A nossa colaboradora e cronista Ana Madalena está fazendo muito sucesso, aqui na coluna CRÔNICAS com suas histórias originais e pitorescas, de leitura fácil e gostosa. Mas tenho a impressão que a crônica desta quarta-feira será imbatível, pois “A Madrinha” é uma história que prende o leitor até o fim, uma história criativa e fascinante. Então, lhe convido a fazer esta gostosa leitura.
Tem sempre alguém no mundo tendo o melhor dia de sua vida. Essa frase pipocou na cabeça de Larissa; queria saber se todos teriam esse dia ou se essa alegria era reservada apenas para alguns. Dizia que não fazia sentido viver toda uma vida esperando por essa possibilidade. Pense numa pessoa complicada! A minha vontade era dizer algumas verdades, mas não gosto de passar na cara. É cruel.
Tudo começou há alguns anos. Estávamos no primeiro ano da faculdade e fomos fazer uma pesquisa, num bairro afastado. Sem muito senso de direção, nos perdemos e demos muitas voltas até que o motor do carro começou a fumaçar. Nossa reação imediata foi desligá-lo e sair correndo, imaginando que fosse explodir. Depois de uns minutos percebemos que a fumaça diminuía e finalmente paramos para olhar onde estávamos. A rua, enlameada, tinha poucas casas e as pessoas à porta não pareciam cordiais. Senti que éramos intrusas, mas por sorte vimos uma borracharia e seguimos em busca de ajuda.
O proprietário nos olhou com desprezo; com um palito no canto da boca, apontou a placa e depois os pneus ao redor. Ali não era oficina, respondeu grosseiramente. Nessa hora apareceu um rapaz muito bonito e disse que poderia nos ajudar. Percebi uma troca de olhares entre ele e o borracheiro, mas também entre ele e Lari.
O problema do carro tinha sido a falta de alguma coisa, que esquentara o motor. Aguardamos um pouco enquanto esfriava e pedimos orientação para sairmos dali, local que abrigava uma boca de fumo, como soubemos depois. Ele se ofereceu para deixar-nos no posto de gasolina da “principal”, e enquanto eu dizia que não precisava, Lari toda “derretida” agradecia pela ajuda. Ele sentou no banco do carona, o meu lugar, e eu intrigada, pensei: quem é esse sujeito folgado na fila do pão?
Era Firestônio! Cai na risada pensando ser um chiste. Não era. O pai, o borracheiro, achava esse nome bonito e forte! Que excêntrico, comentei. Para os íntimos era Tônio e pelo que entendi, Lari já era dessa turma. Finalmente chegamos ao posto, quando
vi que trocaram o número de celular.
O namoro deles foi instantâneo. Naquela mesma noite ele foi à casa de Larissa. Estava na cara que ele era um sedutor oportunista e a minha amiga, que sofria de carência crônica, caiu feito um patinho. A resistência da família em relação ao namoro foi enorme, mas ela bateu o pé e os pais resolveram não implicar. Assim como eu, aguardariam o dia que caísse a ficha, coisa que aconteceu uns quatro meses depois, com a notícia da gravidez.
Larissa é dessas pessoas inconstantes; precisa de novidades e adora ir contra a maré. Durante seu namoro com o “nome de pneu” nos afastamos. Ele, assim que soube que ia ser pai, foi logo exigindo casa, comida e roupa lavada, além de uma mesada. A coisa toda foi tão absurda que até Larissa percebeu a situação e terminou o namoro. Aí foi outra confusão, com ele ameaçando tomar o filho e mais uma série de coisas. Muito antes do bebê nascer foi preso por venda de drogas.
Pedrinho nasceu numa quarta feira de cinzas, com pouco mais de sete meses. O parto, prematuro, foi uma loucura. Estávamos caminhando na orla da praia quando a bolsa estourou. Nossa sorte foi ter uma ambulância por perto que nos levou para a maternidade mais próxima. Lari chorou todo o percurso num misto de medo e sabendo que a partir daquele momento sua vida mudaria por completo. Desde esse dia, nunca mais colocou seu “bloco na rua”. E como é amarga, ficou feliz por esse ano não ter carnaval. Ainda bem que essa não é uma história triste, pelo menos para Pedrinho, que é uma criança pra cima, feliz e tem um amor de madrinha, que faz jus ao “cargo”. Eu, claro!