O caso Menendez e os reborn enquanto opção de existência

Caso Menendez

No ano passado, a Netflix lançou uma série e um documentário inédito sobre dois irmãos que assassinaram brutalmente os seus pais numa mansão de Beverly Hills em 1989. ‘Monstros: A história de Lyle e Erik Menendez’ (Monsters: The Lyle and Erik Menendez Story) e ‘O caso dos irmãos Menendez’ (The Menendez Brothers) tiveram grande repercussão entre as novas gerações, inclusive celebridades, que passaram a pedir pela libertação dos irmãos, entendendo que os 35 anos de prisão, até o momento, já foram mais do que suficientes para lhes dar uma lição. E cá estão eles, novamente no tribunal.

Para quem não conhece o caso, os irmãos planejaram o assassinato dos pais e o executaram com cerca de quinze tiros à queima-roupa, que foi o que mais chocou a promotoria à época: a “frieza” dos jovens Menendez. Logo, apontaram para um caso de psicopatia e determinaram a pena de prisão perpétua, acreditando-se que os irmãos representavam um perigo para a sociedade. No entanto, Lyle e Erik alegaram legítima defesa em função dos anos e anos de abuso sexual que teriam sofrido por parte do pai, e com o consentimento da mãe.

Indiferença ou raiva?

O julgamento se arrastou por seis longos anos, enquanto os irmãos já estavam sob prisão preventiva. Durante esse período, Lyle e Erik fizeram diversos relatos chocantes sobre as suas vivências domésticas, desde os primeiros anos de vida. Inclusive, o seu pai, José Menendez, empresário da indústria de entretenimento, foi apontado como predador em outros casos de abuso sexual.

Sim, os irmãos Menendez eram jovens adultos quando cometeram o crime. Sim, eles poderiam simplesmente ter saído de casa e nunca mais terem voltado a ver os pais. Ou terem denunciado os pais para as autoridades, certo? A maioria de nós fica sem entender o por quê de tamanha brutalidade. Afinal, trata-se de frieza ou de ódio?

Uma educação duvidosa

Se as alegações dos irmãos são verdadeiras, eles são vítimas de uma educação violenta e, portanto, vulneráveis aos predadores e às situações de abuso. Porque a forma como se desenvolveu o ego de um indivíduo nessas condições o torna dependente dos agressores, no caso, dos pais, que, para um filho, representam simbolicamente autoridades máximas.

Compreender e se descolar dessas autoridades é um trabalho extremamente duro, requer uma energia enorme, por mais que exista o sentimento de revolta ou a ira. Enquanto seres racionais, mas ainda com instinto animal, procuramos saídas mais acessíveis, que requeiram menos dispêndio de energia.

O que pode até nos lembrar os pais de bebês reborn, aproveitando que é o assunto mais comentado no momento… Isso porque educar é extremamente difícil, requer muito tempo – que, normalmente, já acreditamos não ter – e energia, muita energia, para bancarmos as transformações às quais estamos susceptíveis, tanto físicas quanto emocionais.

Menendez versus reborn

Os bebês reborn, diferentemente dos “tradicionais”, não vêm com os fatores surpresa: que aparência terá? Vai nascer com alguma doença, deficiência ou disfunção? Vai desenvolver algum transtorno? Tudo fica por conta da imaginação ou do desejo dos pais, que, na verdade, são como todos os pais, no fundo, gostariam de criar os seus filhos. E, inclusive, é como muitos criam: ignorando as necessidades reais das crianças, negando a sua responsabilidade sobre o que elas se tornam e fingindo que têm o controle da situação.  

Ou seja, a diferença é que os pais reborn não precisam negar a sua participação na educação dos filhos, assim como não precisam fingir que têm controle sobre a situação, afinal, de certa forma, eles têm. E é disso que se trata quando falamos de economia de energia psíquica. A criação de fantasias já é uma forma de economia. E, quando essas fantasias se concretizam na psique, os gastos de energia são ainda menores. É o caso tanto dos pais reborn, que definem, por exemplo, que o bebê os ama incondicionalmente, quanto dos irmãos Menendez, que se libertaram da suposta crueldade dos pais de uma maneira mais prática. Afinal, quando se tem ódio de alguém, qual é o primeiro desejo que vem à mente? Acho que eu não preciso responder, né..?

Diante, especialmente, da recente notícia do aumento da violência contra crianças no Brasil – “a maior alta de toda a série histórica” -, fico me questionando se a febre dos reborn não poderia acabar tendo um papel de utilidade pública… Será que pessoas, que querem tanto ter o controle de tudo, como supostamente foi José Menendez, não deveriam de fato, ser orientadas a criarem bebês reborn ou robôs, em vez de crianças de pele, osso e emoções? Quem sabe teríamos menos doenças, transtornos e até crimes..?

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