Ecoansiedade: formas de pensar a morte
De acordo com um artigo da BBC publicado esta semana, “as buscas na internet relacionadas à “ansiedade climática” o assunto do momento, aumentaram dramaticamente (…) Só em português, o aumento foi de 73 vezes nos primeiros dez meses deste ano comparado a igual período em 2017. (…) As consultas no Google pelo termo também subiram em outros idiomas, como inglês (27 vezes) e mandarim (8,5 vezes), na mesma base de comparação.”
Com a formação dos ciclones extratropicais, gerando tempestades no sul do Brasil, e a intensificação do El Niño, potencializando as ondas de calor no Centro-Oeste, Sudeste e parte do Nordeste, as novidades vão se acumulando e as “imprevisões” do que há por vir, do incerto, do desconhecido, vão dando forma ao horror. Dai o porquê de “ansiedade climática” o assunto do momento ser o título deste artigo.
A ideia de apocalipse, de morte, de fim da história, da nossa história costuma ser aquilo que mais nos apavora. Aquilo cuja borda, muitas vezes, é onde desejamos estar para nos sentirmos vivos. Por mais contraditório que possa parecer. Talvez, por ser a única certeza que temos em vida. Afinal, tão perto, tão longe.
A tecnologia, à medida que nos traz informações em tempo real, traz também a morte: as suas notícias e previsões. Basta sentirmos uma pontada no coração e já estamos procurando no site de pesquisa pelas possíveis causas. Pelos possíveis diagnósticos e sentenças: “É câncer! Vou morrer!”
Questões para reflexão
Às vezes, é como se estivéssemos procurando pela má notícia… Para nos sentirmos mais vivos? Para fingirmos que estamos preparados? Ou porque vemos ali uma oportunidade de nos redimirmos da culpa que sentimos, através da dor, do sacrifício ou da boa ação? Não sei, mas quanto menos sozinhos estivermos, melhor, não?! Que tal pagarmos os pecados juntos?
As mudanças climáticas são fato. Mas o que, de fato, sabemos sobre elas? E o que, de fato, podemos fazer para “reverter o quadro”, supondo que haja um quadro passível de reversão?
O conhecimento e a verdade
Para aquele que desconhece, qualquer verdade é possível. Não que seja possível saber de todas as coisas. Mas, às vezes, é preciso reconhecer que não se sabe. Ou pode ficar extremamente difícil sustentar os cenários imaginários. Reconhecer que nem tudo está sob o nosso controle e que tudo bem fazermos a nossa parte em prol de algo ou alguém e não vermos o resultado esperado.
As identificações que construímos ao longo de nossas vidas são fundamentais para termos um ponto de partida. Afinal, a gente precisa começar de algum lugar, certo? No entanto, quando, das identificações, formam-se as idealizações, cria-se um ambiente fértil para a alienação. Quanto mais cenários imaginários arquitetamos, maior a sensação de controle, mas menor é a nossa real participação em nossas próprias vidas.
E quanto de vida você ainda anseia viver? Porque, às vezes, é preciso simplesmente se deixar ir. Eu sei, parece contraditório…