Finados – Cemitério de San Juan, Porto Rico, um dos mais lindos que conheço.
Há três dias tivemos um dos mais populares feriados brasileiros, o dia de finados. É um dia de saudades, onde dedicamos nossos pensamentos àquelas pessoas queridas que, como o próprio nome diz, finalizaram sua estadia na terra.
Sobre o dia de finados, trago uma memória: quando criança, eu sentia curiosidade e medo, mas sempre visitava o cemitério da minha pequena cidade. Ia à “casa das almas” (morria de medo desse nome) com minha mãe e irmãos para acender algumas velas não me lembro para quem. Meu irmão mais velho sempre criava histórias sobre aquela casa (na verdade, uma capela) em que as almas penadas saíam durante à noite e assombravam a cidade. Então, eu voltava aterrorizada, mas no ano seguinte estava lá. Quem entende o ser humano?
Finados, como surgiu essa data?
As origens mais antigas sobre o dia dos finados remontam de mais de três mil anos pelos povos Astecas. Depois, a Igreja Católica a incorporou ao calendário romano. Culturalmente, a data existe em diversas religiões com comemorações singulares. Sempre é bom salientar que o que parece estranho para nós é comum e aceitável em outras culturas. Ademais, o mundo é muito grade para o compactarmos somente ao que conhecemos.
No México, por exemplo, no dia de finados, acredita-se que os que partiram voltam para visitar os familiares. Então, costuma-se fazer uma grande festa com comida, danças, música, bolos, doces e muita alegria. É uma maneira de reverenciar os mortos, render-lhes homenagem sob a pena deles desaparecerem no outro mundo.
Como sou tia, adoro assistir filmes infantis com meus sobrinhos e outro dia vi um filme da Disney chamado “Viva – a vida é uma festa” (título no Brasil) e me emocionei com o cuidado que eles retrataram a cultura do dia dos mortos.
No Brasil, dedicamos o dia de finados para visitar os túmulos, fazer nossas preces, levar flores, ir à missa católica e voltarmos saudosos. A bem da verdade, é um momento de pensarmos na finitude da vida.
Os dias de finados em nossas vidas.
Em nossa vida, somos sujeitos a vivenciar o dia de finados em nosso cotidiano – É um amor que não deu certo, uma amizade que murchou como as flores das sepulturas, um trabalho que não nos faz sentir vivos, um curso que morreu, um projeto que deixamos fenecer, dentre outros exemplos.
São tantas coisas finadas em nossa vida! Por vezes, vivenciamos o luto e nos preparamos para seguir sem elas, mas, pode acontecer de ficamos paralisados naquilo que findou e, quando isso acontece, temos dificuldade em prosseguir.
Felizmente, a vida é sempre dinâmica e nos impulsiona a viver, mas quando nos vê agarrados em algo já “finado,” costuma nos bater com força para a gente deixar ir e seguir em frente. Acreditem, já passei por isso.
Coisas findas.
Quando ciclos se encerram é natural termos nosso momento de luto, tentar desacostumar com àquilo que fazia parte de nosso cotidiano.
Sofremos, ficamos com o coração dolorido, tal qual perdemos um ente querido, só que numa escala menor, mas sofremos, afinal somos dotados de sentimentos. Foi assim que Deus nos fez.
Como na vida real, temos a mania de construir pequenas sepulturas dentro de nós para armazenar os remanescentes daquilo que feneceu e as visitamos de vez em quando, como um consolo, não é verdade?
É normal fazer isso, até um dia, quando percebemos que não sentimos mais tanta dor, afinal, vamos mudando, nos fortalecendo como pessoas, tendo a visão de que “foi melhor assim”, pois nossa vida agora é outra e aquelas coisas que morreram não cabem mais nela, não pertencem mais à pessoa que nos tornamos.
Respeito ao que se foi
Devemos ter respeito àqueles que se foram, às pessoas queridas (algo que aprendi logo cedo) e também devemos respeitar o que aconteceu em nossa vida e que é finado. Nada é por acaso, sabemos disso.
É uma maneira de ver as coisas que funciona comigo e passo, de coração aberto, para vocês. Enfim, meus queridos leitores, espero que todos tenham tido um dia tranquilo de paz e recordações.
Agora, me falem, como foi o feriado de vocês? Muitas saudades? Sei que nem todos apreciam esse dia e está tudo bem. É a vida.
Didático e reflexivo. Parabéns !
Oi, querido amigo Pablo!
Obrigada por sua leitura e apoio de sempre.
Um abraço enorme!
Na minha infância tbm ia deixar flores no túmulo dos meus avôs. Hj prefiro ir em qq dia que não seja dia de finados, o local fica lotado. Mas faço minhas orações pelos que hj já não posso mais conviver.
Acho que todos nós frequentávamos os cemitérios no dia de finados. E era um compromisso familiar, de extrema importante para as lembranças, entre choros e velas.
Como Veri fala no texto, “o medo de almas”era presente no imaginário infantil, fosse no escuro ou de dia mesmo. O cemitério estava repleto delas que apareciam mais à noite.
Filha de família numerosa, sempre havia muitos parentes a serem referenciados e “aguardados” na solidão das noites. Com o tempo, fui me acostumando à ideia da finitude e até desejando que os espíritos voltassem para contar sobre o lado de lá. Hoje, alguns enterros no Brasil tem música e discursos de despedida como agradecimento pela vida do falecido. A morte já não assusta tanto.
Minha querida Nora, obrigada por sua leitura e comentário.
É verdade. Vamos “crescendo” e os medos dão lugar a outros ou a nenhum.
E a sociedade mudando, os costumes sendo modificados. É a evolução da humanidade que nunca termina.
Um beijo enorme. Saudades!
Obrigada pela leitura e comentário, Gabi. Realmente, o dia de finados é bem caótico, já que concentra mais gente em espaços onde preferimos maior privacidade para nos reportar às memórias dos nossos que se foram.
Beijos, meu bem!
Como muito bem dito na linda animação que você cita, só morre quem é esquecido.
Penso que isso serve para todas as pessoas que tiveram ou tem algum significado em nossas vidas, de uma forma ou de outra, se mantêm em nós. Nas lembranças. Linda crônica, querida. <3
É verdade, minha querida amiga e escritora.
Sua obra retrata de maneira bem delicada um pouco do tema. Muito obrigada por isso.
Beijos!!!