A Simplicidade

Um vilarejo de simplicidade

Não era bem uma cidade. Era um vilarejo. Daqueles de beleza e simplicidade imaculada, que a gente só encontra em histórias de contos de fadas, e durante a infância, pois como adultos, é difícil se encantar com alguma coisa.

Os fiordes (as montanhas que, outrora, foram antigas geleiras) derretiam-se como moças apaixonadas diante de seus amores, formando assim, cachoeiras atraentes e rios corredores, apressados, de beleza sem par. Segundo a mitologia local, os fiordes eram antigos trolls, que petrificaram na luz do sol.

É comum ver rostos “impressos” nos gigantes paredões de pedra que formam os fiordes. Vejam essa foto que tirei e me digam nos comentários se dá para ver um rosto:

Quando degelam, o branco da neve se torna num intenso verde, com abundância de flores silvestres nascendo onde não foram plantadas por mãos humanas e sim, pelos pássaros e pelas atarefadas abelhas. Rododendros exuberantes decorando as casinhas de madeira de teto inclinado, para quando a neve chegar, escorrer sem causar problemas, tulipas coloridas, margaridas nascendo em profusão em meio a uma grama repleta de orvalho parecendo pequenos cristais.

Sim, esta é a imagem da Noruega que vou guardar. Nunca tinha visto um país tão lindo por sua simplicidade. Se é que posso chamar de simples, as paisagens que tenho contemplado. Fato é que eles preservam a natureza e a vida simples mais do que qualquer outra coisa.

A simplicidade e a mensagem da cidade de Geiranger

Como estamos passeando pelo interior do país, dá para ver como a população prefere o simples e o básico. Por esse motivo, vivem muito felizes. São considerados como o povo mais feliz do mundo.

Uma das cidades que me encantou foi Geiranger. Na verdade, é mais um vilarejo, pois lá moram apenas 250 pessoas. Quando chega a primavera e verão, ou seja, a alta temporada, os turistas a visitam e esse número chega a 700 mil por ano.

O que os atrai nesse vilarejo é a vida na natureza, pois Geiranger abriga um grande fiorde, o Geirangerfjorden, sendo chamada de “cidade-ninho”pela Unesco. Os fiordes são montanhas gigantes, podendo alcançar 1.700 metros de altura, muito comuns na Noruega, que acredito, foi esculpida por Deus em um grande dia de inspiração.

No entanto, o que me chamou a atenção além de toda essa beleza, foi a simplicidade do vilarejo. Não se vê casas ou edifícios gigantes e luxuosos, mesmo com a economia local indo muito bem. Eles optaram por preservar a simplicidade do lugar.

Há poucos e pequenos café, um minúsculo supermercado, algumas lojas de produtos artesanais, onde é possível encontrar os famosos suéteres noruegueses, as meias feitas com lã, ricamente trabalhadas e cosméticos veganos, orgânicos produzidos sem sacrificar os animais em testes.

Reconhecimento da Unesco.

Eles já vivem no futuro. A cidade foi premiada pela Unesco pelo fiorde e por ser uma cidade limpa, sem poluentes, com carros elétricos e a reciclagem excelente de resíduos.

A nossa guia, tão feliz, a todo momento elogiava o local que viviam. Tudo tão simples e tão especial. As casinhas de madeira e pedra, com janelas decoradas com cortinas de renda, como antigamente e ao lado, pilhas de madeira cortada para a lareira.

 A vida no interior de um país de primeiro mundo, onde a simplicidade e a qualidade de vida são a melhor opção nesse mundo poluído que vivemos. A guia nos falou que há alto índice de pessoas saudáveis, sendo que um médico visita a vila uma vez por semana. O estilo de vida local, como exemplo, as longas caminhadas é um dos fatores para que isso aconteça.

No Brasil, a cidade do interior

Não sei vocês, mas fui criada no interior e esse passeio, me trouxe muito saudosismo de minha terra natal, Lajes.

Houve um tempo que íamos e voltávamos a pé, de nossos compromissos, como a escola, um passeio na pracinha do centro da cidade, a feira do sábado, sem medo da insegurança.

Lembro também de quando ia brincar no quintal da minha avó materna, que parecia um conto de fadas, com um caramanchão enorme de uma flor amarela, que ela chamava de São Francisco (alamanda amarela), um quarador feito de pedrinhas brancas, para colocar a roupa.

