Começo citando Nelson Rodrigues, um dos maiores cronistas que conhecemos, quando ele diz que “o amor nada tem a ver com a alegria e nada tem a ver com a felicidade”, para trazer um curioso rompimento e enlace amoroso.
Existe casal perfeito?
Amadeu e Amora era aquele casal que por onde passava causava a admiração de todos; ambos belos, educados, sociáveis, realizados profissionalmente. Eram médicos. Os anos de casamento lhe deram três filhos, de excelentes características, tais quais os pais. Um dia, não se sabe como aconteceu, o casal perfeito se separou.
Ninguém acreditava. Como sempre, os rumores se espalharam: “será que houve traição”, “deve ter sido algo grave” “e aquele amor todo?” Uma pessoa mais próxima comentou que o motivo era porque ele sempre foi muito dedicado ao trabalho, mal parava em casa, deixando uma lacuna, em outras palavras, amava o trabalho. Ela, por mais profissional que fosse, priorizava a família, o crescimento dos filhos. Como agora estavam adultos, tinham se espalhado pelo mundo para estudarem, ela se sentiu só.
As conversas eram muitas e o casal, fino como era, nada justificou. Afinal, era a vida deles, e ninguém tinha nada a ver com isso.
O que não se cogitava era o óbvio, que quando a paixão esfria (e ela sempre esfria) o relacionamento precisa de pilares mais fortes para se sustentar. Talvez o casal não tivesse plantado tais pilares, enfim, não nos interessa, e sim, o que está por vir.
Os amigos de Amadeu cochichavam que ele estava devastado. Amora, sabendo que ele não iria mudar, resolveu viajar, ver um pouco do mundo antes que a velhice e suas impossibilidades a deixasse presa em casa, como a família e o trabalho sempre a deixara.
Amapola
No consultório, que agora era só dele, havia uma “moça velha”, como a gente chama aqui no Nordeste: aquela mulher que por algum motivo, não quis casar, ficou no caritó (uma “solteirona”). A chamaremos de Amapola, como na música de Roberto.
Diziam as más línguas que ela que se achava muito importante para se relacionar com qualquer um. Fato é que ela admirava, desmedidamente, seus patrões e fazia tudo por eles; organizava as consultas, as contas, gerenciava o consultório, e, às vezes, até adentrava na esfera mais pessoal, resolvendo coisas do lar, compras de mantimentos, evento, cuidando até mesmo da agenda das crianças, hoje, adultos. Era aquela pessoa que eles não podiam mais viver sem (ou achavam que não).
Ela, literalmente, não o deixou na mão. Foi ocupando os espaços deixados por Amora, de mansinho, como a noite chegando, depois que o sol vai embora. Tomou a frente de tudo, reorganizou o consultório, a casa, sua rotina, foi tomando um pouco mais de espaço e, em pouco tempo, ocupou também sua cama, sua vida. Ele, creio, de alguma forma, se beneficiou com essas iniciativas, pois foi permitindo essa ocupação do MASA (movimento da Amapola sem amor). Meio que “sem querer querendo”, Amadeu, ainda tentando se reerguer, se deixou acolher por aquela nobre senhorita.
O amor deles chegou como uma brisa furtiva numa noite de verão. Nesse calor insuportável, quem vai fechar a porta?
O amor se apresenta em diferentes formas
Quando estive no consultório, que agora era só dele (Amora se mudara para uma clínica mais moderna), vi Amapola com um semblante diferente. Sabe quando uma criança ganha um brinquedo que há muito tempo queria e, numa data especial, seus pais a decidem presentear? Era assim que Amapola parecia.
Uma pessoa de mente simples, que visualizasse aquele novo casal, num primeiro momento, iria ver que eles não combinavam em nada: o jeito pacato dele, falando sempre baixo e modulado, gastando as palavras “com licença, desculpe, obrigado” a todo instante, em contraste com o jeito expansivo dela se expressar, sua mão de ferro em gerir e até uma certa rudeza quando tratava com funcionários e fornecedores, sempre no intuito de fazer dar certo.
Ele, de alta estatura, nariz afilado. Como vivia alheio a tudo, o tempo não lhe deixara tantas marcas, mesmo estando perto dos sessenta. Ela, baixinha, trazia os sinais do tempo ao longo do rosto, pescoço, e linhas escondidas atrás dos aros grossos dos óculos. E aquele cabelo, ah, aquele cabelo sempre com um tom a mais. Mesmo assim, estava radiante. Estava com o amor de sua vida.
Não existe casal perfeito
Era um casal que destoava em tudo, mas era um casal. E aqui, não nos cabe aprovar ou não, só aceitar que o amor tem dessas peculiaridades.
Percebia-se, levemente, ele um pouco sem jeito, diante dos amigos do antigo casal, mas isso jamais foi problema para ela. Admirei-lhe a desenvoltura em não dar a mínima para isso, afinal, ela estava feliz. Ele também, pelo visto, e era o que realmente importava.
Tomei um gole de meu café, obrigando-me a não os observar tanto. Esse é um dos “males” em ser escritora, observar para se inspirar.
Enfim, era chegado o tempo de desconstruir aquela imagem de casal, de amor, que os livros de romance criaram em nosso imaginário e que as novelas da Globo (nos anos 80) confirmavam.
O amor é uma força da natureza e, como tal, é livre, pode acontecer a qualquer momento e com qualquer um, de diversas formas. Seja de ímpeto, seja de mansinho, o amor sempre será bem-vindo.
E você, já encontrou o amor de sua vida?
Cabe aqui Vinicius de Morais sobre o amor: Que não seja imortal, posto que é chama, mas que que seja infinito enquanto dure.
Isso. Nada melhor que o poeta do amor para abrilhantar nosso entendimento! Beijos!!!
Muito lindo, e verdadeiro.
Obrigada, minha querida!!! Beijos!!!
Depende, muito dos dois, pois, amor perfeito, difícil existir.
Exatamente, querida! Obrigada pela leitura e participação. Beijocas!!!
Depende muito de cada casal, certo que se vivermos em monotonia esfria mesmo, principalmente quando somos mãe ai tudo muda, por isso ñ só nós muheres, como os homens também, tem que fazer com que a relação de certo, sair os dois conversar , muda os hábitos, isso ajuda muito,
Isso, amada. Uma construção que sempre deve ser em conjunto. Obrigada pela leitura! Beijos.
Amor perfeito só o de Deus por nós.
É verdade, meu bem! Essa é puro e verdadeiro! Beijos!!!