Como a homossexualidade se encaixa no Complexo de Édipo?
Por algum tempo, a Psicanálise tratou a homossexualidade como uma espécie de disfunção. Afinal, ser homossexual implicava dizer que se estava, digamos, na contramão do Complexo de Édipo, que acabava se baseando em características consideradas tipicamente femininas ou tipicamente masculinas. Bom, mas isso não deixa de ser verdade, tendo em vista que a ideia do Complexo de Castração foi construída em cima de uma sociedade patriarcal.
Hoje, a Psicanálise olha para esse esquema não mais pensando nos sexos biológicos envolvidos, mas nas personalidades por si sós dos indivíduos que constituem a unidade familiar. O que isso quer dizer? Que mesmo ainda estando dentro de uma sociedade fálica, as coisas já não funcionam mais como um dia funcionaram. O homem e a mulher possuem papéis mais diversificados. E, por isso, existe uma maior gama de opções para a construção das personalidades bem como uma maior tolerância aos diferentes tipos de sentimentos. Isso resulta, portanto, em uma maior variação por identificações, inclusive, de gêneros.
De ponta cabeça
O homem chora e a mulher sustenta a casa. O homem fica apaixonado e a mulher fica poderosa. Os papéis se invertem, descontroem-se, remodelam-se. Para ler mais sobre, acesse também A fragilidade dos sexos na era do empoderamento feminino e das “machosferas”.
A figura materna continua sendo aquela mais importante nas nossas vidas, é aquela dos primeiros encontros das nossas vidas. Mas ela já não necessariamente é mais a mãe. Pode ser um pai, uma avó, um irmão mais velho. Os núcleos familiares já não são mais um homem e uma mulher que geraram a criança necessariamente. Pode ser uma mãe solteira, um pai viúvo, avós com vários netos ao mesmo tempo. Sem falar nos seus mais diversos gêneros.
O que eu quero dizer com tudo isso é que não existe mais um modelo padrão de família e, ainda, que o tradicional já não representa mais a maioria. Com a emancipação das mulheres, o direito ao divórcio, o reconhecimento do casamento gay e da adoção para casais homoafetivos, um mundo de possibilidades invade a casa das famílias convencionais.
Combinação Simples
Na matemática, dentro de Análise Combinatória, estudamos Combinação, que são os subconjuntos formados a partir de um número de elementos que constituem o conjunto em si. Em outras palavras, são todas as combinações possíveis, por exemplo, de dois dados: 1-1, 1-2, 1-3, 1-4, 1-5, 1-6, 2-1 e assim por diante. Dois dados geram 36 possíveis combinações. Quando incluímos mais um dado, esse número sobe para 216. Onde quero chegar?
No século XVIII, as famílias eram usualmente constituídas por uma mãe que se dedicava exclusivamente aos filhos e ao marido, numa posição tipicamente submissa, passiva, enquanto que o homem era o provedor, numa posição ativa e cheia de regalias. As regras eram rígidas e, portanto, limitavam as expressões individuais. Não havia muitas opções de estilos de vida. Na verdade, o destino era predeterminado no nascimento ou na descoberta do sexo do bebê.
A grosso modo, a psique de um sujeito se constitui a partir da combinação das personalidades dos seus responsáveis, tendo como pano de fundo o meio em que ele cresce. Fazendo uma analogia com a matemática, quantas mais pessoas estiverem envolvidas diretamente nessa formação, com as mais diferentes orientações sexuais e nos meios os mais heterogêneos – entrando em questão: lares diferentes, realidades sociais diferentes, acessos facilitados às tecnologias e às oportunidades de carreira -, maior será o número de combinações possíveis. Bom, essa pode ser uma explicação para a evolução do LGBT para o LGBTQIA+.
Jogo de sorte
A Análise Combinatória pode ser também uma justificativa para o fato de não haver uma predeterminação, de não existir uma receita, de aceitarmos que não há como prever que alguém será assim ou assado e que terá preferência por isso ou aquilo. É claro que podemos tentar a Probabilidade e definir que existe um número de casos favoráveis em relação ao total de casos possíveis. Mas é como qualquer jogo de azar. Ou melhor, neste caso, é um jogo de sorte. Afinal, uma coisa é certa: tornamo-nos sempre a melhor versão do que podemos ser.