A luta antimanicomial e as origens do AT

Luta antimanicomial

Se você não conhece uma instituição psiquiátrica ou geriátrica, em algum filme já deve ter visto um paciente com o seu acompanhante enfermeiro, caminhando pelo bosque, jogando cartas ou apreciando uma paisagem, por exemplo.

O acompanhamento terapêutico também costumava ser praticado por Freud, Jung e outros psicanalistas e psicólogos quando visitavam seus pacientes internados. Até hoje, alguns médicos, especialmente psiquiatras, capacitam-se como AT (acompanhantes terapêuticos) no intuito de avaliar esses pacientes fora de um quarto de hospital. Já outros os encaminham para que o avaliem por ele. Afinal, segue a luta antimanicomial.

O movimento antipsiquiátrico se demarcara da psiquiatria organicista incluindo na discussão sobre a loucura seus aspectos psíquicos, sociais e políticos, buscando romper a sinonímia cuidado-exclusão.

O AT é alguém que se faz presente no âmbito social do paciente. Alguém que serve de ponte à socialização. Portanto, indicado para pessoas que, por algum motivo, encontram-se ausentes ou excluídas da sociedade: aqueles que precisaram de um longo período de tratamento, aqueles que sofrem de fobia ou cuja comunidade não está preparada para acolhimento, seja por uma questão moral seja estrutural. Assim, o envelhecimento, as debilidades e as psicoses são exemplos disso.

Comunidades terapêuticas

No Brasil, as comunidades terapêuticas começaram a se formar no final dos anos 1960.

Uma das mais conhecidas no Rio é a clínica Vila Pinheiros onde assim como as experiências europeias, médicos e não médicos, psis e não psis se debruçam na tentativa de aproximação cotidiana com a loucura.

No entanto, com a ditadura militar, deu-se o fim das comunidades terapêuticas e os jovens dedicados a esse trabalho “começam a ser procurados para atendimentos particulares indicados por terapeutas que preferiam esta alternativa à internação psiquiátrica.”. 

Em 1979, um grupo de profissionais multidisciplinar, em São Paulo, funda o Hospital-Dia A CASA, hoje, Instituto A CASA, instituto de desenvolvimento e pesquisa da saúde mental e psicossocial, cujo livro ‘A Rua como Espaço Clínico’, referência das citações deste artigo, é de sua autoria.

Os acompanhantes

O AT deve trabalhar para propiciar ao paciente meios de socializar e de se tornar independente, ou menos dependente, dentro da comunidade em que vive, utilizando-se dos espaços públicos. Trata-se de uma alternativa ou de um complemento às psicoterapias, dependendo do caso. Porque nem sempre o trabalho em consultório é possível. Assim como nem todo paciente é indicado ou suscetível à Psicanálise, podendo entrar como possibilidade abordagens da Psicologia.

As metodologias de trabalho a serem adotadas dependem diretamente do desejo do profissional, do desejo do paciente, bem como de sua estrutura psíquica e emocional. E, muitas vezes, do desejo da família, em vez do paciente. O que deve ser, inclusive, identificado e comunicado ao cliente pelo profissional.

No Brasil, além do Instituto A CASA, existem outros grupos de pessoas investidas em melhorar a qualidade de vida de outras que merecem destaque. Exemplo disso é a Equipe AT, que promove a capacitação de profissionais da área da saúde em hospitais e da educação nas escolas, o encontro de pacientes em atividades sociais e culturais pela cidade de São Paulo, entre outros projetos. Em Porto Alegre, o Clube Social Pertence acolhe pessoas com deficiência em projetos culturais, gastronômicos, de cidadania, saúde e esporte.

O mais importante desse trabalho é a comunicação: todos os envolvidos, psiquiatra, psicoterapeuta/psicanalista, família e AT devem estar alinhados em relação ao tratamento do paciente. E uma pergunta é fundamental: “Como devolver-lhe a voz e reencontrar sua potência de conexão com o social?”.

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