Antes de tudo, ao lerem essa crônica, não esperem sair com a definição de felicidade. Apenas, vou pincelar o que acho através de situações em que pessoas pensaram que a encontraria. Partindo daí, tentaremos compreender o que é isso que passamos a vida buscando, a tal da felicidade.
Felicidade através de relacionamentos.
Mariazinha era uma moça de família criada sob a proteção e cuidado dos pais. Fora educada para casar e constituir família, como meio de alcançar a felicidade. Uma visão que se tinha, num passado não tão distante. Com tal pensamento, vivia a preparar seu enxoval. Conheceu um rapaz, farmacêutico, que prescrevia e vendia medicamentos na pequena cidade. Um negócio que nunca iria falir, pois doença é algo lucrativo.
Ela tinha tudo que uma moça de sua idade poderia ter, além de ser muito amada pelos pais. Entretanto, não se sentia feliz. Ansiava casar e assim, desfrutar da tão alardeada felicidade conjugal.
O primeiro ano foi maravilhoso, afinal era novidade. Os defeitos, que estavam escondidos como uma casa velha com a pintura nova, aos poucos, foram aparecendo. Ele era agressivo, narcisista e a fez definhar de tristeza. O divórcio veio, mas ela ficou perdida, pois não sabia como ser feliz, uma vez que acreditava que a felicidade estava no casamento.
A felicidade da aparência.
Luíza viu uma famosa influencer usando um lindo cardigã de caxemira, numa daquelas fotos publicitárias, com cafezinho no copo de papelão e um bom filtro que deixava tudo perfeito. Imaginou-se, por um momento, sendo como aquela influencer tão “feliz e realizada” se tivesse um cardigã daquela cor, daquela marca famosa.
Relutante, pegou as economias que estava juntando para consertar a geladeira e comprou um semelhante na loja, online. Recebeu a peça delicada. Vestiu. Fotografou. Todavia, as fotos dela não demonstravam felicidade, afinal, ela morava numa cidade bem quente, onde o frio era raridade. Ali, suas esperanças de felicidade se esvaíram e ela se entristeceu mais ainda, pois ficara com uma cara peça de roupa que não ia usar e a geladeira quebrada, o que aumentava a sensação de calor e de frustração.
A felicidade depositada nos filhos.
Rita sonhava ser mãe. Não seria feliz enquanto isso não acontecesse. Era bem sucedida, tinha um bom marido. Engravidou. Anos passaram e por mais que o amor de mãe fosse incomensurável, o filho cresceu e desviou-se dos caminhos que os pais ensinaram. Envolveu-se com o tráfico de drogas e trouxe a violência para dentro de casa, assassinando o próprio pai, num momento em que este o corrigia.
Agora, em frente ao presídio, Rita aguardava, junto à outras mães e parceiras dos detentos, a vexatória revista para visitar o filho. Aquilo estava longe de ser a felicidade que sempre buscara. Sua vida estava destruída.
A felicidade num objetivo
Ricardo almejava ser juiz. Concluiu o curso de Direito. Casou com uma colega de turma. Focado, estudava dia e noite. Vivia absorto nos códigos e entendimentos jurisprudenciais, que mudam de acordo com a conveniência jurídica. O primeiro filho veio. Deu os primeiros passos, mas ele não viu porque estava fazendo uma prova para a magistratura em outro Estado. O menino aprendeu a falar, foi para a escola. A esposa conduzia a casa sozinha. Estava cansada.
Depois de nove anos tentando, Ricardo foi aprovado, mas não tinha com quem comemorar. Ela, achou por bem viver, então separou-se. O filho, agora um pré-adolescente, quando ficava com ele durante o fim de semana, passava o tempo com fones de ouvido e a cabeça mergulhada em jogos eletrônicos. No dia da posse, Ricardo questionou se era feliz. Triste, preferiu não responder.
O que é felicidade?
Muitos filósofos tentaram explicar a felicidade com bases em estudos ou tendências, o que não vou trazer aqui, pois não é um texto acadêmico. Só precisamos saber que a felicidade, além de ser perseguida diariamente, também quiseram colocá-la dentro de um método, para que assim, todos pudesse consegui-la (algo similar aconteceu no Brasil, quando um ministro queria criar o “ministério da felicidade” para garantir que todos fossem felizes). Meu país me surpreende em criatividade.
Os métodos não deram certo, pois cada filósofo definiu a felicidade de acordo com seu conhecimento e sua visão de mundo, ou no que achava que era virtude ou não. Num mundo deste tamanho, meus amores, chegar a um consenso sobre isso é impossível.
Um falava que a felicidade era rir, outro, que era a função social que o indivíduo exercia, outro defendia que a felicidade era alcançada através da espiritualidade, no foco no ser e não no ter e por aí vai.
