíveis. Isso contribui para o aumento da obesidade infantil.
A prevalência do consumo de alimentos ultra processados chegou a 93% entre crianças de 24 a 59 meses e 80,5% entre crianças de 6 a 23 meses. Já o consumo de bebidas adoçadas atinge 24,5% dos pequenos entre 6 a 23 meses, 37,7% dos de 18 a 23 meses e 50,3% das crianças de 24 a 59 meses.
Além de muitas vezes terem um custo mais baixo do que os alimentos in natura, os industrializados também são propagandeados na televisão e na internet com um marketing muito específico para os pequenos.
Orientações práticas
“As embalagens são coloridas e com personagens, e nos supermercados os produtos ultra processados costumam ficar nas prateleiras mais baixas, na linha de visão das crianças. Dessa forma é difícil que os pequenos não sintam vontade de experimentar.
Para garantir a melhor alimentação possível, os nutricionistas e pediatras recomendam que os pais sigam as instruções dadas pelo Guia Alimentar para Crianças Brasileiras elaborado pelo Ministério da Saúde.
Há ainda outras opções de cartilhas disponíveis na internet, como o Guia Prático de Alimentação para crianças de 0 a 5 anos elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Podemos incluir também o e-book Lancheira Saudável, da Abeso, que dá ideias saudáveis de lanches para levar para a escola.
Mudanças nos padrões de amamentação
Outro problema identificado pelos especialistas é o não cumprimento do aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade. Sabe-se que é associado à introdução dos industrializados já durante os primeiros meses de vida.
Segundo dados, menos da metade (45,8%) dos bebês menores de 6 meses mamam exclusivamente no peito da mãe.
O leite materno é sempre a melhor opção e, por isso, aconselhamos a amamentação exclusiva até os seis meses e até pelo menos os 2 anos. A partir dos seis meses a introdução alimentar é recomendada, mas deve-se priorizar alimentos naturais e com ampla variedade de nutrientes. Infelizmente isso nem sempre ocorre”.
Por variados motivos, muitas mães não conseguem amamentar e acabam optando pela fórmula. Segundo os especialistas, ela é a melhor opção nesses casos. Entretanto deve ser evitada quando o leite materno estiver disponível e não fizer mal à criança.
Falta de atividade física
Outro componente importante para o aumento nas taxas de sobrepeso e obesidade infantil é a mudança nas atividades dos pequenos. Segundo os especialistas, cada vez mais as crianças têm preferido brincadeiras com pouco ou nenhum movimento.
O estilo de vida das crianças mudou. Atualmente elas passam muito tempo sentadas ou deitadas, assistindo televisão, jogando videogame e navegando no celular ou tablet. Parte do tempo que no passado era usado para brincadeiras que exigiam correr, dançar e pular agora vai para a tecnologia.
A falta de espaço físico para atividades mais dinâmicas também se tornou um problema. “Enquanto algumas famílias vivem em regiões periféricas onde não há parques ou segurança na rua, outras crianças passam o dia trancadas em apartamentos no meio da cidade.
O Ministério da Saúde recomenda pelo menos 3 horas por dia de atividades físicas para crianças de 1 a 5 anos, com variações de intensidade de acordo com a faixa etária.
Influência da família
A cultura familiar é muito importante, pois as crianças consomem os alimentos oferecidos pelos pais e seguem as regras da casa quando se trata de tempo de tela.
Além disso, é durante a infância que muitos dos hábitos alimentares que levamos para toda a vida são formados. E muito do que é aprendido pela criança é absorvido por meio da observação.
É importantíssimo que os pais deem bons exemplos, especialmente até os dois anos de idade, quando o paladar é formado. Oferecer alimentos diversos e em vários formatos e combinações diferentes é sempre uma boa ideia. Organizar refeições em família para que a criança se sinta motivada a comer bem, Também é outra opção.
Pandemia
Os dados não englobam o período da pandemia de Covid-19. Em outras pesquisas realizadas no Brasil e no mundo já foi demonstrado o impacto dos períodos de isolamento no peso de crianças de adolescentes.
Um estudo desenvolvido, mostrou que alguns comportamentos do isolamento estão acarretando ganho de peso nos pequenos. A explicação é simples: a falta de gasto energético nas brincadeiras ao ar livre, na escola e também a suspensão dos exercícios físicos. Quando associados ao maior tempo diante das telas, contribuíram para o problema da obesidade infantil.
Outras pesquisas, indicam que ouve aumento no consumo de doces e congelados, bem como no sedentarismo, por crianças e adolescentes. O percentual de jovens entre 12 e 17 anos que não faziam 60 minutos de atividade física em nenhum dia da semana antes da pandemia era de 20,9%. Agora passou a ser de 43,4%.
Segundo dados os índices vão piorar. Tanto porque a frequência de atividades físicas diminui no período de isolamento, como também por conta da recessão econômica. Esta afeta diretamente a qualidade da alimentação do brasileiro.
O estudo americano mostra um crescimento preocupante na curva de obesidade infantil e de forma geral nos Estados Unidos, e no Brasil não deve ser tão diferente.