GPS

GPS – Sistema de Posicionamento Global

Nesses tempos modernos os GPS se tornaram ferramentas imprescindíveis para nossa locomoção. Ao olharmos para trás, vemos nossos ancestrais desbravando trilhas com facões, abrindo estradas impossíveis e traçando caminhos marcados pela coragem e determinação.

Hoje, satélites nos informam tudo que precisamos em tempo real. Estamos na era da tecnologia e informação, mas não podemos ficar à mercê delas. Pude vivenciar isso claramente essa semana, quando encabeçamos uma aventura pela Toscana e precisamos demais do GPS.

Alugamos um carro (com GPS) em Civitavecchia, uma pequena cidade litorânea da Itália e saímos em direção a uma charmosa cidade da Toscana. Fomos animados com o cenário que, sabíamos, era digno de cartões-postais.

Colocamos o nome da cidade no GPS – Montipulciano – conhecida pela fabricação de vinhos nobres e saímos vislumbrando o céu azul, colinas onduladas, vinhedos a perder de vista. Tudo perfeito, ou pelo menos assim pensávamos, até que o GPS decidiu tomar as rédeas da viagem com um leve toque de rebeldia.

“Vire à esquerda”, ele disse. Obedecemos. “Siga em frente por dois quilômetros.” Seguimos. Trinta minutos depois, já não reconhecíamos mais nada. A rota se desviou. Talvez uma atualização pendente, talvez um simples erro de interpretação entre a máquina e o mundo real. O fato é que, sem perceber, tomamos uma direção que não constava no plano.

A princípio, houve inquietação. Recalculando, dizia a tela. E nós, também, recalculávamos nossos ânimos. Bem, restou-nos uma sensação de que estávamos completamente perdidos. Ainda bem, pois curiosamente, estávamos perdidos de um jeito bom.

Os erros que dão certo.

Foi então que começamos a ver o que não estava previsto: um vilarejo adormecido à sombra de ciprestes, um café antigo onde o tempo parecia escorrer mais devagar, uma senhora que nos vendeu biscotti de amêndoas, de produção local… Ah, aquele cheiro ficará para sempre em nossas recordações. Por fim, a Toscana, que pensávamos conhecer dos cartões-postais, se revelou por trás da rota errada. E ali, no imprevisto, a viagem finalmente começou.

Caminho errado ou wrong way!

Às vezes penso que os caminhos errados não existem. Ou, ao menos, que são os únicos capazes de nos revelar aquilo que a pressa e o planejamento não enxergam. Há uma sabedoria profunda nos desvios, nos erros de GPS que só se aprende quando se está perdido.

Esse episódio me fez pensar em como, muitas vezes, os desvios da vida são os que mais nos transformam. A rota que planejamos pode nos levar com segurança ao destino, mas é nos erros, nos atalhos tortos, nas mudanças de direção inesperadas que as verdadeiras descobertas acontecem.

Quantas vezes planejamos tudo, desde o curso que vamos fazer, se iremos casar ou não, filhos, local para morar e vivemos o amanhã com toda essa certeza. De repente, tudo muda. O inesperado acontece e modifica toda uma realidade.

É uma gravidez não prevista, uma promoção que não veio no tempo certo, o sonho da casa, do carro, do curso que ainda não deu certo, uma perda que nos deixa perdidos, uma viagem que transforma, enfim, um desvio inesperado no que traçamos.

Não importa o que aconteça, o que não podemos mesmo é ficar pelo caminho lamentando. Temos sempre que ter outras opções quando o GPS da vida resolve nos pregar peças.

Erros que pagamos caro.

Claro, nem todo erro é benigno. Lembrei de uma notícia recente: um turista estrangeiro, ao confiar demais no GPS, acabou entrando por engano em uma área perigosa do Rio de Janeiro. Foi baleado. O mesmo tipo de falha que nos ofereceu uma tarde mágica, a ele custou a vida.

E então a pergunta persiste: como saber quando o erro é uma bênção ou uma armadilha?

A resposta talvez não esteja em saber com certeza, mas em como nos preparamos para lidar com o inesperado. Traçar metas é importante. Ter um plano dá conforto, mas é essencial manter um espaço para o imprevisto com olhos abertos e intuição aguçada. A vida não respeita sempre nossos mapas, e, sinceramente, ainda bem.

No fim das contas, não é sobre chegar mais rápido, nem mesmo sobre chegar exatamente onde planejamos. É sobre o que encontramos no caminho, especialmente quando o caminho não era o que planejávamos.

Esse episódio me fez pensar em como, muitas vezes, os desvios da vida são os que mais nos transformam. A rota que planejamos pode nos levar com segurança ao destino, o GPS entendeu diferente.

Com isso, aprendemos que é nos erros, nos atalhos tortos, nas mudanças de direção inesperadas, que as verdadeiras descobertas acontecem.

Afinal, não é o GPS que define a beleza da viagem, mas a maneira como nos deixamos transformar por cada estrada, certa ou errada, que percorremos.

Agora é com vocês: Por acaso da vida, vocês têm algum ou desvio pelo qual você é grato de ter acontecido em sua vida?

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5 comentários em “GPS”

  1. Olá, querida! Como já disse Fernando Pessoa… “navegar é preciso, viver não é preciso”, como você descreve poeticamente em sua bela crônica, a vida não tem precisão, por mais que tentemos, não temos controle sobre tudo que nos acontece. O fato é que alguns lidam melhor com as situações quando saem do previsto e outros não, tornando tudo ainda mais complexo. Claro que algumas vezes esses “erros de GPS” nos colocam em apuros reais, mas boa parte deles nos fornecem oportunidades de enxergarmos por novos ângulos. Esse é o desafio para viver melhor. 😉

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