O que ficou pra trás

Retrospectiva ainda em andamento

Início de ano e as expectativas estão a mil. A retrospectiva já ficou para trás. Agora, o negócio é planejar as metas e, quem sabe, começar a executá-las. Certo? Bom, por algum motivo, parece que estou atrasada. Olho para mais um ano que se inicia e penso no que deixei pra trás, no que me motivou a seguir determinado caminho, que me levou a outro, e a mais outro, até chegar ao ponto onde estou hoje, neste dia, primeiro de janeiro de 2024.

Tudo começou quando não me sentia em casa nesse mundo. Não entendendo por que as pessoas me tratavam mal pela minha simples existência. Quando, por exemplo, eu sinalizava que iria estacionar numa vaga cuja metade da área era ocupada por um outro carro ou quando o semáforo esverdeou e eu não avancei para não fechar o cruzamento, obedecendo o que dizia a placa sobre a minha cabeça. “Puta!”, foi o que ouvi do sujeito que estava atrás de mim e que me ultrapassou, fechando o cruzamento ele mesmo. “Está pensando o que?!”, foi o que ouvi da sujeita que ocupava duas vagas de estacionamento. 

Não se tratava de algo que eu havia feito ou dito, mas da minha presença, que parecia sufocar o outro. Talvez, eu representasse a presença de uma ausência para aqueles que precisavam me assujeitar. Bom, mas como diz o Carpe Diem: cada um com seus problemas. Ou não é isso? Enfim, o fato é que eu precisava solucionar o meu: não aceitar que as pessoas me tratassem daquela forma, não aceitar que o lugar que eu chamo de casa seja tão insalubre.

Já não me sinto em casa nesse mundo

Bom, a reflexão persiste ultrapassando os limites de 2023 pois, no penúltimo dia do ano, assisti ao filme original da Netflix e ganhador do US Grand Jury Prize no Sundance Film Festival de 2017, “Já não me sinto em casa nesse mundo”. A protagonista se mostra frustrada e indignada com o desrespeito e o pouco caso das pessoas por seus semelhantes. O filme expõe a barbárie que, mesmo depois de tanto tempo de civilização, ainda domina o ser humano. Desde o passar a perna e o tirar vantagem até a matança.

O que me faz pensar nos governos que privilegiam alguns poucos, que deixam morrer outros tantos, e nos empresários que levam seus empregados ao limite: máximo de trabalho e mínimo de salário. A barbárie que tantas vezes se apresenta de forma tão discreta, quase imperceptível, num adestramento constante, piano piano.

Uma sugestão?

Permita-se, então, não sentir-se em casa. Permita-se indignar-se. Olhe pra trás sempre que achar necessário, não só no final do ano. Volte e lembre-se a que veio.

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