A arte do divertimento – Por que se divertir parece tão fácil, mas sentimos como se não fosse?

Uns com tanto, outros com tão pouco

A felicidade está na mão. Basta abrirmos o Instagram e lá estão: rostos sorridentes, declarações de amor, lugares incríveis. “Era tudo o que eu queria: o que eu queria ser, onde eu queria estar”. Pensamos imediatamente. Instagramável. Esse é o termo da vez. “Deixa o celular em formato retrato que é melhor pra postar”. “Faz pose assim, faz pose assado”, “assim vai ficar incrível!”. E a questão é: o que será incrível? A foto ou a percepção que as pessoas terão sobre a foto?

Queremos ir num lugar incrível para curtirmos o lugar ou apenas para postarmos fotos incríveis? O quanto de felicidade, de ansiedade ou de preocupação há numa foto? “E quantos likes vai dar o meu post?”. E quantas checagens fazemos ao longo do dia após uma postagem? É importante sabermos quem olhou, quem curtiu, quem fingiu que curtiu, quem fingiu que não curtiu, quem parece estar morrendo de inveja. Certo?

Origem da inveja

Não adianta negar, a inveja é intrínseca à natureza humana. Desde muito pequeninos, amamos e odiamos. Amamos o seio que aparece para nos alimentar e odiamos o seio que não está mais lá quando precisamos. Amamos a mãe que está lá sempre que precisamos e odiamos aquela que não está ou que nos obriga a fazer coisas que não queremos. Ou aquela que nos sufoca, estando mais presente do que deveria. 

Amamos nossos irmãos que são nossos companheiros e também objetos de amor da nossa mãe, mas, ao mesmo tempo, os odiamos, pois, nos colocam em posições onde não gostaríamos de estar, em especial, aquela que é o centro das atenções dela. Amamos nosso pai que está lá para nos proteger e também é objeto de amor da nossa querida mãe, mas, em contrapartida, o odiamos, pois, ele nos tira do conforto do colo e entendimento materno e também porque temos que dividir a atenção dela com ele.

A mãe ou qualquer outra figura materna é o primeiro objeto de amor na vida de um indivíduo. E como é difícil vê-la com outros! Como é difícil compartilha-la! “Mas ela só pode ser feliz comigo!”. E não é assim que a gente pensa quando se separa de alguém? Por maior que fosse o traste, por mais que você não sentisse nada por ele, a ultima coisa que você quer é vê-lo com outra, certo? Isso também serve para os homens. Certo, homens? Pelo menos, por um tempo, funciona assim.  

O ódio e o desejo do outro

Bom, de um jeito ou de outro, essa é a inveja. Segundo a descrição do Michaelis: ‘Sentimento de ódio, desgosto ou pesar que é provocado pelo bem-estar ou pela prosperidade ou felicidade de outrem’. E ainda: ‘Desejo muito forte de possuir ou desfrutar de algum bem possuído ou desfrutado por outra pessoa’.  

Com a disseminação enérgica da informação, é possível saber de maneira atualizada o que o outro possui ou do que desfruta. São inúmeros estímulos por dia, sejam eles falsos ou verdadeiros. E, no final das contas, pouco importa se é fato ou boato, a gente já nem sabe mais o que realmente deseja. Mas a rede social está ali tão acessível, parece tão fácil ser feliz…

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