O catolicismo e a civilização
Às vezes, pode ser muito difícil colocar um sentimento para fora. Especialmente, se você nunca foi incentivado a isso ou se a sua cultura foi construída em torno da religião católica. O catolicismo traz para a história as noções de pecado e de purificação. E cria, portanto, uma sociedade controlada pelo medo: o medo de pecar ou das consequências do pecar. Medo de não ser puro ou de não conseguir se purificar após a prática do pecado.
Assim, nasce uma civilização cercada de regras, barrada em sua liberdade. Não só a liberdade de fazer o que bem se entende, o que dá na telha ou o que sentimos como impulso. Mas a liberdade como um todo. A liberdade do livre pensar, a liberdade de se exprimir. Corta-se o mal pela raiz.
É claro que para que se tenha uma comunidade, é preciso que haja leis. É preciso que algumas das nossas vontades sejam podadas. Caso contrário, o senso do coletivo se desmilingue e nos resta, então, o “Deus por todos e cada um por si”, resta-nos uma comunidade esfacelada, sem unidade, falida.
A angústia, a arte e a coragem
A boa noticia é que a civilização deu um jeito de permitir algumas das nossas descargas emocionais, de forma que soassem mais agradáveis e menos ameaçadoras, o que a Psicanálise conhece por sublimação. Através da arte – a música, a escrita, a pintura, a escultura, a dança, as lutas ou também conhecidas “artes” marciais -, por exemplo, é possível extravasar! Vomitar. Colocar para fora tudo aquilo que se acumula em nosso peito ou na garganta. Uma secreção que não tem textura ou coloração, mas que dói, que angustia.
Assim, surge o Expressionismo no século XX e numa época em que o capitalismo ganha força e as diferenças entre as classes sociais se tornam muito evidentes. A partir daí, aparecem os movimentos sindicais e a arte passa a ser utilizada como instrumento de protesto. Um protesto que tenta calar a angústia do homem dentro de uma civilização, onde predomina o capitalismo. Uma angústia que se dá em torno do reconhecimento daquele que tenta sobreviver diante de alguém que paga e que decide o quanto pagar. Em outras palavras, uma angústia que se dá em torno do dinheiro.
Então, por enquanto, para alguns, é isso que lhes resta: a arte. Para outros, além da arte, resta o discurso. Resta o permitir-se. Um permitir-se que não chega a esfacelar uma comunidade. Resta se permitir explorar, permitir-se ser livre. Mas será que resta suficiente coragem?