
Sensores: eles estão por toda parte.
Essa semana, quando saía de casa para comprar mantimentos, apertei a ignição do carro e os seus muitos sensores ativaram, parecendo uma boate cheia de luzes. Eles mostravam o nível de combustível, do óleo, a pressão dos pneus, se os faróis estavam no modo automático e tantas outras coisas que não entendo muito bem.
Mesmo que eu esteja habituada a ver essa dança de luzes, dessa vez fiquei imaginando o quanto a tecnologia evoluiu e que simples sensores funcionam como olhos e ouvidos, nos dizendo tudo sobre um ser inanimado, seja um veículo, um aparelho eletrônico que temos em casa ou que usamos diariamente como nossos celulares.
Fui saindo de ré e os sensores começaram com seus “bips” me dizendo, através de um gráfico exibido nas imagens das câmeras, que seu eu continuasse bateria numa Ferrari. Apenas. Imagine o prejuízo em pagar um arranhão em uma máquina daquelas!
Independentemente dos sensores dispararem, asseguro-lhes, eu não bateria, pois aprendi a dirigir numa Parati bem velhinha com marchas manuais e um retrovisor menor que meu espelho de fazer as sobrancelhas. Era tudo que eu tinha para me ajudar nas manobras. Sorri lembrando disso. Agradeci mentalmente pelos sensores, à tanta tecnologia disponível que facilitam nossas vidas, mas também nos deixam mal-acostumados.
O que são sensores?
Segundo o Google, que agora substitui os dicionários, sensores são dispositivos que detectam estímulos físicos, químicos ou biológicos e os transformam em sinais. Existem sensores em quase toda parte, como na óptica, eletricidade, sons, química, mecânica dentre tantas outras áreas e temos contato com eles diariamente, principalmente através dos aparelhos celulares com suas multifunções. Em síntese, eles fazem parte de nossa vida.
Nós, seres humanos, também somos dotados de sensores, distribuídos pelos sentidos dos quais os mais conhecidos são visão, audição, tato, olfato e paladar que nos ajudam a viver/sobreviver.
No dia a dia, os usamos de forma automática, por isso não percebemos tanto. Por exemplo, quando paramos para tomar um café, sem pressa, podemos ouvir o barulho do café sendo despejado na xícara e ver se a xícara está limpa ou não. Se não estiver, a experiência termina ali mesmo.
Se, ao tomar o primeiro gole, eu perceber que o café está frio, não conseguiria tomar mais. Pode estar o maior calor do mundo, café, para mim, só presta quente. Aqui nos EUA, os americanos têm uma história de cold coffee (café gelado), mas eu não gosto.
O que quero dizer é que usamos nossos sentidos a todo momento. Estes, por sua vez, ativam nossos sensores que atuam nos “dizendo” o que devemos ou não fazer em situações complexas ou simples, como tomar uma xícara de café.
E os sensores em nossas relações interpessoais, será que os temos?
A vida nos leva a interagir com diferentes pessoas em diferentes contextos: em família, com amigos, no trabalho, na comunidade ou em grupos sociais e nessas relações, acabamos encontrando com todo tipo de gente.
Nossos sensores, invisíveis e muitas vezes falhos, nos acompanham em cada interação que temos. Creio que é o que chamamos de intuição ou sensores da alma. Eles “apitam” quando alguma coisa não encaixa.
Isso acontece, por exemplo, quando conhecemos alguém e, ainda que sorria, algo no jeito dela incomoda. Pode ser o tom de voz, a risada fora de hora ou um certo exagero no elogio. O sensor apita baixinho, só um “bip” tímido, mas seguimos em frente. E ele insiste. Bip – bip – bip. Se continuarmos ignorando, vem a colisão.
As colisões da vida:
Quantas vezes não ignoramos os alertas? Demos segundas chances a quem não merecia nem a primeira. Justificamos atitudes que, no fundo, sabíamos erradas. Disfarçamos o desconforto com simpatia. Só que o sensor, esse teimoso, não se cala. Às vezes fica anos apitando em silêncio, até que um dia a vida freia de repente e compreendemos que deveríamos ter escutado o sinal lá atrás.
Também é verdade que nossos sensores são calibrados pelas experiências. Quem já foi enganado demais, tem sensor supersensível, que apita até com gente boa. Quem ainda não sofreu muito, às vezes anda com o alarme desligado e se machuca mais.
Esses dias, li a seguinte frase numa rede social “ás vezes, a gente mesmo sabendo que vai bater, acelera,” e imaginei que isso só poderia ter sido escrito por alguém muito jovem. Deixo, sem pedir, um conselho de quem tem os sensores calibrados e ainda comete erros: Não façam isso! Às vezes, quando não é fatal, uma colisão deixa sequelas irreversíveis.
Por fim, meus amores, talvez a sabedoria esteja em aprender a ouvir nossos sensores internos com maior apuro, mas sem paranoia. Confiar no instinto, sem deixar que ele vire um radar enlouquecido, porque viver também é isso: calibrar, ajustar os sensores para não perder o que é bom, de uma forma que evitemos nos machucar.
E, se o alarme soar, mesmo que baixo, é bom dar uma olhada. Às vezes, é só um fio solto. Outras, é o destino dizendo: “Cuidado, tem algo aí que não parece, mas pode doer.” Afinal, ninguém quer colidir com os muros da decepção só porque não quis ouvir um “bip” da intuição.
Agora me contem: os sensores de vocês andam desligados, calibrados ou paranoicos?
O meu é paranoico com certeza, qualquer sinal, tou em alerta
Tema muito instigante, querida. De fato nossa intuição funciona com sensores que dão alertas. Por vezes não ouvimos e nos arrependemos. 🙂 Por outro lado, viver também é correr alguns riscos. A maturidade nos ensina a calculá-los com um pouco mais de precisão. 😉 Como praticamente tudo na vida, a questão aqui está no equilíbrio.