A tal da Black Friday

A Black Friday é aquela sexta onde o comércio entra em promoção ou “finge” que entra para atrair consumidores, convencendo-os a comprar o que não precisa. Em suma, uma estratégia poderosa de marketing e vendas. (Deixo aqui o link para quem quiser saber como tudo começouhttps://mundoeducacao.uol.com.br/curiosidades/black-friday.htm).

Aqui nos Estados Unidos, ainda se honra a palavra, ou seja, é possível encontrar verdadeiros descontos – não sei por quanto tempo, pois tudo está mudando e para pior, no mundo inteiro.

Quando vim residir na Flórida, empolgada com tantas novidades, tive a má ideia de participar ativamente de um dia de Black Friday, do qual me arrependo até hoje.

Congestionamento, filas, cansaço.

A Flórida abriga alguns dos maiores shoppings do país, dentre eles, o Sawgrass Mills, que é um dos que mais vendem e, portanto, parada obrigatória para turistas e amantes das compras. Nele, se encontra as lojas mais conhecidas e queridas com seus outlets, oferecendo produtos mais em conta.

No dia da Black Friday, eu, ainda inocente na vida americana, corri para lá logo cedo, antes de abrirem as portas. Mesmo assim, já havia um enorme congestionamento de carros tentando estacionar. Depois de quase 40 minutos, dando voltas, consegui.

As lojas estavam lotadas. Sim, haviam muitas promoções, mas era quase impossível se movimentar no meio daquele povo todo. As filas eram enormes e mesmo os atendentes sendo ágeis, não davam conta. Desisti de entrar em algumas lojas por causas das filas, que eram assustadoras.

Aproveitei a Black Friday como pude, comprando coisas que não precisava, mas que estavam com preços tentadores. Sentindo-me cansada, por passar o dia inteiro trombando em pessoas cheias de sacolas, resolvi voltar para casa.

Dica: Evite o trânsito no Black Friday, principalmente, perto dos Shoppings

Chegando em Aventura, a cidade vizinha, deparo-me com outro enorme congestionamento. Dessa vez, os carros tentavam entrar em outro grande shopping, que é o Aventura Mall. É onde que costumo ir, por ser perto de casa e também porque é onde fica a Macy’s, uma gigante loja de departamento que possui a maior loja física do mundo, situada em Nova York. Enfim, demorei mais uma hora para pegar a via que acessa a minha cidade. São recordações que carrego da Black Friday.

O crescimento do comércio online depois da pandemia:

Depois da pandemia, é nítido que o comércio online cresceu bastante. A maioria das lojas permaneceu com esse formato de vendas, devido à comodidade. Então, em algumas, a Black Friday online já começou. É possível adquirir bons produtos com preços promocionais, online. Todavia, há determinados itens em que é preciso manusear, sentir e ver a qualidade “in loco”.

Pois bem, como precisava comprar uns pratos redondos (os meus eram quadrados, comprados num ímpeto de modernizar a cozinha), fui com meu marido à Macy’s, com esse intuito. Preferi ir no domingo, evitando, desde já, pisar no shopping até sexta, o dia da Black Friday.

Aproveitei para ver se as roupas de cama estavam em ofertas. Gosto de levar roupas de cama daqui para o Brasil.

Aproximou-se de nós uma atendente muito caricata, aparentando seus 70 anos, com os cabelos coloridos e anelados tal qual as atrizes dos anos 30, olhos e sobrancelhas pintadas. Ela era baixinha e fofinha, mas estava com a aparência cansada. Creio que estava perto de finalizar seu expediente, pois ela chegou, muito apressada, perguntando o que estávamos procurando. De pronto, respondi que era roupa de cama. Ela continuou: “O kit (fronhas, lençol de elástico e lençol de cobrir) ou peças separadas?” “Estamos pesquisando tudo. Não se preocupe, estamos bem.” Ela fez um muxoxo com o a boca, revirou os olhos para cima e jogou os dois pacotes de fronha, que segurava, com desdém. Lembrou-me Zangado, um dos anões de Branca de Neve.

Em busca do prato perfeito e em promoção!

Subimos para o 3º andar em busca dos pratos perfeitos, o que encontrei. Procurei um atendente para separá-los e assim, pagar.

Dessa feita, um senhor, com seus 65 anos, veio ao nosso encontro. Vale salientar que é muito comum, nos EUA, encontrar pessoas da melhor idade trabalhando.  Ele, muito simpático, usava óculos e trazia consigo uns apetrechos, o que me lembrou Mestre, também personagem do filme Branca de Neve e os sete anões.

Comunicativo, falou que os pratos eram excelentes e estavam com os preços da Black Friday e foi embalando-os com tamanho esmero, que prendeu minha atenção. Ele usou vários metros de plástico bolha, dando voltas e acrescentando adesivos. “Isso vai dar um trabalho para retirar”, pensei, mas ele fez um embrulho tão bem feito que nós, e uma outra funcionária, elogiamos bastante.

Por fim, suspirou satisfeito e narrou que tinha embalado de forma semelhante, um conjunto de pratos da Villeroy & Boch (caríssimos. Desses, só tenho um de servir bolo) para um casal, que acabara se acidentando. A mulher ficou com algumas escoriações, mas os pratos permaneceram intactos. Ele falou com certa dramaticidade, como se encerrasse um ato de uma peça teatral. Não teve aplausos, mas recebeu efusivos elogios, que o deixou incontinente de alegria.

Compre com moderação!

Bem, saímos, e bem na porta da Macy’s, onde há um enorme Café, estava Zangado, digo, a intrigante senhora. Com muita façanha, ela desfrutava sozinha de uma mesa com quatro cadeiras, em pleno domingo da semana do Black Friday. Estava sentada com as pernas estiradas noutra cadeira. Tomava seu bom e enorme frapuccino. O semblante havia mudado. Agora, parecia o Feliz.

O Shopping começou a encher e ficar barulhento. Apressamo-nos a sair desta floresta de promoções e apelos comerciais. Por vezes, pensamos sermos nós, os caçadores, mas, na verdade, somos as caças do comércio, ávido em faturar.

Para vocês, uma boa Black Friday e não esqueçam: Comprem com moderação!