Não sei se essa turma jovem sabe o que é isso: quarar a roupa é coloca-la para tomar sol, depois de lavada e ensaboada e com um pouco de anil. As roupas ficavam alvas como a neve na Noruega.

Além disso, também no quintal de minha avó, havia também ervas medicinais e comestíveis como coentro, cebolinha, hortelã da folha pequena e do maior (que adorava mastigar), endro, arruda, manjericão, capim-santo e outras que nem sei o nome. A beleza da simplicidade de seu quintal me encantava. Por isso, guardo as memórias até hoje.

Era a vida simples, mas muito prazerosa que tínhamos em minha cidade.

A modernidade rouba a simplicidade?

Arquitetos diriam que não. Mas nesse mundo louco em que estamos, onde as pessoas preferem ficar numa fila para pegar um café num copo de papel para tirar foto em vez de sentarem num Café e degustá-lo numa xícara, com calma, nos mostra que a sociedade vem mudando.

Não é que “o moderno” seja um problema. Por exemplo, estou escrevendo para vocês do meio do mar norueguês, via internet do satélite Starlink, do mega empresário sul-africano, Elon Musk. Os vikings não tinham como se comunicar há centenas de anos com tal rapidez.

Entretanto, como pessoas sábias, devemos ter um equilíbrio entre o moderno e os costumes ou tradições que nos identificam como sociedade. Devemos saber diferenciar entre o inútil e o essencial e valorizarmos aquilo que representa nossas raízes, como fazem os noruegueses.

Não podemos deixar essa época do consumo, da volatilidade de coisas e serviços roube nossa simplicidade e valores.

Agora me falem de vocês. Quais coisas simples vocês têm mais saudades? Vou adorar ler cada um.

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11 comentários em “A Simplicidade”

  1. Viajei para a Noruega, com as suas lindas palavras.
    A saudade avisou meu coração, lembrado que na casa dos meus avós a garagem era transformada em praia. Meu avô a enchia de areia, como se fosse a areia da praia para podermos brincar. Obrigada pelas lindas palavras.

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    • Belas palavras! Viajei no tempo em que era criança com relatos de algumas passagens do texto. A felicidade mora na simplicidade das coisas. Noruega um país belíssimo e cheio de paisagens encantadoras. Um dia irei visitar e compartilhar essas experiências com você. Obrigada por nos passar de forma tão leve e agradável esse belos momentos 👏💗

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    • Meu Deus! Que coisa maravilhosa! Seu avô era um visionário. Transformar um ambiente dessa forma? Era o amor que ele tinha por vocês. Obrigada também por compartilhar suas memórias comigo e com demais leitores do blog! Um beijos enorme, minha amiga!!!

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  2. Bom dia. Vc nos faz viajar, com suas palavras. Vou lendo e imaginando, como deve ser lindo, essas paisagens, parecem, falar com seus encantos. Sai de um sonho e vai a uma saudade distante, de tempos bons, onde podíamos ser felizes, com tão pouco.

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  3. Belas palavras! Viajei no tempo em que era criança com relatos de algumas passagens do texto. A felicidade mora na simplicidade das coisas. Noruega um país belíssimo e cheio de paisagens encantadoras. Um dia irei visitar e compartilhar essas experiências com você. Obrigada por nos passar de forma tão leve e agradável esse belos momentos 👏💗

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  4. Adoro viajar com você. 🥰
    Não sou do tipo saudosista, costumo curtir o presente, mas se fosse escolher algo seria o tempo em que minha avó (falecida) costumava conseguir reunir a família em em mesa de bingo sempre com pastéis caseiros com massa feita por ela, que aliás eu adorava participar rodando a manivela da máquina manual com dois rolos que prensavam a massa para sair fininha para os pastéis de recheios diversos. Tudo totalmente analógico. Consigo sentir o cheiro e o gosto do pastel crocante da casa da minha avó. ❤️

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  5. Bom demais conhecer lugares mesmo que por uma ótima leitura, nos seus textos sempre bem feitos e detalhados ❤️❤️💐

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  6. Lendo seu conto no dia do abraço (22.05). Fiquei pensando qta simplicidade há nesse gesto e como isso nos faz bem, a quem dá e a quem recebe.
    Obs.: dá sim para ver um rosto na fotografia.

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