As bruxas da Escócia
Na Escócia, quase 800 anos antes de Cristo, um castelo foi erguido sobre um vulcão para abrigar nove irmãs, dentre elas, a famosa bruxa Morgana, irmã do lendário Rei Arthur. Morgana era discípula do mago Merlin e considerada uma das mais poderosas bruxas do mundo. A conhecemos desde crianças, quando líamos os contos de fadas e história de magia.
Convém salientar que, nas terras celtas (como a Escócia) as divindades eram femininas. Quando os romanos chegaram, “do nada,” colocaram a religião celta como coisa “do demônio” e assim, as perseguições iniciaram.
O castelo que vos falo fica em Edimburgo e se mantém desde sua fundação, mesmo tendo passado por inúmeras reformas, serviu como forte para a defesa da Escócia e também, como palco de horrores.
O lindo pátio de pedras cuidadosamente colocadas, uma após a outra, e que hoje recebe milhares de turistas parecendo ervas-daninhas espalhadas por todos os lugares, foi o local onde muitas mulheres foram torturadas, flageladas, queimadas vivas, assassinadas sob a alegação de serem bruxas.
A caça às bruxas?
Escócia, século XVI – O Rei James, filho da única rainha escocesa, a Rainha Mary ( morta pela prima, Elizabeth I), iniciou uma caça às bruxas quando voltou da Noruega. Ele, que não era muito dado às mulheres, mas precisava de herdeiros, se deslocou para a Noruega para pegar sua noiva, Ana da Dinamarca, de apenas 14 anos.
No caminho, aconteceu uma tempestade e encheram a cabeça do rei que fora uma bruxa que a tinha causado. Para quê? Foi o estopim!
James já havia se munido de ideias sobre o combate às bruxas, pois estava acontecendo na Noruega. Ao chegar à Escócia, em menos de nada escreveu um livro intitulado “Demonologia” e colocou como parte do estudo da Teologia (o estudo das religiões).
Tal livro inspirou o escritor Shakespeare a escrever Macbeth. James ficou obcecado com essas histórias de bruxas, tanto que pessoalmente supervisionava as mulheres sendo torturadas durante os interrogatórios.
O que é uma bruxa?
As mulheres eram consideradas bruxas por qualquer atitude que achassem inadequada aos padrões de moralidade e religiosidade da época, ou, por algum conhecimento a mais. Outro motivo era por vingança e a velha misoginia que não sai de moda, pois está nos noticiários todos os dias.
O conhecimento das bruxas, geralmente, se relacionava à ervas ou curas através de terapias holísticas, o cuidado e dom da percepção que temos. Em tese, somos todas bruxas.
Outro dia comentava com minha irmã, Vitória, que resolveu dar continuidade ao mangalho de ervas, plantas medicinais, que papai comercializava. Eu disse “Irmã, se a caça às bruxas fosse nos dias de hoje, você seria condenada, queimada da fogueira”. Rimos, mas era a realidade daquela época tenebrosa.
Ademais o desconhecimento sempre levou pessoas a agirem sem sabedoria. Por exemplo, o alegavam ser ”bruxaria” decorria de práticas religiosas como a imposição de mãos, (o Heikki, como chamam), as benzedeiras com galhinhos de plantas (que estão sumindo de nossa cultura), ou do conhecimento da natureza como as “poções” caseiras que nossas avós faziam, que chamamos de lambedor e garrafadas, dentre outras coisas simples.
Podemos também citar as terapias holísticas, massagens, florais, cromoterapia… inclusive há spas cheios dessas atividades. Também convém falar sobre a ioga, a meditação, as preces, as orações, as rezas, etc. Enfim, formas de nos conectarmos conosco, com Deus, com o universo, com o que nos faz bem.
Mas era tudo bruxaria!
Achando pouco, ainda nos acusavam as mulheres de manter relações com o próprio demônio para adquirir poderes. Os homens e suas mentes criativas…
Nessa loucura, mais cem mil pessoas foram executadas, sendo a maioria mulheres. Há relatos de que homens homoafetivos também era considerados “bruxos” e, quando descobertos, eram executados. Mesmo que eles pudessem argumentar, a vergonha em relação à família era maior. Então, eles preferiam morrer a admitir a homoafetividade.
Ainda existem bruxas ?
Ser mulher sempre foi desafiante e, espero que as novas gerações, contemplem um mundo melhor para se viver.
Hoje, não nos chamam mais de bruxas, mas de outros xingamentos (como put@s, v@gabundas, etc.). Não nos queimam nas fogueiras, mas nos execram em casa, na sociedade, nas redes sociais. Ainda nos calam, agridem e quando não é suficiente, nos matam com o que tiverem nas mãos. Não precisam mais de fogueiras.
Em 2022, precisamente, dia 08 de março, a Escócia apresentou um pedido oficial de desculpas à todas as mulheres que foram mortas (às “bruxas), apenas por serem mulheres.
É tempo de nós “bruxas,” nos unirmos para salvar umas às outras, ou morreremos todas. Onde você vir uma “bruxa” sendo maltratada, interfira, apoie, ajude, cuide.
O mundo precisa de nós, de nosso toque, nossa sabedoria, nossa conexão com a natureza e de dons que são só nossos.
Mais uma linda crônica! Parabéns!
Obrigada, minha querida irmã. Beijos!
“Em 2022, precisamente, dia 08 de março, a Escócia apresentou um pedido oficial de desculpas à todas as mulheres que foram mortas (às “bruxas), apenas por serem mulheres.” (Cito crônica)
Data significativa, dia das mulheres no Brasil.
“Mexeu com uma, mexeu com todas.” 👏
🤝
Obrigada pela leitura e pelo apoio, minha querida amiga e escritora, Helenita.
Ë verdade. Precisamos sempre estarmos unidas para que tais barbaridades não aconteçam mais.
Beijos!!!
Adorei!
Obrigada, querida Anara. Escrevi mesmo para nós, mulheres!
Parabéns pela linda Crônica; Aí de nós homens se não existissem as ” Bruxas ‘…
Os homens em sua maioria são ignorantes, machistase invejosos; Não querem aceitar que as Mulheres são mais inteligentes do que eles, por pura cegueira.
Há duas semanas Eu dialogando com uma Poetisa da Paraíba, afirmei na frente do Esposo dela que: As mulheres são mais inteligentes que os Homens.
Obrigada, meu querido amigo Aldo! Infelizmente, existem homens assim. Vamos pedir sabedoria a Deus para que todos possamos viver em paz e harmonia, pois fomos criados para isso. Sem agressões, rivalidade, sem intrigas. Um grande abraço, meu amigo!
Talvez não tenha mudado tanto de lá para hj. Não somos bruxas, mas somos tantas outras qualificações que nos inferiorizam.