As flores perdidas de Alice, fulana, beltrana

Panorama

A minissérie da Prime Video, ‘As flores perdidas de Alice Hart’, conta a história de mulheres marcadas pela violência doméstica ou vítimas de atos violentos de algum homem e, até mesmo, de sua própria omissão. A história se dá em torno da personagem Alice Hart, inicialmente criança, que sofre com a brutal agressão do pai. Na idade adulta, descobre-se vítima de uma avó controladora, foge de casa e acaba se envolvendo com Dylan, um homem que apresenta sinais de ciúme delirante. 

É interessante ver como a história se desenrola, como cada personagem feminina foi afetada por presenças ou ausências masculinas em suas vidas, como cada uma contorna os seus traumas. Tudo isso em torno das flores cultivadas na fazenda Thornfield. Flores estas sinônimos de amor, de cuidado. Algo que por muito tempo faltou na vida dessas mulheres.

O silêncio, o abuso, o sofrimento

Os episódios trazem pequenas doses de poesia com a linguagem das flores de Thornfield. E, como em todas as outras línguas, com palavras, por algum motivo, não ditas, mantidas em segredo, perdidas. Como muitas vezes nos mantemos calados diante de algo que nos assusta. Um silêncio emocionante no deserto da Austrália. 

A série mostra semelhanças entre mulheres tão diferentes espalhadas por uma Austrália de paisagens diversas. Semelhanças em torno da posição feminina frente ao homem em uma sociedade que deixa de ser patriarcal, mas que ainda sofre com o abuso de poder masculino. Poder que ainda lhe resta, representado especialmente pela força física. 

‘As flores perdidas de Alice Hart’ também nos faz refletir sobre as decisões que tomamos por outras pessoas. Pois, no fundo, pensamos ter sabedoria suficiente para isso, não nos dando conta que o saber que possuímos é apenas sobre nós mesmos. Baseado em nossa própria experiência, sob o nosso ponto de vista. Então, queremos evitar danos, embora eles sejam inevitáveis. Podem até ser prorrogados ou durar menos tempo do que deveriam. No entanto, o fato é que o sofrimento faz parte das nossas vivências. Relacionar-se é sinônimo de angústia: seja pelo medo da presença seja pelo medo da ausência. Seja por ambas as situações simultaneamente.

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