
Esses dias, passeando por Natal, vi novamente os mesmos “cadáveres” de prédios inacabados espalhados pela cidade. Obras paradas devido à crise econômica que o país enfrenta. Imagino que muitos que compraram apartamentos na planta tenham deixado de pagar as parcelas, e assim a construção não avançou.
São os percalços das construções: mesmo com planejamento, com uma planta elaborada por um engenheiro que detalha tudo o que será necessário, muitas vezes a obra esbarra na falta de recursos.
Gosto de ver plantas de construções. Para mim, parecem sonhos desenhados em gráficos preto e branco.
Os “puxadinhos” x engenharia
Ao mesmo tempo, lembrei de mamãe, que adorava fazer um puxadinho em nossa casa, em Lajes. O quintal era enorme e, acredito, na cabeça dela, ele poderia ser todo preenchido com seus projetos mirabolantes que acabavam sendo bem executados: um quarto para meu irmão, outra cozinha, uma lavanderia, um quartinho para o despejo de coisas inúteis, mas que queríramos manter e um espaço para os gatos. Ela desenhava aquela casa como uma colcha de retalhos. E foi nesse retalho de paredes e afeto que fomos muito felizes.
Fica, então, uma dúvida em minha cabeça: devemos fazer uma planta requintada, que talvez nunca saia do papel, ou apostar em puxadinhos simples, mas que saem do chão e não causam danos a ninguém?
O improviso ou o planejamento?
Na vida, também nos deparamos com essa questão: devemos planejar tudo ou ir vivendo conforme as circunstâncias se apresentam? É saudável ter planejamento, mas é preciso coragem para tomar outras direções quando as coisas não saem como imaginávamos.
Às vezes, nossos sonhos se assemelham àqueles edifícios abandonados. Ainda assim, é possível retomá-los. O primeiro passo é perguntar a nós mesmos se ainda vale a pena investir no que ficou para trás, afinal, nós mudamos, e os sonhos mudam conosco.
Além disso, nem sempre temos os recursos ou a estrutura de grandes empresas, com plantas detalhadas, engenheiros e arquitetos acompanhando cada passo. Nas cidades do interior, de onde venho, não havia engenheiros, mas sim mestres de obra qualificados, cuja certificação vinha da experiência.
O que quero dizer é que, muitas vezes, precisamos nos virar com o que temos em mãos. Não adianta parar apenas porque as condições ideais não estão presentes, desde que, claro, isso não traga riscos para ninguém. Trazendo o exemplo da casa dos meus pais em Lajes: nunca tivemos problemas.
A vida muda os planos!
Como um enorme edifício abandonado na orla de Natal, que teve sua obra embargada e parece um fanstasma escuro de mofo constrastando com os verdes mares potiguares, também nós somos surpreendidos por reviravoltas que mudam nossos projetos.
Nesse caso, é preciso maturidade para se adaptar: construir, reconstruir, planejar, mudar a planta, ajustar-se ao que a vida nos oferece nesse longo processo que é edificar a nós mesmos.
E você: prefere seguir uma planta bem elaborada ou, se necessário, fazer uns puxadinhos na vida?
As vezes, precisamos de reconstruir nossas vidas
Gosto de planejar, não sou da turma do “deixa a vida me levar”, mas também não me prendo frente a necessidade de mudanças no rumo. A vida não segue em trilhos estáticos, segue em trilhas que vão se formando ao logo da jornada. Então, um planejamento com espaço para improvisos (ou “puxadinhos”) é interessante. 😉