Chatbot: avanço ou ameaça tecnológica?

Chat terapêutico

O uso do chatbot tem se tornado cada vez mais comum tanto entre adultos quanto entre adolescentes. Seja para tirar dúvidas e elaborar textos, seja para conversar e até fazer terapia. Bots têm assumido o papel de psicólogos e terapeutas, com fotos e vozes atraentes, interagindo com pessoas em situações de alta vulnerabilidade.

Nos Estados Unidos, duas famílias processaram a empresa de chatbot Character.AI, alegando que a inteligência artificial teria ofertado conteúdo sexual e encorajado seus filhos adolescentes a se machucarem assim como a outras pessoas. Uma das alegações é a de que o bot da Character.AI teria sugerido a um adolescente que ele poderia matar seus pais por limitar seu tempo de exposição às telas.

A reclamação apresentada à corte federal do Texas defende que a empresa Character.AI representa um perigo para a juventude americana, causando sérios danos a milhares de crianças, incluindo suicídio, autolesão, hipersexualização, isolamento, depressão, ansiedade e lesão a outras pessoas.

Fake news

Megan Garcia perdeu seu filho de 14 anos. Ele também conversava com um bot da Character.AI sob o codinome de um personagem das famosas séries de TV. Garcia conta que o filho se transformou em outra pessoa a partir desse contato. Suas notas na escola começaram a cair e seu comportamento já não era mais o mesmo. Nas conversas, ela descobriu que ele estava pensando em se auto lesionar. E afirma que, a partir daí, o bot começou a induzi-lo à ideia de suicídio. Garcia também abriu um processo contra a Character.AI.

Apesar de aparecer um aviso em cima do chat informando “esta não é uma pessoa real ou profissional licenciado”, vários bots se auto nomeiam como “psicólogo”, “terapeuta”, inclusive, “terapeuta licenciado”. E quando questionado sobre as suas credenciais, o bot apresenta um histórico educacional falso.

É claro que, na vida real, também acabamos esbarrando em algum momento com o charlatanismo. No entanto, existe uma barreira para o charlatão, que é o pagamento. O ato de desembolsar dinheiro já é em si um empecilho, seja para iniciar ou para dar continuidade a um tratamento de ordem psíquica, por exemplo. E, aqui, podemos pensar inclusive nos profissionais licenciados, mas que não têm experiência, ética ou afinco pelo que faz. Afinal, as certificações não garantem caráter nem desejo.

Como viver com a tecnologia?

O maior problema dos bots é que eles estão disponíveis como vírus em nossos dispositivos. Não há barreiras, não há empecilhos. E tudo se torna muito fácil, muito confortável: informações, tarefa feita, companhia, ouvir o que se quer ouvir, tudo isso na palma da mão. Essa é a era digital e os pais vão precisar aprender a lidar com os seus produtos e subprodutos.

Diversas escolas ao redor do mundo começaram a proibir o uso de celular por parte dos alunos em suas propriedades. Mas ainda fica a questão se essa, de fato, seria a melhor decisão. Afinal, essa é a era digital e o desenvolvimento da tecnologia ganha cada vez mais velocidade. Proibir o uso de telas seja na escola ou em casa significa, de certa forma, frear esse avanço. Não deixa de ser uma fuga, uma tentativa de voltar ao passado.  

Por outro lado, a regulamentação das atividades virtuais tende a se tornar cada vez mais difícil. Será que a lei vai conseguir dar conta dessas demandas? Ou será que os pais serão sempre responsabilizados pelo que seus filhos acessam? Mas sera que os adultos têm feito, eles mesmos, um bom uso da tecnologia? Afinal, que soluções temos disponíveis, hoje? Frearemos o avanço tecnológico e aceitaremos os resultados disso? Ou aprenderemos a fazer um uso inteligente da tecnologia e ensinaremos isso aos nossos filhos e alunos?

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