É o mesmo que a gente se reunir em um grupo de pessoas e pedir que cada um defina felicidade. Cada um vai ter uma resposta diferente, de acordo com o que lhe faz feliz. O que eu acho sobre a felicidade ou o que me deixa feliz, pode não significar nada pra vocês e vice-versa.
Os minicontos que escrevi acima demonstram que a felicidade é concebida, em primeiro lugar, em nossa mente. É quando imaginamos que podemos ser felizes através de um relacionamento, realizando algo, possuindo um bem ou se tornando alguém (ter uma profissão, sendo pais, virando um político ou celebridade), o que não é verdade.
Por vezes, ignoramos os reais momentos de felicidade, aqueles do dia a dia, por estarmos focados em buscá-la, imaginando que é algo grandioso ou surpreendente.
Tais quais nossos personagens dos minicontos eram, de certa forma, felizes, em suas vidas “simples”, o que alguns filósofos também defendiam como uma das maneiras de alcançá-la.
A felicidade existe?
A felicidade existe. Na minha parca visão de mundo gosto de compará-la a uma brisa, que a gente sente, não pode pegar, mas sabe que existe e que é inconstante, vai e vem.
O bem-estar é um dos pilares da felicidade e podemos nos sentir bem com coisas simples: dançar a música predileta, ouvir a cantoria dos pássaros ao alvorecer ou som do riso de uma criança, dormir numa rede, comer algo que gosta, amar, ser amado, dar uma gargalhada e fazer o bem são exemplos que me ocorreram, mas sei que cada um tem sua forma de se sentir bem e feliz.
Fato é que essas coisas passam despercebidas, pois estamos nessa corrida desenfreada na busca pela realização de um sonho/objetivo, achando que é a felicidade. Com isso, não quero desencorajá-los a buscarem o que almejam. Apenas lhes advirto que apreciem o caminho, desfrutem do processo, sendo felizes também nessa fase.
Infelizmente, nunca teremos uma vida linear, sem problemas, como alguns filósofos defendiam que seria a felicidade. Coisas ocorrem sem o nosso consentimento ou pessoas podem ser perversas e nos machucarem. É da humanidade. Definitivamente, felicidade não é ausência de problemas.
Estado de felicidade.
O estado de felicidade vive conosco, em algum lugar em nosso interior. É o que nos dá paz diante das adversidades. É fácil percebê-lo naquele momento em que você se olha no espelho e se sente feliz com o que vê e não falo da aparência, mas da pessoa que você é/se transformou, do que já superou, da sabedoria que adquiriu, de sua integridade, em ser uma daquelas pessoas que os outros gostam de ter por perto, de ser alguém do bem.
Sentindo-nos dessa maneira, começamos a externar essa felicidade onde estivermos: em casa, no trabalho, com amigos e desconhecidos também. Quem não gosta de gestos de gentileza, quando alguém segura a porta para você ou lhe cede a vez de passar? Pessoas felizes são gentis e pulverizam a felicidade por onde passam.
Por fim, amigos, sejamos sensíveis para sentir a brisa da felicidade quando ela aparecer, e acreditem, ela sempre aparece. Só precisamos estarmos prontos para apreciá-la.
Agora, quero saber de vocês, o que lhes deixam felizes no dia a dia? Vou ler cada comentário com carinho até para conhecer um pouco mais de meus queridos leitores!
Bom dia. Nos dias de hj, felicidades pra mim, é ta em casa, com minha família, aproveitar o momento, pois, não ssbemos o minuto seguinte.
Isso mesmo. A felicidade está mesmo nas coisas simples. É o que penso. Um grande beijo, minha amiga Edilza.
Felicidade é algo que está na nossa essência. É uma sensação de ordem divina , é a gente, pois somos o sal da terra. A alegria precisa de eventos externos, mas a felicidade não, porque ela já existe. Como.pecebê-la:
Na gratidão
No milagre da vida
Na capacidade de ser. No ser e não no ter.
Na natureza
Reserva um tempo para você e perceberás , a FELICIDADE
Obrigada, querida Iracema. Realmente precisamos dar uma pausa para percebermos a felicidade, que se manifesta em milagres diários. Que bom ter você por aqui. Obrigada pela leitura! Beijos.
Gostei da construção do texto usando pequenos contos para ilustrar! Muito bom! 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
Obrigada, minha irmã!!! Beijocas!!!
Eu amo contos pq eles “prendem” nossa atenção. Haha.
Felicidade são momentos… as vezes precisamos encontrar essa “felicidade ” nas pequenas coisas do dia a dia. Para não a tornar algo distante
Obrigada, Gabi. Eu gosto muito de escrever continhos!
É verdade. Precisamos de pausas para perceber os momentos felizes que nos cercam.
Beijos!!!