Chá de cadeira

Já virou uma tradição

A Coluna POESIAS desta sexta-feira no Blog do Saber trás uma espécie de paródia ao jargão popular “chá de cadeira”. A famosa espera sem fim para ser atendido por alguém, que pode ser um médico, um dentista, um cliente ou um fornecedor. Ou até mesmo um encontro romântico marcado com o(a) paquera e a pessoa lhe deixou esperando por muito tempo ou não apareceu. Neste artigo o poeta Leôncio Queiroz trata com muito humor e leveza essa expressão que exige de quem leva o bolo muita paciência para não perder o rebolado.

Chá de cadeira já virou uma tradição.

Levar um chá de cadeira
Já virou uma tradição
um costume, uma cultura,
Esperar na imensidão;
É o chá da paciência,
É mania em toda a nação.

O sujeito é bem recebido,
As vezes é até engraçado;
Quando entra vê um sorriso
Sorria, você está sendo filmado;
Mas, logo oferecem a cadeira,
Pro sujeito ficar sentado.

Tá tudo na hora marcada,
Reservado com antecedência;
Telefonou antes, pra garantir,
Na mais perfeita decência;
Mas, é tudo faz de conta,
Relaxe, é melhor ter prudência.

Segure sua dor ai dentro, até você ser sorteado

Tanto faz posto de saúde,
Ou no consultório arrumado;
Segure sua dor aí dentro,
Até você ser sorteado;
Pra dor de dente ou de rins,
O chá de cadeira tá preparado.

As vezes no Hospital,
Parece o globo da morte;
O sujeito girando em círculo,
Subindo e descendo forte;
O médico escolhe um,
Que escapará por sorte.

Olhando um pra cara do outro,
Feito um palhaço enfeitado;
O paciente ri e chora;
Na chocadeira é chocado,
Sente vontade de gritar,
Mas, fica encolhido, calado.

O chá de cadeira é assim,
É um senta levanta danado;
Vai lá no banheiro faz xixi;
Olha no espelho o penteado;
Reza uma Ave Maria, um Pai Nosso,
Quer o milagre realizado.

Dá vontade de mandar lá pra ponte que caiu

Quando volta é a mesma coisa,
Ninguém sabe, ninguém viu;
Quando vai ser atendido?
Só quando queimar o pavio,
Dá vontade de mandar;
Lá pra ponte que caiu.

Se for na fila do banco,
A coisa é bem mais pior;
Tem banco que dá cadeira,
Pois sente pena e tem dó;
Mas, tem banco ganancioso,
Fila é surra de cipó.

Se for pra pagar imposto,
A fila é fenomenal;
Quando não tem greve ou feriado,
O funcionário é genial;
Nem sabe que sou seu patrão,
A minha espera é total.

O chá de cadeira quem toma,
Vai ficando acostumado;
Ele se destina ao estresse,
Aquele que chegou apressado;
Acalmou o seu juízo,
Vai ficando alí sentado.

Os últimos serão os primeiros

O político é quem produz,
Chá de cadeira em montão;
Todo dia é romaria,
Sua casa virou um salão;
Eleitor é que é paciente,

Bicho homem é ignorante,
Egoísta e trapaceiro;
Entra e sai pela porta dos fundos,
Pra ninguém saber seu roteiro;
Só não lembra da verdade,
Os últimos serão os primeiros.

Este nome, paciente,
É muito bem empregado;
O sujeito se sujeita,
A dormir em pé ou sentado;
Abre a boca, cochila e ronca,
Até a hora de ser chamado.

Pimenta nos olhosdos outros é refresco

Pimenta nos olhos do outro,
É refresco de maracujá;
Que atende tem obrigação,
No lugar do outro ficar;
Jesus ensinou faz tempo,
O bem que fizeres, receberá.

O chá de cadeira solene,
É o chá que a noiva dá;
400 convidados esperando,
E o noivo lá no altar;
Olha 100 vezes pra porta,
Esperando a noiva chegar.

O melhor chá de cadeira,
É o chá do menino novo;
Nove meses ali sentado,
A barriga é seu tesouro;
Come e bebe do melhor,
Nadando em berço de ouro.

Quem espera sempre alcança,
A esperança nunca morre;
Um dia vou ser bem atendido,
Tomar este chá é um porre;
Nunca farei com ninguém,
Esteja no sul ou no norte.

Leôncio Queiroz

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