Crítica do saber prático: psicanálise é filosofia

Método socrático

Sócrates foi um dos pais da Filosofia ocidental. Conhecido por ser o homem que fazia muitas perguntas, Sócrates afirmava nada saber, procurando incessantemente pela verdade. Ele não dava conselhos, mas punha à prova os valores de seus alunos. As certezas eram, então, questionadas, revelando as falhas de suas lógicas. Qualquer semelhança com a psicanálise não é mera coincidência!

Bom, as longas discussões levavam ambas as partes do diálogo a alcançarem uma melhor compreensão sobre os assuntos, que, em geral, envolviam moralidade e sociedade. 

Platão e Xenofonte se sentiram tão inspirados com a visão de Sócrates, que acabaram criando diálogos fictícios para reproduzir esse processo de discussão desenvolvido por ele. O que, mais tarde, viria a ser conhecido como Método Socrático. Para saber mais, acesse This tool will help improve your critical thinking – Erick Wilberding

Críticas da razão

Mais tarde, Immanuel Kant começa a se questionar sobre limites: até onde é possível o conhecimento humano? Em ‘Crítica da Razão Pura’, Kant restringe o saber ao plano do sensível, ou seja, daquilo que é perceptível, que é palpável. E coloca, assim, a impossibilidade da metafísica enquanto ciência. Em outras palavras: não há como provar coisas que vão além da física.

Apesar da impossibilidade de comprovação, Kant passa a se questionar novamente sobre os limites do saber. Seria o sensível, de fato, o único plano da verdade? Assim, em ‘Crítica da Razão Prática’, ao desenvolver sua teoria sobre a ética, ele resgata objetos metafísicos, como a liberdade, formulando, então, as suas concepções.  

Ainda mais tarde, Georg Wilhelm Friedrich Hegel, em seu ‘Fenomenologia do Espírito’, questiona o peso da ciência, que Kant tanto defendeu em ‘Crítica da Razão Pura’, em face da verdade da natureza, da experiência:

… o que significa para a consciência experimentar-se a si mesma através de sucessivas formas de saber que são assumidas e julgadas por essa forma suprema que chamamos ciência ou filosofia?
O pensamento hegeliano

E Hegel vai além do domínio da ‘Crítica da Razão Prática’, ao propor a “faculdade de julgar” ou a “verdade da certeza de si mesmo”. É quando se introduz a dialética articulada “entre a certeza do sujeito e a verdade do objeto”. 

… um sujeito que é fenômeno para si mesmo ou portador de uma ciência que aparece a si mesma no próprio ato em que faz face ao aparecimento de um objeto no horizonte do seu saber.

Em outras palavras, Hegel diz que os saberes em relação às coisas da vida são construídos a partir da experiência do sujeito, que, por sua vez, encontra-se no mundo físico. Então, apesar da experiência se encontrar na história da mecânica newtoniana, juntamente à ciência, o saber que se produz dela depende da interpretação ou da ligação do sujeito com o mundo, que, então, enquadra-se no movimento da dialética, dentro do campo da metafísica. 

E as origens da psicanálise

Bem mais tarde, no campo da psicanálise, Jacques Lacan se debruça sobre o estudo do discurso, que ele chama de cadeia de significantes, bem como da irrupção do equívoco na língua. Em seu seminário 22 ‘R.S.I.’, ele teoriza sobre o funcionamento da cadeia significante, que seria composta por três registros: o real, o simbólico e o imaginário (RSI), sendo o equívoco uma forma como o real se manifesta.

No entanto, pouco depois, Michel Pêcheux, filósofo e linguista francês, considerado um dos fundadores da análise do discurso, defende que “o objeto da Linguística não existe sem o fato estrutural do equívoco”. Leia mais em “…la onde o amor é tecido de desejo…”: lalangue e a irrupção do equivoco na língua.

Bom, e assim segue a psicanálise, nascida na filosofia, uma ciência que não é ciência porque só gera teorias, e prolongada no campo da linguística, esta sim! Assim é a psicanálise: da ordem de uma metapsicologia, algo que a própria psicologia não consegue explicar. Mas o fato de não se apalpar não implica na inverdade de inexistir, certo? Afinal, todo sofrimento esconde uma verdade baseada na existência, que so poderá ser revelada através do questionamento. Para saber mais sobre, leia também Afinal, o que é essa tal de Psicanálise?.

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