Mulheres bem resolvidas e alguns pensamentos

A sexóloga

Cátia Damasceno é fisioterapeuta, especializada em uroginecologia e sexualidade feminina, além de idealizadora do programa Mulheres Bem Resolvidas, uma mentoria personalizada para falar de relacionamento, sexo, amor próprio, dinheiro, saúde, família etc. Para saber mais sobre, acesse o site Mulheres Bem Resolvidas.

Cátia conta que o que a fez despertar para trabalhar a sua autoestima foi uma frase de seu ex-marido, quando ainda era casada com ele: “Eu me casei com uma mulher, não com uma mãe”. Segundo ela, após ganhar o seu primeiro filho, a sua libido sexual teria se transformado numa forma de energia investida puramente na maternidade. 

Essa é a história de Cátia e de tantas outras mulheres que aparecem na clínica psicanalítica, para tratar assuntos outros, mas que, invariavelmente, acabam se deparando com questões da sua própria sexualidade. 

No entanto, o assunto, ora tratado como tabu, ora, como “mulheres bem resolvidas”, pode acabar desencadeando uma onda de euforia reativa, funcionando como uma propaganda que tenta nos convencer a ter coisas que, talvez, sequer precisemos.

O psicanalista e os terapeutas

Wilhelm Reich, um dos discípulos de Freud, apesar de ter sido membro da prestigiada Sociedade Psicanalítica de Viena, teria seguido por uma via alternativa à Psicanálise tradicional. Reich propôs um tratamento não somente através da psique, mas também pelo plano físico (somático). A grosso modo, a teoria é de que a repressão, que, pela psique, converte-se em neurose, fisicamente, traduz-se em tensão muscular, ou nas famosas dores crônicas.

Assim, o tratamento desenvolvido por Reich consistia também em realizar alguns toques e até mesmo espécies de massagem. Ele acreditava que a nossa energia vital, aquilo que nos proporciona uma forma de viver mais livre ou “saudável”, é aquela liberada durante o orgasmo. 

Hoje, discípulos de Reich, como Alexander Lowen, psicoterapeuta norte-americano, defendem a Bioenergética, que consiste na utilização de movimentos corporais para que a energia possa voltar a circular livremente. Daí, originam-se diversas metodologias: Psicologia Corporal, Corpo Terapeuta etc.

Bom, no resumo da ópera, quem conhece percebe que os movimentos usados na bioenergética são muito semelhantes aos da prática da yoga, uma filosofia milenar, cuja atividade, dentre tantos benefícios, ajuda a fortalecer os músculos e a melhorar a flexibilidade. E quando se fala de flexibilidade, também falamos de liberação de tensão. Algumas posições, nunca antes realizadas, podem, inclusive, ter um efeito tão intenso, a ponto de gerar um alívio em forma de riso ou choro. 

Alguns pensamentos

Percebe o quanto as teorias e filosofias têm conexões entre si? O quanto que certos fundamentos se repetem? Talvez, haja um fundo de verdade nisso tudo, certo? E, claro, muitas considerações. 

Sendo assim, a questão que levanto é “o que é ser uma mulher bem resolvida”? É necessário ter uma vida sexual ativa pra isso? Vida sexual é sinônimo de autoestima? A dificuldade para alcançar o orgasmo, chamado pelos especialistas de anorgasmia, trazendo inclusive um prefixo que nos lembra “anormalidade”, deveria representar sempre um problema na vida do sujeito? 

Quando Reich traz à tona a orgonomia, a ciência que estuda a energia orgone, não poderia estar querendo falar de uma energia SIMILAR àquela liberada no orgasmo?

Se o sexo, à principio, existe para reproduzirmos, por que devemos adotá-lo como rotina? Afinal, devemos ou podemos? Se existem outros meios de liberar tensões e fazer circular a energia em nosso corpo, por que o sexo é o principal deles? 

Se a assexualidade é uma orientação sexual, por que o sexo também não pode ser esporádico? Por que um casamento com atividade sexual reduzida não pode ser também saudável? Veja bem, existem diversas questões que nos rodeiam, é verdade, dentre elas desconhecer a nossa própria sexualidade. No entanto, o desinteresse pelo sexo revela necessariamente um desconhecimento ou mesmo um descontentamento?

Parece cansativo ter que se adequar constantemente a tantos modelos, não? A do lar, a feminista, a “empoderada”. E nessa podemos incluir até mesmo os homens. Por que não? O garanhão, o galinha, o protetor, o provedor. Então, trago novamente a questão colocada em A maternidade e as escolhas femininas: de quantas formas é possível ser?

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