
Parafusos e suas lições
Esses dias, vi um comercial sobre um jogo com parafusos, onde você tocava em um, de determinada cor, e parte da estrutura caía. O objetivo era destruir o todo tocando nos parafusos e assim, as estruturas que tinham diferentes formas como casas, coração, pontes e outras coisas, ruíam. Isso me levou a refletir que, não importa o tamanho da estrutura, ela só existe por causa dos minúsculos parafusos.
Parafusos: pequenos, mas essenciais
Ninguém presta atenção nos parafusos. Estão ali, invisíveis, discretos, escondidos sob camadas de tinta, de concreto, de design. Entretanto, são eles que seguram pontes, sustentam prédios, mantêm as rodas funcionando. Existem em diversos tamanhos e formatos e são imprescindíveis em qualquer construção, mobília, aparelhos, meios de transportes, enfim, em quase tudo.
Se você parar e observar, nesse exato momento, poderá visualizar algum, seja na cadeira em que você está sentado, na mesa de sua casa/ambiente de trabalho, ou em alguma parte no local em que você se encontra. Os engenheiros gostam de escondê-los, mas com certeza, eles estão presentes. Sem eles, tudo desaba.
Os parafusos de nosso dia a dia
Parafusos, porcas, arruelas miúdas — invisíveis aos olhos apressados, mas firmes como promessas bem feitas. Na vida, também é assim. Temos a mania de focar nas grandes estruturas: o diploma na parede, o cargo novo, o relacionamento que deu certo, a casa com varanda, planta e pets felizes.
Ocorre que, se pararmos para observar, por trás disso tudo, o que realmente sustenta a nossa estrutura geral são as pequenas coisas, as delicadezas do cotidiano, que de tão pequenas como os parafusos, muitas vezes, passam despercebidas.
Como exemplo, poderíamos citar o café passado com carinho numa manhã qualquer, aquela mensagem perguntando se chegamos bem, o sorriso que nos recepciona, o abraço sem pressa, a roupa dobrada com cuidado, uma comida que não sacia apenas a fome, mas a alma.
É quando destinamos nosso tempo para ouvir de verdade quando o outro fala — não só ouvir, escutar mesmo. Quando seguramos a mão sem motivo aparente, é mostrar apoio, mesmo à distância (e aqui me incluo, pois moro longe de pessoas queridas e sempre procuro estar perto, de alguma forma). É estar — mesmo sem dizer.
É lembrar de um momento feliz ou guardar silêncio quando o outro precisa respirar ou até mesmo um olhar carinhoso que fala mais que palavras. Essas miudezas, quase imperceptíveis por quem corre demais, são os nossos parafusos sentimentais.
Parafusos sustentam grandes estruturas
Na realidade, a vida em si não é feita dos grandes momentos, de feitos “heroicos,” prêmios, vitórias ou qualquer outra coisa que postamos nas redes sociais ou bradamos por aí. Ela se constrói nos detalhes, no silêncio que acolhe, nos gestos que não fazem barulho, mas que têm o poder de sustentar tudo, que representam nossos parafusos pequeninos, muitas vezes invisíveis, encobertos pela pressa, pelos compromissos inadiáveis, pelo cansaço.
Talvez devêssemos ser mais como os bons engenheiros: valorizar o que não aparece, cuidar das pequenas coisas como quem entende que são elas que impedem que tudo desmonte.
Ser grato funciona como “aquele óleo de máquina Singer” que tenho em casa e ajuda a afastar a ferrugem. Em suma, não devemos descuidar de nossos parafusos emocionais causa grandes danos, por vezes, irreversíveis. Que tenhamos sempre zelo, amor, e sensibilidade com os parafusos de nosso dia a dia.
Por fim, não podemos esquecer que tudo o que vale a pena quase sempre mora nos detalhes como os parafusos da vida que seguram o que temos por dentro, como a fé, a esperança, a vontade de continuar. Sem eles, o que seria de nós, de toda a nossa estrutura? No fim das contas, será sempre um “parafuso” que segura o nosso mundo.
E você, quais são os parafusos importantes em sua vida e que impedem de sua estrutura desmoronar?!
Lendo essa linda crônica, lembrei de uma divertida historinha em que o juízo de uma personagem era segurado por um parafuso, que quando afreouxava ela fazia muitas loucuras. Kkkk.
Que nossos parafusos permaneçam no lugar, nos estruturando!
kkkkk
Sim, minha irmã, nossa imaginação sempre cheia de loucuras.
Amém!!!
Beijocas!
Que texto rico! Esses parafusos da vida são tão preciosos! Precisamos exercitar mais a nossa escuta ativa, humanizar mais as nossas vidas, dar à nossa rotina um sentido mais palpável. Corremos tanto, estamos rodeados de tantas coisas que supostamente nos economizariam tempo e tornariam a nossa vida mais prática, mas hoje estamos sem tempo para simplesmente viver de verdade. Não somos realmente vistos ou escutados e também não vemos as pessoas com seus detalhes, bem como não as escutamos mais. Assim, paulatinamente, vamos perdendo os detalhes da vida e deixando de viver paulatinamente. Está valendo a pena? Desconfio que não.
Oi, minha Lou querida. Amiga e agora, escritora.
É bem verdade. Vamos nos ajustando tanto ao que aparece que esquecemos o que é real.
Excelentes colocações. Obrigada pela leitura.
Beijocas!!!
Por aqui aprendi com meu pequeno o valor dos “parafusos”. Cada pequena conquista, cada terapia, cada beijinhos… tudo importo e enche o dia de significado e amor
Crônica maravilhosa. Nós faz pensar melhor nos “nossos parafusos”, muitas vezes precisando apenas de alguns ajustes, pequenos apertos para seguir na labuta da vida.
Parabéns!!!!
Obrigada, meu querido poeta Ivan!
Fico feliz em ter você por aqui.
Um grande abraço.
Quanta sensibilidade em sua crônica, querida! De fato “não importa o tamanho da estrutura, ela só existe por causa dos minúsculos parafusos.” O todo e a parte. Não existe um sem o outro. Fazem parte da gestalt da vida. Os parafusos que nos mantem de pé podem variar de pessoa para pessoa, mas considero que alguns são comuns, como: o afeto da criação e o aprendizado do cotidiano. Aliás, para evoluirmos, por vezes se faz necessário afrouxar e até mesmo substituir alguns parafusos, não é mesmo? Adorei as reflexões. Abraços, Helenita
Obrigada, minha querida amiga e escritora Helenita!
Os parafusos que você cita são mesmo essenciais.
Sim. Um apertinho aqui, uma graxinha ali.. É a vida e suas maneiras de nos moldar.
Beijos e muito grata em lhe ter por aqui.
Ótimo texto. Respondendo sua pergunta, os ditos parafusos na minha vida são minha perseverança, vontade de aprender algo novo sempre, jamais desistir daquilo que me interessa e principalmente a vontade de viver apesar de algumas condições adversas que a vida me proporcionou, mas apesar dessas condições adversas me tornei um sujeito forte e determinado sustentado por meus “parafusos de titânio”. Agradeço grandemente a querida Veridiana por presentear pessoas com crônicas inevitavelmente todas as terças-feiras é um grande prazer e um banho pra alma lê-las. Muito obrigado.
Obrigada pela sua leitura e comentário, querido Pablo.
Você sabe que lhe admiro demais por sua perseverança em viver, mesmo com seus problemas. Vejo que seus parafusos estão firmes e fortes e que continuem assim.
Um grande abraço de sua amiga,
Veridiana.