A Amizade.

Sobre a amizade, uma vez li um ditado que ilustrava um calendário de mesa que dizia assim: “Visite os amigos com frequência. O mato cresce depressa em caminhos pouco percorridos” e guardei essa mensagem em meu coração.

Honestamente, tenho enorme facilidade em fazer amizades, mas sem perceber, permito que o mato cresça. A vida, as muitas ocupações urgentes que criamos e a rotina de cada um vai nos afastando. A timidez também, pois nem sempre sabemos quando o outro tem tempo para nós ou disposição em conversar, e, sem querer incomodar, ficamos “na nossa.”

A amizade não tem fronteiras!

Faço muitas amizades durante os cruzeiros em que viajo, com pessoas do mundo inteiro, uma coisa a mais que a língua inglesa proporciona.

Já conheci tanta gente: médicos que estiveram na Segunda Guerra Mundial, professores, um ex-agente do departamento de narcótico dos EUA, que segredou que tinha atuado no Brasil; dancei com escoceses com seus kilts (saias), tive longos papos com artistas, cantores, músicos, mas são com os garçons e garçonetes que estreitamos os laços, pois os vemos todos os dias, por vários meses durante o ano. Alguns, já conhecemos por nome e eles também, sabem até mesmo do que gostamos, como água com gás, por exemplo, e nos recebem como se fôssemos de casa.

Meu marido, sabendo de minha facilidade em fazer amizade, “se aproveita de minha nobreza” e consegue beneficies nos navios, como cafezinhos grátis, mesas sem hora marcada, lagosta extra, etc.

Dewa – uma amiga indonésia.

Há três semanas, conhecemos Dewa, uma jovem muito simpática e simples, que conquistou nossa amizade de imediato, por sua amabilidade. É claro que todos são amáveis, mas há pessoas em que você percebe que é algo natural e não porque o trabalho assim requer.

Dewa, uma indonésia muito solicita, respeitosa e que poderia ser minha filha. Sim, com meus 42 anos, poderia ter tido filhos de 22 anos, a idade que, acho eu, Dewa tem.

Sempre procuro saber um pouco da vida de quem nos atende. Não por curiosidade, mas por experiência própria, pois sei o quão prazeroso é falar de nossa terra, nossos familiares, coisas nossas, quando estamos longe de casa.

Numa noite, meu marido pediu escargots, um prato fixo no menu dos navios, e isso despertou em Dewa lembranças de sua terra natal e de sua avó. Ela disse que a avó era coletora das lesmas, dos escargots nos grandes campos na Indonésia, perto de Bali, onde morava.

Os campos de arroz de Bali

Eu aproveitei a deixa e pedi que contasse um pouco mais sobre sua terra, sua família, o que ela gostava de fazer quando estava em casa. Ela sorriu, feliz em falar um pouco sobre si: Disse que gostava de andar de bicicleta com o sobrinho no bagageiro entre os “terraços de arroz” e descia com ele, logo cedo, rindo atravessando os arrozais e respirava um ar muito puro. Não sei se foram as lembranças, mas ela fez a pausa e respirou o ar, como se estivesse em Bali.

E eu, sem querer, a acompanhei na respiração, pois a maneira que ela falou me fez sentir como se estivesse lá também.

Eu disse a ela que realmente não era fácil estar longe das pessoas, mas a vida é cheia de surpresas. Que ela estava trabalhando para ajudar a família e isso era muito nobre da parte dela, que eles estariam orgulhosos por isso. Depois de seis meses, ela irá vê-los.

Aproveitei que estamos em época de fim de ano e das festas comemorativas e disse: “Aproveite e ligue, mande mensagens para eles.”

 Falei com muito tato, pois sei que a religião deles, o Islamismo, não comemora o Natal e os poucos cristãos que moram lá são proibidos de celebrarem (Coisas de extremistas). Foi então que ela me falou que a mãe não tinha celular, nem internet e, portanto, não teria como se comunicarem.

A tecnologia ajuda a manter os laços.

Por um instante, fiquei sem saber o que dizer, pois na nossa cabeça, dominada pela tecnologia e morando em países que nos impulsiona a nos conectarmos cada vez mais e com inúmeros veículos de comunicação à nossa disposição, não dá para conceber que ainda existem pessoas sem acesso à internet, mas sim, é a realidade de muita gente.

E só pude dizer: “que pena.” Tem momentos que as palavras faltam para nós, escritores.

Queria ajudar Dewa sem que ela se sentisse constrangida, ou “coitadinha”, coisa que ela não era. Imaginem o quanto é difícil para uma jovem sair de casa com a cara e a coragem, num mundo desconhecido, para trabalhar num navio cheio de estranhos, dia e noite. A maneira que tivemos de ajudá-la foi dando generosas gorjetas para que ela pudesse comprar um celular, mesmo que simples, mas que pelo menos, servisse para se comunicar com sua mãe.

Happy Hollydays – Boas Festas aos amigos e familiares

Na última noite, dei-lhe um abraço e desejei “Happy Hollidays.” Se você está num país/local e convive com pessoas de diferentes partes do mundo, é educado falar isso, pois assim, você deseja boas festas, sem desagradar ninguém. Dewa foi mais uma amizade que fiz e desejo preservá-la, como tantas outras.

No nosso ocidente, é Natal. Tempo de reconectarmos com nossos familiares e amigos e celebrar a vida, o amor, a amizade. Como disse nosso ex-presidente (americano), Barack Obama, “você pode!” – Aproveite as facilidades de comunicação e tecnologia que tens em mãos, tire um tempo e ligue, mande mensagens queridas, e se puder, se reúna pessoalmente, com as pessoas importantes de sua vida. Vamos podar um pouco do matinho que surge entre as amizades e também, na família!

Feliz Natal, queridos leitores! Um forte abraço em cada um!

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10 comentários em “A Amizade.”

  1. Ah que linda escrita Veri!
    Você mora no meu coração !❤️
    Deixe de lado a timidez ou qualquer outra coisa pra ligar, aparecer quando quiser ou puder!
    O matinho cresce mas vamos aparando !!!
    Feliz Natal querida Veri e Sérgio!
    Obrigada pelo carinho e amizade!🙌🫶😘

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    • Obrigada, minha querida Paola!
      Você sempre muito atenciosa e carinhosa e sim, também mora aqui no peito, num lindo apartamentinho.
      Sim, não vamos deixar que o matinho cresça em nossa amizade.
      Saudades!
      Feliz Natal para você, as suas garotas, seus netinhos, Jane e toda a família.

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  2. Amei, Veri. O mato cresce depressa, mas o amor nos faz aparar se tempos em tempos, ainda que não seja com uma frequência mais próxima. Boas festasss

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